Folheto da exposição “Emissões particulares na Coleção Julius Meili” realizada pelo Museu e Arquivo Histórico do Banco do Brasil no Rio de Janeiro em 1985.
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Abaixo passamos a transcrever o conteúdo deste folheto.
Banco do Brasil - Museu e Arquivo Histórico
Rio de Janeiro 1985
“Em 1867 aconteceu a mesma escassez da moeda de cobre, a ponto de não haver trocos para as cousas mais insignificante da vida doméstica, havendo por isso diversas desordens entre o povo; e o ministro da Fazenda (...) permittio, pela sua indiferença que os taberneiros, quitandeiros, frege-moscas e até as mulheres perdidas (!) emittissem vales de suas casas, como moeda corrente e legal, na Capital do Império.” Mello Moraes, “História do Brasil Reino e Brasil Império”, I, 1871, p. 373.
Um mestre da numismática brasileira
Foi em 1870, quando findava a Guerra do Paraguai, que o suíço Julius Meili desembarcou no Brasil. Era natural de Hettlingen e tinha, por este tempo, trinta e um anos de idade. Fixando-se na Bahia, tornou-se ali, além de comerciante, representante consular de seu país natal.
Dono de imensa fortuna, pesquisador criterioso e paciente, reuniu a mais valiosa coleção de numismática brasileira da época. Parte da mesma – a referente à moeda fiduciária – foi adquirida em 1937 pelo Banco do Brasil, encontrando-se aí umas das origens do acervo do Museu.
Referindo-se ao grande suíço, o numismata Álvaro Salles de Oliveira assim se expressa: “É Julius Meili cognominado o Mestre de nossa história monetária. Não há mais justa consagração do que esta pois foi o primeiro que o destrinçou e esclareceu em muitos pontos, dando classificação lógica e racional à ciência da numária brasileira, coligindo a mais farta cópia de documentos, notas e estatísticas preciosas.
Deixando o comercio em 1902, Meili entregou-se inteiramente aos estudos numismáticos, passando a publicar diversos ensaios nos quais estudava sua rica coleção. Desenvolvendo mais tarde estes textos, preparou e publicou o monumental trabalho “O Meio Circulante no Brasil”, que abarca quase toda a nossa história monetária, ou seja, de 1645 a 1900. Publicada em Zurich, cidade onde o autor faleceu em 1907, a obra se divide em três volumes, sendo em língua alemã os dois primeiros: “As moedas do Brasil Colônia” e “As Moedas do Brasil Independente”. Quanto ao terceiro, “A Moeda Fiduciária no Brasil”, veio a publico em 1903 e foi editado em língua portuguesa, por crer o pesquisador que interessaria “especialmente aos brasileiros” Divide-se em duas partes: “Emissões Legais” e “Emissões Ilegais”. A dedicada às emissões ilegais reproduz e classifica aproximadamente novecentos impressos de pequeno valor e que, a pretexto de atenderem a falta de troco, eram emitidos por estados, municípios, empresas de ônibus, barcas e bondes, companhias e particulares, para servir-lhes de papel-moeda. O próprio Julius Meili escreve a respeito: “...estes papeizinhos estenderam-se como uma epidemia em todo território brasileiro”. Tinham diversos nomes: apólices, cautelas, estampilhas, livranças, fichas e vales. Tinham também apelidos: borós no Ceará, calcáreos, sampaios e haja-paus em Pernambuco, debêntures no Maranhão, borrusqués em Minas Gerais.
Além desses, o autor colecionou e reproduziu em sua obra quatro tipos de impressos que, se não tiveram regularmente a função de moeda, nos mostram pelo menos os costumes da época, registrando, por outro lado, a evolução da propaganda e das artes gráficas em nossa terra. São os anúncios reclames, os bilhetes de rifa e as fichas de jogo.
A presente exposição reúne diversos exemplares dessas emissões ilegais ou abusivas. Representam, pelo que deixam transparecer de longo e generoso trabalho de pesquisa, uma amostra da dedicação que Julius Meili votava às coisas do Brasil, país que amou e a que ligou seu nome. (in, “Emissões particulares na Coleção Julius Meili” Museu e Arquivo Histórico do Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 1985.