sexta-feira, 18 de maio de 2018

Série Francesa


O Meio Circulante[1] no início do Século XX e a “Série Francesa”

                                                                                                     © 2017 Marcio R. Sandoval[2]


Figura 1 – Anverso da cédula de 5 mil-réis da 10ª estampa (1904-1921), 170 mm x 82 mm, letras A-F, séries 1ª a 20ª?[3] (P.19; R090). À esquerda temos uma mulher sentada de perfil (Alegoria da República). As cédulas foram impressas em papel filigranado; temos ao centro, em uma faixa, 5000 REIS e, no canto superior direito, as letras RB entrelaçadas. Impressão: Banco da França (BdF). Concepção e desenho: Georges Duval; Gravura: Émile Crosbie.

Introdução

                        Nos primeiros anos do Século XX, o Governo brasileiro tentou diversificar o fornecimento de papel-moeda mandando imprimir suas cédulas na Inglaterra e na França e, posteriormente, na Itália.
                        Para situar as emissões da chamada “Série Francesa”, faremos uma pequena retrospectiva sobre as cédulas emitidas pelo Tesouro Nacional[4], desde 1827, quando assumiu a responsabilidade pelas emissões do Governo.
                        Com exceção das primeiras emissões do Tesouro Nacional (cédulas para o recolhimento das moedas de cobre) em 1828, todas as demais cédulas foram impressas no exterior. Foram apenas duas empresas que se ocuparam desse trabalho no período Imperial, a saber: a Perkins, Bacon & Petch (PB&P[5]) inglesa (de 1835 a 1869) e a American Bank Note Company de Nova York (ABNCo.), desde 1870.
                        Até 1869, apenas a empresa inglesa imprimia as cédulas para o Tesouro Nacional, sendo que todas as estampas eram unifaciais, seguindo o que se fazia na Inglaterra com as cédulas da libra esterlina. Assim, de 1835 até 1869, as cédulas vinham de Londres.
                        Em 1870, a ABNCo. começou a fornecer as cédulas para o Brasil. Os motivos da mudança foram vários. O que podemos notar é que as novas cédulas eram mais modernas e uniformes, bifaciais, impressas em maior número de cores e motivos e, acreditamos, bem mais seguras em relação às falsificações.
                        A ABNCo. possuía o que havia de melhor em matéria de cédulas bancárias[6], sendo que, naquela época, havia muito pouca concorrência nessa área. Dos concorrentes sérios, podemos mencionar apenas a Wartelow & Sons Limited de Londres (W&S).[7] Havia outras impressoras como a Bradbury Wilkinson & Company Limited (BWC)[8], a Thomas de La Rue (TDLR)[9], a Giesecke Devrient (G&D)[10], a Joh. Enschede en Zonen (JEZ)[11] e ainda o Banque de France (BdF), que imprimia as cédulas da França e das Colônias e eventualmente para outros países, como veremos.
                        De 1869 até 1899, o Tesouro Nacional fez encomendas regulares à ABNCo. de todos os valores. Depois dessa data, o fornecimento pela empresa continuou, ou seja, as estampas que haviam sido realizadas continuaram a ser entregues, mas percebemos que houve uma espécie de “moratória” em relação à encomenda de novas estampas, isto até 1907. Nesse período, o Tesouro Nacional ensaiou com outras empresas o fornecimento de cédulas. Os motivos? Como veremos, os altos preços praticados pelo fornecedor americano.
                        Ensaiou-se, assim, com a BWC, em 1899/1900 a impressão de oito novas estampas. Nesse mesmo sentido, em 1901, recorreu-se ao Banco da França para a impressão de diversos valores, como veremos detalhadamente. Além da impressão de cédulas, contratou-se com a França o envio de uma máquina impressora de papel-moeda, da mesma marca utilizada pelo Banco da França, e ainda, o enviou de técnicos para operá-la e para “ensinar” o seu funcionamento aos técnicos da Casa da Moeda.
                        De 1903 a 1908, foram impressas 17 estampas, sendo que 8 foram impressas pelo próprio Banco da França (BdF) em Paris e 7 foram impressas no Brasil, pela CMRJ, com material e técnicos vindos da França e outras 2 foram adaptadas das cédulas impressas na França, pela CMRJ, através de superimpressão, para as primeiras emissões da Caixa de Conversão.
                        Para finalizarmos esta retrospectiva e passarmos à análise das cédulas da “Série Francesa”, temos que a partir de 1914 até 1918, o Tesouro Nacional também encomendou à Cartiere P. Milani (CPM), na Itália, a impressão de 6 estampas. A longo termo, todas essas tentativas não lograram êxito[12]. Analisaremos aqui apenas a impressão da “série francesa”.

A “Série Francesa”


Figura 2 – Anverso da cédula de 10 mil-réis da 9ª estampa (1903-1922), 198 mm X 90 mm, letras A-D, séries 1ª a 7ª?[13] (P.31; R102). À direita, temos uma mulher sentada (Alegoria da República) ao lado de um menino (Alegoria do Comércio). As cédulas foram impressas em papel filigranado; temos ao centro, em uma faixa, 10000 REIS e, no canto superior esquerdo, uma mulher de perfil (Alegoria da República). A Impressão foi realizada pelo Banco da França (BdF). Concepção e desenho: Georges Duval; Gravura: Jules Huyot. (imagem cedida pelo Museu de Valores do Banco Central).


