sexta-feira, 29 de março de 2013

CAMILO CASTELO BRANCO

                                                                                    © 2013 Marcio Rovere Sandoval


Anverso do specimen da cédula de 500 escudos (P.138) datada de 13.1.1925 (176 X 107 mm). No medalhão temos o escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890), embaixo à direita vista da cidade do Porto. Cédula impressa pela empresa Waterlow & Sons de Londres. Em 04 de abril de 1933 decidiu-se pela sua não emissão devido ao caso “Angola e Metrópole” que envolveu o Banco de Portugal, Artur Virgílio Alves dos Reis e a firma impressora inglesa Waterlow & Sons

Abaixo transcrevemos um texto de Camilo Castelo Branco que faz parte de Eusébio Macário – História Natural e Social de Uma Família nos Tempos dos Cabrais de 1879. Trata-se de uma obra em que Camilo parodia correntes literárias do Realismo e, especialmente, da sua variante, o Naturalismo.” (wikipedia)


A morte do lobo

(...)
            Uma noite de Novembro, caía neve e os aspectos do céu, profundamente frio, tinham umas estrelas trémulas, lucilantes, e um luar álgido que dava às concavidades nevadas a claridade nítida duns lagos de prata fundida.
            O padre vestia polainas de saragoça assertoadas, tamancos ferrados e suspensos nas fortes presilhas das polainas, jaqueta de peles e uma carapuça alentejana, escarlate, que lhe abafava as orelhas. Debaixo da lapela da véstia, resguardava a escorva da clavina, e caminhava curvado, com as mãos nas algibeiras e os olhos vigilantes nas gargantas dos serros.  Uivos longínquos de lobo ouviam-se e punham-lhe vibrações na espinha e um terror grande naquela imensa corda de serras, onde ele, àquela hora, se considerava o único ente exposto a ser comido pelas feras esfomeadas.
            Pulava-lhe o coração. Ao trepar a um outeiro, entaliscado de rochedos que pareciam resvalar de encontro a ele, ouviu o uivo ali perto, para lá da espinha do serro. Tirou a clavina do sovaco e, lívido, com a sensação estranha do fígado despegado, meteu o dedo tremente, automático, no gatilho. Fez um acto de contrição: provava quanto as religiões são importantes, urgentes, nas crises, nos conflitos sérios do homem com o lobo. Esperou. A fera assomara na lomba do outeiro, recortando-se esbatida no horizonte branco com uma negrura imóvel, sinistra: parecia um bronze, um emblema de sepulcro.
            Ela quedou-se por largo espaço num aspecto de admiração, de surpresa. Depois, descaiu sobre as patas traseiras, com ares contemplativos de uma pacatez fleumática. Mediam trinta passos entre a fera e o frade. Estava ao alcance da bala o lobo; mas o frade, caçador astuto, manhoso, receava perder um dos tiros. Pôs-lhe a pontaria com um gesto de espalhafato; dava gritos como quem açula cães:
             Boca! Pega! Cerca! Aí vai lobo!
            Ecos respondiam e a fera, menos versada na física dos sons reflexos, olhava crespa, espavorida, para o lado em que percutiam os brados. Ergueu-se e desceu, mui de passo, com uns vagares irónicos, com a cauda de rojo e o dorso eriçado, a ladeira da colina.
            O padre via-a negrejar na linha flexuosa do declive. Pensou retroceder, mas o lugarejo de Felícia estava mais perto que a sua aldeia e, para aquele lado, latiam cães dum faro que adivinha o lobo antes de lhe ouvir o uivo e o fariscam pela inquietação das reses nos currais. Trepou afoito ao teso do outeiro. Ganhara ânimo: bebera uns tragos de aguardente duma cabaça atada com o polvorinho no correão.
            Sentiu-se capaz de afrontar o rebelde, se ele o não respeitasse como rei da criação, segundo afirmativas de teólogos que nunca viram lobo. Do topo olhou para baixo: não o avistou. Carcavava-se um algar emaranhado de bravio espesso onde se embrenhara.
            Estugando o passo, ganhou uma chã ladeada de extensas leiras de feno, alvejantes como um estendal de lençóis; e, quando olhava para trás, receoso, viu a alimária, a grandes passos, com a cabeça alta, a atravessar a leira da esquerda, parecendo querer cortar-lhe o passo na extrema do caminho que entestava com a aldeia.
            O padre agachou-se, coseu-se com o valo de urze e giestas que formavam o tapume das terras cultivadas, e, muito derreado, arquejando com o dedo no gatilho e a fecharia rente da barba, caminhou paralelo com o lobo, que o farejava de focinho anelante e as orelhas fitas; e, assim que a fera passou de perfil em frente do tapigo, o rei da criação, que o era pelo direito do bacamarte, despediu-lhe a primeira bala, com a destra pontaria de quem havia já matado águias com zagalotes.
            O lobo, varado pela espádua até ao coração, decaiu sobre um dos quadris, escabujou em roncos frementes, espargindo flocos de neve, ergueu-se ainda, inteiriçado numa grande agonia, e morreu.