                        Na obra de Julius Meili, “O Meio Circulante no Brasil - Parte III, A Moeda Fiduciária no Brasil”, cuja 1ª edição data de 1903, na “lista final”, que trata do “papel-moeda legalmente em circulação no fim de dezembro de 1900[14]”, temos:

“Ultimamente o Governo mandou fabricar umas notas em Paris. As primeiras, de 10$000 da 9ª estampa foram emitidas no Rio de Janeiro em 1° de dezembro de 1903. São artisticamente desenhadas por Georges Duval, cujo nome trazem, e diferem muito de todas as que circularam até agora no Brasil”. (op. cit. p. 128) (grifo nosso)[15]

                        Podemos notar vários detalhes interessantes nessa informação, entre eles, que as cédulas de 10$000 réis da 9ª estampa haviam sido emitidas em 1° de dezembro de 1903[16]; que haviam sido desenhadas por Georges Duval e que diferiam muito das outras que circulavam no país[17].
                        Para efeito de comparação dos textos, em 1962, Antonio Pimentel Winz, que era conservador do Museu Histórico Nacional, na matéria intitulada “Iconografia do Rio de Janeiro segundo a Coleção Fiduciária existente no Museu Histórico Nacional”, publicada nos Anais do Museu Histórico Nacional, Vol. X, 1949 (publicado em 1959), p.81-262, teceu comentários acerca das paisagens do Rio de Janeiro constante no anverso da cédula de 5$000 réis (P.19; R090), veja figura 1, temos:


“Cara de Cão, Pão de Açúcar e Urca (Fig.III)
5$ - Tesouro Nacional (República) - 11ª estampa – Série 2ª – Letra E - N° 000,872 – Impresso em Paris e desenhado por Georges Duval. Também chamada Série Francesa.” (op. cit. p. 91) (grifo nosso)


                        Assim, temos cédulas impressas em Paris e desenhadas por Georges Duval e denominadas da “Série Francesa”.
                        Ainda em 1965, no livro “Cédulas Brasileiras da República, Emissões do Tesouro Nacional”, uma edição do Banco do Brasil, cujo organizador foi F. dos Santos Trigueiros, temos em relação à cédula de 10$000 réis da 9ª estampa:


“Ano de emissão: 1903; Perdeu o valor em 1922; Fabricante: Georges Duval Inv. et Del. Jules Huyot Sculp. (op. cit. p. 39).


                        Nesta última, por equívoco, o desenhista virou fabricante. Assim, tudo o que se escreveu posteriormente traz como fabricante Georges Duval, contanto até com abreviações “GD”, “GDEC” e outras ainda, deixando entender que se trata de uma empresa.
                        Não satisfeito com essas informações, como sempre, pesquisamos...
                        Como veremos, não existe a empresa Georges Duval, eis que ele era um desenhista que realizou diversos trabalhos para o Banco da França. Os outros dois, Émile Crosbie e Jules Huyot, eram gravadores, e também realizaram diversos trabalhos no mesmo período para o Banco da França, no final do Século XIX e início do Século XX.

                        Assim, nas margens das cédulas da “Série Francesa” aparecem dois nomes seguidos de abreviações latinas, quais sejam: Georges Duval INV & DEL e Émile Crosbie SC ou Georges Duval INV & DEL e jules huyot sculp.[18] Ainda foi empregada a abreviação FEC. Abreviações como essa foram utilizadas em diversas cédulas impressas pelo Banco da França, no século XIX e até os anos 30/40 do Século XX, para indicar a autoria dos trabalhos.
                        Significado destas abreviações:
                        INV.: do latim “invenit”, o artista que inventou, ou seja, o criador do motivo do desenho.
                        DEL.: do latim “delineavit”, aquele que desenhou.
                        SC ou SCULP.: do latim “sculpsit”, aquele que esculpiu, no caso aquele que gravou a placa de impressão[19].
                        FEC.: do latim “fecit”, aquele que fez, abreviação utilizada para designar aquele que inventou (INV.) e desenhou (DEL.). Esta abreviação é recorrente nas cédulas francesas e nas demais cédulas impressas pelo Banco da França para outros países, inclusive para o Brasil.
                        O Banco da França se diferia dos demais impressores da época, por colocar o nome dos artistas e não o da empresa na margem das cédulas. Vejamos:



Figura 3 – De cima para baixo, temos: as marcas das empresas impressoras: Perkins Bacon & Co. London...; American Bank Note Company e Bradbury Winkinson & Co. Ld..., marcas estas constantes nas margens das cédulas e que correspondem às empresas impressoras de papel-moeda para o Tesouro Nacional, desde o Império até o início do Século XX. A quarta e última, traz o nome daquele que concebeu e criou o desenho (GEO_ DUVAL – INV. et FEC) e o nome daquele que realizou a gravação da placa (EMILE CROSBIE – SC.), típico das cédulas impressas pelo Banco da França, no Século XIX e início do Século XX.


Figura 4 – Reverso da cédula de 25 francos (P.8) ND 1920-44, de Guadalupe. Impressor: Banco da França (BdF). Na margem, podemos ver os mesmos artistas das cédulas brasileiras, qual sejam, Georges Duval – INV. E DEL[20] (concepção e desenho) e Emile Crosbie SC (gravador). Nota-se que o motivo central que contém as letras RF (República Francesa) entrelaçadas é semelhante ao da cédula brasileira (figura 2) em que temos RB (República do Brasil).

                        Como não encontramos, na atualidade, referências explícitas no que concerne ao impressor dessas cédulas, dedicamos um espaço maior a este tema, mesmo porque ele acaba por incluir as demais informações sobre o assunto.
                        Como quem procura acha, encontramos a resposta à questão sobre o impressor, bem como a muitas outras, nos Relatórios do Ministério da Fazenda, aos quais passamos a nos referir.


Os Relatórios do Ministério da Fazenda (1901-1909)

                        Nos relatórios do Ministério da Fazenda referentes ao ano de 1901[21], publicado em 1902, o então Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho (1898-1902) relatou ao então Presidente da República Campos Sales (1898-1902):
“No relatório do ano de 1900 vos expus os motivos que me demoveram a mandar fabricar na Europa, não só as estampilhas destinadas ao imposto do selo e ao de consumo, que eram aqui fabricadas, mas também as próprias notas do Tesouro.
Efetivamente, à vista das propostas que para esse fim me foram apresentadas pelo Diretor da Sociedade Anônima, que gira em Londres sob a firma Bradbury, Wilkinson & Comp., Limited, e que, devidamente examinadas sob todas as suas faces, foram consideradas garantidoras dos interesses do Tesouro, tanto no que diz respeito à perfeição com que deve ser executada a parte gráfica desse trabalho, ao papel e às tintas a empregar, como ao seu custo, que é muito menor do que o da fabricação nos Estados Unidos da América do Norte e das estampilhas nas oficinas da Casa da Moeda desta Capital, resolvi contratar com a mencionada firma o fornecimento, que está sendo feito regularmente.

(...)

Também, por despacho de 29 de maio do corrente ano, sob proposta de E. Lambert, desta Capital, representante das fabricas de papel-moeda, denominadas Papeteris du Marais, estabelecidas em Paris, fiz-lhe a encomenda de um milhão de notas de 10$000 e de igual quantidade das de 5$000 sob as seguintes condições:
As notas serão em papel filigranado, semelhantes às do Banco da França, gravura burilada à mão, devendo a impressão ser feita pelo mesmo Banco.
O preço, compreendendo as formas para filigranas, será de £ 2.6.5 por milheiro de notas, as quais deverão vir acondicionadas em caixotes de madeira, forrados de zinco, e entregues na Alfândega desta Capital, livres de todas as despesas de frete, seguro, etc.¸
O pedido para a impressão no Banco da França já foi mandado fazer pelo intermédio do Ministro do Brasil em Paris”. (pag. 18 e 19) (grifo nosso).

                        Como se vê nesse relatório, recorreu-se a outras empresas impressoras para as encomendas de papel-moeda destinadas ao Tesouro Nacional, que, como vimos, vinha utilizando apenas cédulas impressas pela ABNCo. de custo bem maior. Assim, encomendaram-se várias estampas à BWC e depois ao Banco da França. A “Papeteris[22] du Marais” era, na época, a fornecedora dos papeis destinados à impressão fiduciária do Banco da França.
                        As cédulas encomendadas eram as de 10$000 réis (P.31; R102) da 9ª estampa (figura 2) e a de 5$000 réis (P.19; R090) da 10ª estampa (figura 1). Encomendou-se um milhão de cédulas de cada valor.
                        No relatório de 1902, publicado em 1903, o então Ministro da Fazenda Leopoldo de Bulhões (1902-1906), apresentou ao então Presidente da República Rodrigues Alves (1902-1906) as ponderações do Congresso Nacional sobre a impressão de papeis de valores:

“Para obter uma fabricação segura e garantida de selos do correio, estampilhas, notas de bancos, apólices e debêntures de companhias, enfim tudo quanto abrangem os papéis fiduciários ou de valor, em circulação ou em cotação na Bolsa, o Exmo. Sr. Ministro da Fazenda deveria mandá-los fazer num dos estabelecimentos do Governo, debaixo da mais rigorosa fiscalização.
A Casa da Moeda é atualmente o estabelecimento mais apropriado para executar este serviço, pois possui em grande parte todo o material necessário e adequado para este gênero de trabalho, precisando apenas pequenas modificações, aumento de algum material e o concurso de um bom condutor-impressor, que se contrataria na Europa para fazer os trabalhos de impressão durante um ano, e ensinar, ao mesmo tempo, a dois ou três oficiais.
Este estabelecimento está nas melhores condições de prestar grandes serviços ao país e ser uma fonte de renda para o Ministério da Fazenda, que assim se livraria da intervenção do estrangeiro nesses serviços. Depois de lutar com grandes dificuldades, depender de outros países, e serem vítimas constante dos fabricantes, os Governos chileno e argentino tomaram a acertada deliberação de instalar oficinas próprias para a fabricação e emissão de selos, estampilhas, papel selado e papel-moeda, procedendo da maneira seguinte:
1° Mandando vir o material necessário para galvanoplastia, acompanhado de um mestre galvanoplasta;
2° Importando o material para impressão, vindo igualmente um condutor-impressor em gravuras e galvanos;
3° Contratando com as fábricas do Marais todos os papéis necessários para essas diversas emissões, fazendo para este fim tipos especiais de papéis filigranados e únicos para cada um destes Governos;
4° Contratando com a fábrica de tintas cores e matizes especiais, adotado para cada modelo apresentado.

É preciso notar que os estabelecimentos denominados “Monedas” de Buenos Aires e Santiago do Chile não tinham instalações tão completas e perfeitas como a Casa da Moeda do Rio de Janeiro, que é a única neste gênero na América do Sul.
Eis agora as modificações a fazer e os benefícios que resultariam de uma instalação perfeita e bem dirigida.
(...)