CAMILO CASTELO BRANCO




Adaptação, tradução e comentários – Marcio R. Sandoval

© 2013 Marcio R. Sandoval 


segunda-feira, 25 de março de 2013

DE LA RUE – 90 ANOS DA CONSTITUIÇÃO COMO EMPRESA PRIVADA (1896-1986)

                                                                                     © 2013 Marcio Rovere Sandoval


Folha (*) comemorativa dos 90 anos de constituição da sociedade britânica Thomas de La Rue (atual De La Rue) como empresa privada (1896-1986). Dimensões : 140 x 215 mm. (clique para ampliar)

(*) Na forma de um “ensaio ou prova de cor”

Algumas datas importantes na historia da Sociedade DeLa Rue:

1813 – data aproximada da constituição da empresa em Guernsey, com o nome de L`Imprimerie de T. de la Rue.
1816 – transferência da empresa para Londres.
1830 – começa a imprimir cartas de jogar e para alguns o inicio da empresa.
1845 – inventa a primeira máquina de produzir envelopes.
1860 – imprime cédulas bancarias para as Ilhas Mauricio.
1896 – data da constituição como empresa privada.
1921 – suas ações passam a ser cotadas na bolsa.
1940 – boa parte de suas instalações são destruídas por bombardeios aéreos.
1942 – constrói um abrigo subterrâneo no oeste da Inglaterra para continuar sua produção.
1958 – muda de denominação, passa a se chamar De La Rue Companhia Limitada.
1961 – adquire uma rival de longa data, a Waterlow& Sons.
1965 – constitui uma joint venture (co-empresa) com sede em Lausanne na Suíça, chamada De La Rue Giori, especializada na produção de maquinas de impressão de cédulas. A co-empresa KBA-GIORI adquiriu a totalidade desta empresa em 2001, vindo a mudar seu nome para KBA-NotaSys SA em 2011.
1986 – adquire Bradbury Wilkinson & Co.
1991 – muda novamente de denominação, agora passa a se chamar De La Rue plc.

Obs.: Para o Brasil, a Thomas de La Rue forneceu cédulas para o Tesouro Nacional de 1948 a 1969 e fez as primeiras 500 séries da estampa A e as séries de reposição de 00001* a 00022*, da cédula de Cr$ 100,00, lançada em circulação em 1970. Em 1957 a Thomas de La Rue organizou uma sociedade anônima brasileira sob a razão social de Thomas de La Rue S/A – Industrias Gráficas. Esta sociedade foi vendida a American BankNote (ABnote)  em 1993. Em 2010 a ABnote deixou de ser o principal acionista da companhia, passando esta a se chamar Valid.

Veja mais sobre este assunto:
- Thomas de la Rue – Vídeo 1960.


Autor: Marcio R. Sandoval
E-mail: sterlingnumismatic@hotmail.com


 © 2013 Marcio R. Sandoval