NOTAS DE BANCO

Para a impressão das notas bancárias do tipo e modelo que se estão fabricando em Paris, o mesmo material que serve para os selos e estampilhas pode ser utilizado, pois todo o trabalho depende de gravuras, galvanoplastia e impressão.
O Exmo. Sr. Ministro da Fazenda poderia, para facilitar ainda mais este serviço nos primeiros tempos, proceder da seguinte maneira:
           1° Fazer executar os primeiros modelos das gravuras pelo mesmo artista, que fez os modelos das notas de 5$ e 10$ em Paris, e que viriam com os primeiros clichês em galvanos, e com a gravura em madeira, os quais ficariam nos cofres da Cada da Moeda, guardado pelo tesoureiro, porque com esta gravura em madeira pode-se reproduzir quantos galvanos se desejem, quando eles estão gastos pela impressão, não sendo por isso necessário fazer novas gravuras, o que é trabalho moroso e dispendioso.
           Estes primeiros modelos, vindos de Paris, serviriam de tipos e modelos aos gravadores e desenhistas da Casa da Moeda, que por sua vez, vagarosamente estudariam outros modelos e desenhos para as notas futuras.
           2° O papel seria o mesmo para todas as notas, mudando só o filigrano para cada valor, é dizer, em uns uma cabeça de República, e o valor da nota, em outros a cabeça de José Bonifácio ou qualquer outro sujet indicado pelo Sr. Ministro.
           O papel viria todo pronto, do tamanho já calculado para a impressão; a fabricação deste papel seria feita com a fiscalização do fiscal do Banco da França e expedido com toda a segurança em caixas de zinco lacradas, diretamente para a Casa da Moeda, que o entregaria à impressão devidamente contado.
           Para as tintas, meias tintas e combinações de cores, a mesma casa, que fornece para o Banco de França, para a República Argentina, etc., forneceria as combinações adotadas, as quais seriam invariáveis e inalteráveis. Esse seria o meio de facilitar aqui os trabalhos de impressão.
           As principais modificações que se precisa para estes diferentes serviços são as seguintes:
           Galvanoplastia – Esta seção carece de mais alguns aparelhos simples e de pouco custo, de maneira a poder reproduzir a gravura sobre madeira em galvanos de toda a nitidez e perfeição, que possam resistir bastante à impressão.
           O chefe desta seção é pessoa habilitada e competente para este serviço; ele mesmo poderia indicar os aparelhos complementares de que tem necessidade, devendo, entretanto, a esta seção ser adicionado um dínamo especial de corrente elétrica para eletrólise, e colocá-lo em lugar espaçoso e claro.
           Impressão – Concluídas as obras da Casa da Moeda, poder-se-a, em uma seção inteiramente separada, colocar todas as máquinas necessárias à impressão, numeração e corte das notas, sendo deste modo mais fácil a fiscalização e mais prático serviço.
           Para este fim bastam uma ou duas pequenas maquinas de impressão, que possam tirar de cada vez o formato correspondente a pouco mais de seis notas juntas de 500$000.
           A numeração poderá ser feita pelas mesmas maquinas de impressão, com o chassis numerador que existe na Casa da Moeda.
           Assinatura das notas – A assinatura das notas poderá ser feita por meio de pequenas máquinas, como se procede em todos os estabelecimentos congêneres. Seria uma grande economia de tempo e de dinheiro; a chancela ou rubrica poderia ser do Sr. Ministro da Fazenda ou do Inspetor da Caixa de Amortização e seria muito mais segura que a assinatura a mão. É sabido que a assinatura atual das notas não produz nenhuma garantia, nem pode servir ao público, sob o ponto de vista da fiscalização e da verificação, pois que nunca se tem em mão duas notas assinadas pela mesma pessoa.
           Toda garantia das notas deve, pois, residir na perfeição das mesmas, do papel filigranado, nas cores fixas, inalteráveis e negativas ao processo de reprodução fotográfica.
           Impressor – Um dos pontos essenciais é o Sr. Ministro da Fazenda autorizar a vinda, por meio de contrato, de um mestre impressor, de Paris. Para facilitar isto, as casas Marinoni ou Lorilleux, de Paris, que estão ligadas com todos os melhores estabelecimentos gráficos e oficinas do Governo, se incumbiriam de achar uma pessoa idônea e competente para este serviço, evitando assim contratar quem não preencha o fim desejado.
           As despesas seriam pequenas e o contrato poderia ser por um ano, tempo necessário para ensinar vários oficiais na Casa da Moeda.
           O Governo e o país lucrariam com esta medida, pois aqui, no Rio, não há impressor competente para impressões deste gênero. Julgo que, por mais ou menos 500$ mensais, se poderia obter um ótimo mestre impressor, que realçaria o trabalho feito na Casa da Moeda, proveria o pais de oficiais impressores para o futuro, e faria que se aproveitasse ao mesmo tempo todo o material que está posto de lado, ou mal utilizado por falta de competência”. (pag. 135-141) (grifo nosso).

                        Nesse relatório temos uma série de informações interessantes, entre elas destacamos: a vontade de se produzir as cédulas pela Casa da Moeda se livrando das encomendas estrangeiras, no entanto, contavam em importar o material e até mesmo contratar um técnico estrangeiro; fazer executar as gravuras pelos mesmos artistas dos modelos das cédulas de 5$000 e 10$000 réis, quais sejam, Georges Duval, Émile Crosbie e Jules Huyot; notícias concernentes aos métodos empregados para a gravação das placas de impressão das cédulas, quais sejam, gravura sobre madeira com emprego posterior da galvanoplastia (resultando em uma espécie de tipografia). A nosso ver, essa técnica era menos eficiente do que a calcografia em placas de metal, em que a cédula ficava sensível ao tato, como as de impressão americana.
                        No relatório de 1903, apresentado em 1904, temos informações concernentes às novas cédulas (5$000 e 10$000 réis), vejamos:

“Desde mais de seis meses foram postas em circulação as novas notas fabricadas debaixo da fiscalização do Banco de França. Essas notas, si bem que não agradem à primeira vista, pelas suas cores, obedecem, entretanto, a um tipo de papel-moeda adotado em geral por todos os Governos europeus e americanos, como o papel-moeda circulante de maior garantia, devido à concepção e grande trabalho das gravuras feitas à mão e filigrana no papel. Este, que aparece em si mais fraco que o das outras notas em circulação, é de qualidade mais compacta e resistente. O que ele não suporta é a amarrotação, por não ser ligado com trapo, coisa que não é possível fazer, por causa da filigrana. Para as cédulas de 100$, 200$ e 500$, que, em breve, devem entrar em circulação, foi modificado o tom opaco do papel, tendo-se adaptado cores que, certamente, agradarão. A demora que tem havido na remessa dessas notas novas tem sido devida justamente as grandes dificuldades que oferece a fabricação do papel. (pag. 112-114). (grifo nosso).

                        No relatório de 1904, apresentado em 1905, temos até mesmo a autorização dada para a contratação do artista impressor para a Casa da Moeda, para operar a máquina de impressão que havia sido adquirida, vejamos as demais informações deste relatório:


“O artista contratado e chegado em setembro do ano findo, deu as melhores provas de alta competência, melhorando os serviços de impressão e modificando o sistema de trabalhar nas oficinas, de maneira a obter-se, aqui a pouco, oficiais impressores capazes de substituírem, sem prejudicar o bom funcionamento atual. São notórias a nitidez e perfeição da impressão atual das estampilhas, selos do Correio e selos do consumo.
           Em vista deste resultado e da necessidade da impressão das notas bancárias, a que se vai dar princípio proximamente, resolvi mandar renovar o contrato com o dito impressor por mais um ano.
(...)

Máquina para impressão de papel-moeda

           Conjuntamente com a máquina especial, que mandei encomendar para a impressão das notas bancárias, deve vir o papel filigranado especial para fazer-se aqui a impressão das notas bancárias de 5$000 e 10$000, de maneira a ficar habilitada a Casa da Moeda a fabricar com a maior rapidez, nas substituições, as notas necessárias para a Caixa de Amortização.

Notas Bancárias

           Tem dado o melhor resultado as novas notas bancárias em circulação, faltando chegar ainda os novos modelos de 20$ e 50$, que foram demorados na fabricação em razão do novo modelo escolhido, complicando ainda mais as filigranas, os dizeres “Thesouro do Brasil[23] isto para evitar que os fabricantes de papeis dos diversos países sejam iludidos, desconhecendo o destino dos papéis, em filigrana, que lhes foram pedidos.
           A nota de dez mil-réis, sobretudo, tem dado grande prova do seu valor artístico e concepções de gravuras; apesar de estar já a dois anos em circulação, as cores mostram-se fixas e inalteráveis.
(...)
           As notas de cem mil-réis, que têm sido grosseiramente imitadas, foram logo descobertas, devido à imperfeição da filigrana, tendo isto servido de lição ao público, que começou logo a precaver-se contra os falsários, verificando sempre as filigranas das notas.
           Pelas investigações a que procederam o Governo e os diretores das Papeteries du Marais, tem-se por certo que as notas imitadas foram feitas em Valência, na Espanha, onde a polícia conseguiu prender uma quadrilha de falsificadores, que operava com um material dos mais modernos, importando mais ou menos em 500.000 pesetas.
pag. 133-136.

                        No relatório de 1905, apresentado em 1906, temos:

“Montou-se a grande maquina Marinoni, construída precisamente para impressão de notas bancárias, apólices e outros papéis de valores.
           Esta maquina é a terceira que se fabrica; a primeira está no Banco da França, a segunda na casa Chaix & Comp., fabricantes de ações, títulos de companhias, notas para bancos, etc.; a terceira foi construída para o Governo Brasileiro.
           Estão sendo montados os galvanos, vindos do Banco da França, para impressão.
           Uma parte dos papéis de diversos valores de notas já chegou e, para obter rigorosa igualdade de impressão e cores nas notas, veio também da França, incumbido pela fabrica, um preparador químico, encarregado de preparar as tintas para a impressão das notas na Casa da Moeda. Por este modo o resultado deve forçosamente ser excelente.
           Quanto ao papel das notas atuais, tão sujeito à crítica, cumpre dizer que, se bem que não reúna a flexibilidade à resistência, é uma severa garantia para a circulação; isto mesmo provam as notas em circulação há mais de três anos, sem que as possam imitar os falsificadores. (pg.145) (grifo nosso).


                        No relatório de 1906, apresentado em 1907, o Ministro da Fazenda David Campista trata da impressão e adaptação dessas cédulas para a Caixa de Conversão, vejamos:

De 1° de dezembro de 1906 a 28 de fevereiro de 1907 a Casa da Moeda imprimiu 206.000 notas de 10$000, 127.500 de 20$000, para a Caixa de Conversão e fez a adaptação de notas do Tesouro para a mesma Caixa sendo 199.518 de 100$000 e 299.173 de 500$000, na importância total de 174.148:300$000.
           Desde março está aquela repartição imprimindo notas do Tesouro, de diversos valores, conforme determinação deste Ministério.
           É a primeira vez que este serviço é confiado à Casa da Moeda e o seu desempenho é satisfatório.
           Dotando-se aquele estabelecimento dos melhoramentos de que carece, cuja falta se tem manifestado na execução de trabalhos de certa importância, poderia, com vantagem, ser-lhe cometido todo o fabrico do papel-moeda destinado a circulação”. (pags. 235-238) (grifo nosso).



Figura 5 – Anverso do bilhete de 500 mil-réis da 8ª estampa (1906-1931), da Caixa de Conversão, aproveitado do Tesouro Nacional. Bilhete impresso pelo Banco da França e depois adaptado pela Casa da Moeda do Rio de Janeiro através da aplicação de superimpressão[24]. Os nomes dos artistas aparecem na margem inferior, Georges Duval (desenhista) e Emile Crosbie (gravador). Temos em uma moldura renascentista as alegorias da agricultura e do comércio. (imagem cedida pelo Museu de Valores do Banco Central).

                        No relatório de 1907, apresentado em 1908, temos:

“ Notas do Tesouro
Continuou a ser feita nesta oficina a confecção de notas do Tesouro, de pequenos valores.
Foram impressas:

1.242.170 de 5$000                6.210:850$000
1.141.970 de 20$000                        22.839:400$000
210.000 de 50$000               10.500:000$000
                                                                                                                                            _____________
                                                                                                                                           39.550:250$000
(p.98).  grifo nosso)

                        Finalmente, no relatório de 1909, apresentado em 1910, temos que haviam sido recebidas da Casa da Moeda 294.000 cédulas de 5$000 e 20$000 réis e ainda que a ABNCo., no mesmo período, havia entregue 2.800.000 cédulas de 5$000, 10$000 e 100$000 réis.


Figura 6 – Reverso do bilhete de 20 mil-réis da 1ª estampa (1906-1931), da Caixa de Conversão. Este bilhete foi impresso pela Casa da Moeda do Rio de Janeiro com material e técnicos vindos da França. No detalhe o Farol da Barra em Salvador, Bahia. (imagem cedida pelo Museu de Valores do Banco Central).


                        Os relatórios posteriores são silenciosos a respeito da impressão das cédulas pela Casa da Moeda e do destino da impressora e dos técnicos vindos da França.                  Aqui, a questão nos parece simples, o Ministério da Fazenda não tinha a mínima ideia da complexidade da produção de papel-moeda e, como não havia comunicação e interação entre os conhecedores do assunto e o executivo (talvez ainda hoje não haja), adquiriu-se um maquinário, contrataram-se técnicos estrangeiros, mas não se cuidou da formação de técnicos nacionais, o que demandaria muito mais do que os seis meses idealizados pelo Ministro. Se pensarmos no caso de Sukeichi Oyama [25], gravador japonês, que foi enviado aos Estados Unidos para concluir sua formação no Bureau of Encraving and Printing (BEP) e depois foi contratado pela ABNCo., onde adquiriu grande experiência, retornando depois ao Departamento de Impressão do Japão, do qual veio a ser torna chefe, veremos que no Brasil a situação foi bem diferente.
                        No Brasil de 1900, uma sociedade recém saída da escravidão, o trabalho manual, mesmo que especializado, não tinha muito valor aos olhos da elite oligárquica.
                        As cédulas da “Série Francesa”, apesar de, a nosso ver, serem superiores no plano artístico às da ABNCo., no quesito segurança deixavam a desejar. Foram amplamente falsificadas, eis que, apesar de possuírem marca d’água, o método de impressão era parecido com o tipográfico, ou seja, as cédulas ficavam lisas ao tato e podiam ser copiadas com certa precisão pelo processo da litografia. Além do mais, no início do século, poucos sabiam o que era uma marca d’água e mesmo em algumas cédulas consideradas falsas pudemos notar a presença da marca d’água.



Figura 7 – Anverso da cédula de 5 mil-réis da 12ª estampa do Tesouro Nacional (P.21; R092), Série B, N° 042, 543, 1908-1920 (Falsa da época), apresenta três carimbos de “Falsa”. As originais foram impressas na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, com material vindo da França.


Figura 8 – Reverso da cédula de 5 mil-réis da 12ª estampa do Tesouro Nacional (P.21; R092), Série B, N° 042, 546, 1908-1920 (Falsa da época). As marcas d água ou filigranas são perceptíveis, mesmo sendo falsificadas.


                        As encomendas continuaram a ser feitas à ABNCo. e, depois, também à Thomas de La Rue até 1970, quando a Casa da Moeda foi, enfim, capacitada para a produção em grande escala das cédulas brasileiras.
                        Atualmente, a Casa da Moeda do Brasil, mesmo sendo amplamente capaz de produzir cédulas para as necessidades do país e mesmo para exportação[26] em algumas ocasiões “especiais[27]”, viu as encomendas serem realizadas[28] a empresas estrangeiras, como a G&D (Giesecke & Devrient), alemã e a FCOF (François-Charles Oberthur Fiduciaire), francesa.
                        Em 2016, foram encomendadas 100.000.000 de cédulas de 2 reais à empresa Crane AB[29], da Suécia.


Detalhes das cédulas da “Série Francesa”


                        Como vimos, de 1903 a 1908 foram impressas 17 estampas referentes à série dita “Série Francesa”. Vejamos:
                        Foram 7 valores (5,10, 20, 50, 100, 200 e 500 mil-réis) e 8 tipos de cédulas, eis que da cédula de 100 mil-réis existem duas estampas diferentes.
                        Assim, das cédulas de 5 mil-réis, temos três estampas semelhantes (estampas 10ª, 11ª e 12ª), sendo que a 10ª foi impressa pelo BdF e a outras duas na CMRJ, com material e técnicos vindos da França. Existem diferenças na cor. Nas impressas no Brasil, não consta o nome do desenhista e nem do gravador.
                        Das cédulas de 10 mil-réis, temos três estampas semelhantes (estampas 9ª, 10ª e 1ª), sendo que a 9ª estampa foi impressa pelo BdF e as outras duas pela CMRJ, com material e técnicos vindos da França. Existem diferenças nas cores. Nas cédulas da 10ª estampa, impressas pela CMRJ, aparece, além dos nomes do desenhista e do gravador, a indicação de que a cédula foi impressa pela “Casa da Moeda – Rio de Janeiro”, na margem do anverso. Os bilhetes da 1ª estampa da Caixa de Conversão foram “aproveitados” se é que podemos assim dizer, eis que a CMRJ utilizou do material da 10ª estampa[30], e imprimiu os bilhetes com cores diferentes, retirando da margem a indicação “Casa da Moeda – Rio de Janeiro” e, ainda, acrescentando os dizeres: “Na Caixa de Conversão ...Valor recebido em ouro... de acordo com a lei nº 1575 de 6 de dezembro de 1906”. Ficaram parecidos com as da 9ª estampa, por não conter a marca da CMRJ, daí a confusão nos catálogos. Assim, estes bilhetes foram impressos no Brasil pela CMRJ, em quantidade pequena, sendo que foram impressos 206.000, dos quais 451 inutilizados e efetivamente emitidos 205.549.
                        Das cédulas de 20 mil-réis temos três estampas semelhantes (estampas 10ª, 11ª e 1ª), sendo que a 10ª estampa foi impressa pelo BdF e as outras duas pela CMRJ com material e técnicos vindos da França. No que concerne às cores, as cédulas da 10ª e 11ª são semelhantes. Nas cédulas da 11ª estampa, impressas pela CMRJ, aparece além dos nomes do desenhista e do gravador a indicação que a cédula foi impressa pela “Casa da Moeda – Rio de Janeiro”, na margem do anverso. Os bilhetes da 1ª estampa da Caixa de Conversão foram “aproveitados” se é que podemos assim dizer, eis que a CMRJ utilizou do material da 11ª estampa[31] e imprimiu os bilhetes com cores diferentes e retirou da margem a indicação “Casa da Moeda – Rio de Janeiro” e ainda acrescentou os dizeres: “Na Caixa de Conversão ...Valor recebido em ouro... de acordo com a lei  n. 1575 de 6 de dezembro de 1906”. Ficaram parecidos com as da 10ª estampa, por não conter a marca da CMRJ, daí a confusão nos catálogos. Assim, estes bilhetes foram impressos no Brasil pela CMRJ, em quantidade pequena, sendo que foram impressos 127.500, dos quais um foi inutilizado e efetivamente emitidos 127.499.


Figura 9 – Anverso da cédula de 20 mil-réis da 11ª estampa (1907-1922), do Tesouro Nacional. Esta cédula apresenta na margem, além do nome dos artistas, a indicação que foi impressa na “Casa da Moeda – Rio de Janeiro”. (imagem cedida pelo Museu de Valores do Banco Central).

                        Das cédulas de 50 mil-réis temos duas estampas semelhantes (estampas 9ª e 10ª), sendo que a 9ª estampa foi impressa pelo BdF e a da 10ª pela CMRJ com material e técnicos vindos da França. As quantidades impressas são incertas, sendo que por estimativa foram cerca de 200.000 cédulas de cada estampa.
                        As cédulas de 100 mil-réis da 9ª estampa foram impressas pelo BdF apenas. Verificamos a existência de pelo menos 3 séries.
                        As cédulas de 100 mil-réis da 10ª estampa do Tesouro Nacional e da Caixa de Conversão são semelhantes, eis que as da Caixa de Conversão foram aproveitadas através de superimpressão. Essas cédulas foram impressas pelo BdF e utilizadas para a emissão do Tesouro e adaptadas pela CMRJ para a emissão provisória da Caixa de Conversão.
                        As cédulas de 200 mil-réis da 10ª estampa do Tesouro Nacional foram impressas pelo BdF apenas. Verificamos a existência de pelo menos 4 séries.
                        Finalmente as cédulas de 500 mil-réis da 8ª estampa impressas pelo BdF, temos duas estampas semelhantes, a do Tesouro Nacional e a da Caixa de Conversão, que foi adaptada pela CMRJ através de superimpressão. A estimativa para estas emissões é de cerca de 400.000 por estampa.


Repercussão da “Série Francesa” nas cédulas impressas pela Casa da Moeda nos anos 20

                        Nos anos 20 a Casa da Moeda do Rio de Janeiro produziu diversas estampas pelo método xilográfico[32] e os valores de 10 (P.37; R108), 20 (P.47; R118), 50 (P.55: R126) e 200 (P.151; P.80) mil-réis, possuem nos reversos, nos cantos inferiores direito e esquerdo do desenho, as seguintes gravações em micro-caracteres: nas de 10 e 20 mil-réis, “GRAV. BORGES e DEZ. F. CASTRO”; nas de 50 mil-réis “DEZ. F. CASTRO e GRAV. BORGES” e nas de 200 mil-réis “PAIVA DEZ. E GRAV e Casa da Moeda”.
                        Assim, da mesma forma que as cédulas da “Série Francesa”, a Casa da Moeda registrou os nomes do gravador e dos desenhistas, como pode ser visto claramente nos reversos.


Figura 10 – Detalhe do reverso da cédula de 50 mil-réis da 15ª estampa do Tesouro Nacional (P.55; R126) em que se pode observar, à direita, o nome do desenhista F. Castro e do gravador, à direita, Borges.

Quadro Geral das Emissões

Cédulas impressas pelo BdF (Banque de France) e pela Casa da Moeda do Brasil (CMBRJ) para o Tesouro Nacional no início do Século XX. Algumas estampas foram aproveitadas e outras adaptadas através de superimpressão para as primeiras emissões da Caixa de Conversão. As cédulas são classificadas por ordem de emissão e de valores.

1.       10 mil-réis
  9ª A-D
1903-1922
1ª à 7ª
1.000.000
198 mm X 90 mm
BdF
2.         5 mil-réis
10ª A-F
1904-1921
1ª à 20ª
1.000.000
170 mm X 82 mm
BdF
3.     100 mil-réis
  9ª A-D
1904-1909
1ª à 3ª

199 mm X 100 mm
BdF
4.     500 mil-réis
  8ª A-D
1905-1929
1ª à 2ª

209 mm X 110 mm
BdF
5.       20 mil-réis
10ª A-D
1905-1922
1ª à 8ª

190 mm X 91 mm
BdF
6.     200 mil-réis
10ª A-?
1905-1922
1ª à 4ª

204 mm X 104 mm
BdF
7.       50 mil-réis
  9ª A-?
1906-1922
1ª à 2ª

195 mm X 97 mm
BdF
8.        5 mil-réis
11ª A-E
1907-1920
1ª à 7ª
   700.000
170 mm X 80 mm
CMBRJ
9.       10 mil-réis
10ª A-E
1907-1922
1ª à 3ª
   250.000
198 mm X 91 mm
CMBRJ
10.     20 mil-réis
11ª A-K
1907-1922
1ª à 15ª
1.500.000
189 mm X 91 mm
CMBRJ
11.   100 mil-réis
10ª A-C
1907-1922
1ª à 3ª

200 mm X 100 mm
BdF
12.       5 mil-réis
12ª A-V
1908-1920
1ª à 11ª
1.100.000
166 mm X 80 mm
CMBRJ
13.     50 mil-réis
10ª A-C
1908-1922
1ª à 2ª
   200.000
195 mm X 96 mm
CMBRJ
14.     10 mil-réis
  1ª (10ª)
1906-1931

   205.549
200 mm X 89 mm
CMBRJ
15.     20 mil-réis
  1ª(11ª) A-B
1906-1931
   127.499
195 mm X 90 mm
CMBRJ
16.   100 mil-réis
10ª
1906-1931
1ª à 2ª
   198.426
200 mm X 100 mm
BdF e CMBRJ
17.   500 mil-réis
 
1906-1931
3ª à 4ª
   298.189
209 mm X 110 mm
BdF e CMBRJ

Nas colunas temos na sequência: valor da cédula, a estampa e as letras, o ano de emissão e o de desmonetização, as estampas, a quantidade emitida por estimativa, as dimensões aproximadas e o impressor. No que concerne ao impressor (última coluna), temos que todas as cédulas foram desenhadas e gravadas na França, mesmo aquelas impressas na CMRJ. Indicamos apenas a CMRJ como impressora destas cédulas, mas não quer dizer que ela realizou todo o processo, mas as cédulas foram efetivamente impressas por ela e no Brasil.

A catalogação das cédulas é a seguinte: 1. 10 mil-réis (P.31; R102); 2. 5 mil-réis (P.19; R090); 3. 100 mil-réis (P.63; R134) 4. 500 mil-réis (P.85; R156); 5. 20 mil-réis (P.42; R113); 6. 200 mil-réis (P.75; R146); 7. 50 mil-réis (P.51; R122); 8. 5 mil-réis (P.20; R091); 9. 10 mil-réis (P.32; R103); 10. 20 mil-réis (P.43; R114); 11. 100 mil-réis (P.64; R135); 12. 5 mil-réis (P.21; R092); 13. 50 mil-réis (P.52; R123); 14. 10 mil-réis (P.102A; R165); 15. 20 mil-réis (P.102C; R166); 16. 100 mil-réis (P.102E; R167) e 17. 500 mil-réis (P.102F; R168).

Bibliografia

- Brasilian Govermment Documents - Ministerial Reports (1821-1960): Fazenda. Latin American Microfilm Project (LAMP), Center for Research Libraries (CRL), Chicago. (http://www-apps.crl.edu/brazil/ministerial/fazenda).

- Catálogo do papel-moeda do Brasil 1771-1986, emissões oficiais, bancárias e regionais. Violo Ídolo Lissa. Brasília: Editora Gráfica Brasiliense, 3ª edição, 1987.

- Cédulas Brasileiras da República. Emissões do Tesouro Nacional. F. Dos Santos Trigueiros (org.). Rio de Janeiro: Banco do Brasil. 1965.

- Cédulas do Brasil 1833 a 2011. Claudio Patrick Amato, Irlei Soares das Neves, Julio Ernesto Schütz, 5ª edição, 2011.

- Diário Oficial da União, diversos.

- Dinheiro no Brasil. F. dos Santos Trigueiros, Leo Cristiano Editorial Ltda., 2ª edição, 1987.

- Editais da Caixa de Amortização, diversos números entre 1903 e 1908.

- GRIFFITHS, Willian H. The Story of American Bank Note Company. American Bank Note Company, New York, 1959.

- MAGAN, Ricardo M. American Bank Note Company Archives, First Edition, 2005.

- MEILI. Julius. O Meio Circulante no Brasil - Parte III - A Moeda Fiduciária no Brasil, 1771 até 1900. Zurique: Tipografia de Jean Frey, 1903.

- O Museu de Valores do Banco Central do Brasil. São Paulo: Banco Safra 1988.
- Iconografia do Meio Circulante, Banco Central do Brasil, 1972.

- Iconografia de Valores Impressos do Brasil. Brasília: Banco Central do Brasil, 1979.

- Standart Catalog of World Paper Money – General Issues (1368-1960), Krause Publications, 12th edition, Iola, 2008.  


Autor: Márcio R. Sandoval
Publicado no Boletim da Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina (AFSC), n° 72, agosto de 2017, p.4 a 23.

© 2017 Marcio R. Sandoval



[1] Denomina-se meio circulante o conjunto de cédulas e moedas em circulação no país em uma determinada época. Aqui trataremos apenas das cédulas emitidas pelo Tesouro Nacional e pela Caixa de Conversão, deixando de lado as moedas e ainda as cédulas emitidas pelos bancos privados.
[2] Esta matéria contem diversas informações inéditas, fruto de pesquisa laboriosa. A reprodução esta condicionada a autorização prévia do autor, basta nos enviar um email – sterlingnumismatic@hotmail.com.
[3] Conhecemos apenas até a série 20ª, letra F, baseada na observação das cédulas. Os catálogos não trazem nenhuma informação a este respeito.
[4] O Tesouro Nacional era o órgão responsável pelas emissões governamentais antes da criação do Banco Central na década de 60.
[5] Em 1852, a PB&P passou a se chamar Perkins Bacon & Co. (PB&Co.).
[6] Pelo menos no que diz respeito às empresas privadas e principalmente no quesito segurança.
[7] Havia ainda os fabricantes públicos, por exemplo, o Bureau of Engraving and Printing (BEP) dos Estados Unidos e o Bank of England, estes ocupados, primordialmente, com as respectivas divisas nacionais.
[8] Sociedade inglesa criada em 1850, por Henry Bradbury, que em 1903 foi adquirida pela American Bank Note Company (ABNCo.) e mantida como empresa filial. Em 1986, ela foi vendida e incorporada à empresa inglesa De La Rue, antiga Thomas de La Rue & Company (TDLR).
[9] Sociedade inglesa, hoje De La Rue. Tornou-se, posteriormente, uma grande concorrente da ABNCo. e é hoje uma das maiores empresas do ramo, senão a maior.
[10] Empresa alemã de Leipzig criada em 1832. Após a 2ª Guerra Mundial ela foi transferida para Munique.
[11] Empresa holandesa de Haarlem criada em 1703.
[12] Na década de 20, temos ainda a tentativa de produzir as cédulas do Tesouro Nacional pela Casa da Moeda, no entanto, não se conseguiu substituir o fornecedor americano. De qualquer forma, todas essas tentativas foram louváveis, diante da dificuldade de se resolver a questão.
[13] Conhecemos apenas até a série 7ª baseada na observação das cédulas. Os catálogos não trazem nenhuma informação a este respeito.
[14] A lista vai um pouco além desta data, ou seja, até 1° de dezembro de 1903.
[15] Esta transcrição comporta elementos de atualização ortográfica.
[16] Efetivamente, o edital da Caixa de Amortização referente à cédula de 10.000 réis da 9ª Estampa foi publicado no Diário Oficial da União em 25 de novembro de 1903, p.3424, informando que estas cédulas entrariam em circulação em 1° de dezembro de 1903.
[17] As cédulas impressas pela ABNCo. traziam um design neoclássico e as impressas na França, renascentistas.
[18] Além de pequenas variações nestas abreviações, em algumas das cédulas impressas no Brasil, com material francês, aparece também a seguinte inscrição: “CASA DA MOEDA – RIO DE JANEIRO”.
[19] Incluída também a gravura em madeira.
[20] Não temos muitas notícias concernentes ao desenhista Georges Duval. Encontramos, entretanto, o ano de seu falecimento, 1915. Seus desenhos continuaram a ser utilizados após sua morte, como nesta cédula de Guadalupe, a partir de 1920.
[21] Brasilian Govermment Documents - Ministerial Reports (1821-1960): Fazenda. Latin American Microfilm Project (LAMP), Center for Research Libraries (CRL), Chicago. (http://www-apps.crl.edu/brazil/ministerial/fazenda).
[22] Fábrica de papel.
[23] Em todas as cédulas da “Série Francesa”, o nome Brasil foi grafado com “z”.
[24] “Na Caixa de conversão” seguido de – faixa encobrindo os dizeres “No Thesouro Nacional” (...) “Valor Recebido em ouro de acordo com a Lei N°1575 de 6 de dezembro de 1906”

[25] Veja a matéria “Joaquim Murtinho e o caso da Cédula de 2 mil-réis de 1900 ,de nossa autoria, publicada no Boletim da AFSC, n°63 de março de 2011, p.4-19.
[26] Veja a matéria “Casa da Moeda do Brasil – Produção de cédulas para o Mercado Externo”, de nossa autoria, publicada no Boletim da AFSC n°64 de agosto de 2011, p.4-9.
[27] Existe uma previsão legal para a importação de cédulas em caso de “emergência”.
[28] No caso as encomendas são realizadas pelo órgão emissor, qual seja, o Banco Central.
[29] Em 2002, a empresa Crane & Co, de Boston, empresa fundada em 1801 (com 216 anos), que é a fornecedora de papel para o Bureau of Engraving and Printing (BEP), ou seja, para a produção do dólar americano, comprou a Companhia Tumba Bruk do Banco Central da Suécia (Riksbank), passando esta a operar como subsidiária da Crane & Co.  com o nome de Crane AB.
[30] E não os da 9ª estampa, que foram impressos em Paris.
[31] E não os da 10ª estampa, que foram impressas em Paris.
[32] Veja sobre este assunto a matéria intitulada “A Padronização do Mil-Réis (1918-1942) publicada no Boletim da AFSC n° 69, de março de 2015, p.4-22.