© 2012 Marcio Rovere Sandoval
Fig. 1 – Anverso da cédula de
2 mil-réis da 9ª Estampa do Tesouro Nacional[1]
(1900-1920), impressa pela American Bank
Note Company de Nova York (R082s; P.11). No medalhão temos “Zella”, gravura de Sukeichi Oyama, a partir do retrato de autoria de Conrad Kiesel denominado "Saudade".
Uma historia surpreendente
Em
1860, um jovem mato-grossense de apenas 12 anos, empreendeu uma viagem de sua
cidade natal, Cuiabá, até a Capital do então Império do Brasil, Rio de Janeiro.
Partiu para realizar seus estudos, como seria de se esperar de um filho da
oligarquia local. Seguiu em lombo de mula através do sertão, transpondo rios a
nado e todos os rigores de uma viagem similar, em uma época que o interior do Brasil
era ainda coberto de matas. O périplo dura cerca de três meses. O nome deste
jovem? Joaquim Duarte Murtinho (1848-1911).
Após
estudos preliminares, ingressou na Escola Politécnica, no entanto, não se
tornou engenheiro e sim um dos mais disputados médicos homeopatas do Rio de
Janeiro.
Com
a mudança do Regime entrou para a política, foi Senador da República
(1890-1896, 1903-1906 e 1907
a 1911) e Ministro da Fazenda de Campos Salles
(1898-1902).
Foi
um dos homens mais ricos e influentes de sua época, celibatário convicto, nunca
veio a constituir família.
Na
política fez muitos inimigos, entre eles o deputado sergipano Fausto Cardoso.
Entrando
no campo das hipóteses[2],
passamos a descrever o que provavelmente aconteceu no caso, dito escândalo, que
se tornou famoso na época e que ainda provoca discussões no âmbito da história
e da numismática, vejamos:
A
estampa da cédula de 2 mil-réis em circulação na época (8ª estampa) havia sido
aproveitada do Império, substituindo-se a efígie de D.Pedro II pela Alegoria da
Justiça.
Agora
se pretendia substituir a estampa e para isso, procurava-se uma imagem de uma jovem bonita, do tipo bem brasileiro,
para representar a República.
O jornalista realizou a busca e
encontrou no estúdio fotográfico
Guimarães, estabelecido na esquina das ruas da Assembléia com Gonçalves Dias, a
fotografia de uma jovem conhecida nas rodas literárias e jornalistas de São
Paulo, deixando o seu verdadeiro nome em sigilo, referindo-se a ela por
"Sinhazinha". Ela vivia com sua mãe e colaborava com jovens
poetas e prosadores, para o Diário
Popular e outros periódicos de pouco apuro literário.
Esta
jovem foi apresentada a Joaquim Murtinho para servir de modelo a cédula da
República. Ela viajou para o Rio de Janeiro e em seguida para a Europa. O
envolvimento amoroso da jovem com Joaquim Murtinho parece ter ficado
evidenciado no desdobrar destes fatos.
Na
Europa, a jovem, após ter passado por Lisboa e provavelmente por Paris, dirigiu-se
para Viena, onde foi apresentada ao pintor Conrad
Kiesel (1846-1921) para que este pudesse realizar os retratos que seriam
utilizados na futura cédula.
O
pintor realizou vários retratos, entre eles "Dolores"
e "Saudade" que foram em
seguida encaminhados aos Estados Unidos, por influência do Ministro da Fazenda,
onde a empresa American Bank Note Company
(ABNCo.), procederia à realização das gravuras necessárias para a confecção
das cédulas.
A
ABNCo. encarregou o gravador japonês Sukeichi
Oyama (1858-1922), que era um funcionário da empresa (1891-1899), de
efetuar as gravuras. Ele realizou pelo menos duas gravuras que seriam
utilizadas para a confecção das cédulas, uma denominada "Zella" (1893), obtida a partir do retrato de autoria de Conrad Kiesel, denominado "Saudade", e a outra, "Mima" (1894) obtida a partir
do retrato denominado "Dolores",
do mesmo pintor.
Como
era praxe na ABNCo., eles utilizaram a gravura "Zella", primeiramente, em três oportunidades, no bilhete
de 20 dólares de 1897 (PS627) do Bank of
Nova Scotia (Província da Nova Escócia – Canadá), no bilhete de 20 pesos de
1898 (PS180) do El Banco de Concepción
(Chile) e no bilhete de 100 pesos, também de 1898 (PS199) do El Banco de Coahuila (México).
Em
1900, finalmente, a gravura "Zella"
foi utilizada na cédula brasileira (2 mil-réis de 1900, da 9ª estampa do
Tesouro Nacional – R082; P.11) e acabou por causar um grande furor na Câmara
dos Deputados, sendo o Ministro da Fazenda acusado de reproduzir a figura de
uma "meretriz" nos dinheiros do Estado.
Perseguindo a verdade
Tomamos
contato com esta questão há alguns anos através do livro de F. dos Santos
Trigueiros, Dinheiro no Brasil, cuja primeira edição é de 1966 e de dois
periódicos, um da SNB (n° 50, de 1976) e outro da SFN de João Pessoa (n° 68 de
2001).
No
entanto, vejamos esta questão desde o início.
A acusação na Câmara
dos Deputados
Na
sessão de 6 de setembro de 1900, o Deputado sergipano Fausto Cardoso, em
linguagem um tanto rebuscada, relatou:
“(...) Mas o orador atacou o Sr.
Ministro da Fazenda[4],
desde o primeiro dia, em que falou até o último, e S. Ex. disse que o orador se
atirou a ele com a linguagem de arrieiro, com palavras insólitas, ferindo a sua
reputação ilibada, etc., etc.
Porventura a linguagem de arrieiro é
aquela em que disse que as notas do Tesouro trazem como símbolo da República
retratos de meretrizes?
Não é demais repetir, quando já o
disse o orador e consta dos Anais, que isto é uma verdade.
Mas denunciar um fato dessa ordem é
rebaixar o Parlamento, é linguagem de arrieiro?
Não. O fato avilta a quem o praticou
e não a quem o denunciou. E, em vez da grita que se levantou, o que se devia
fazer era demonstrar que o Sr. Ministro da Fazenda não tinha
realmente posto nas notas do Tesouro retratos tais.
Isto não se fez, nem se pode fazer,
porque aqui está uma nota em que figura uma das meretrizes mais conhecidas na Capital
Federal: Sra. Prates. (o orador mostra uma nota do Tesouro, na qual diz
estar estampado este retrato.).
Quem poderá negar que esta figura que aqui esta não é dessa mulher tão
conhecida?
Mas, dirão: “não deveis dizer, deveis poupar uma vergonha à nossa
pátria.”.
O Sr. Benedicto de Souza – Mas V.Ex.
pode garantir que foi o Sr. Ministro que a mandou estampar ai?
O Sr. Fausto Cardoso – Basta.”
(Brasil. Congresso Nacional. Anais da
Câmara dos Deputados. V.5, Rio de janeiro, 6 de setembro de 1900,
p.144-145). (grifo nosso).
O
Deputado Fausto Fragoso era inimigo político declarado do então Ministro da
Fazenda Joaquim Murtinho, vejamos um trecho do seu discurso de 4 de setembro de 1900:
“Sr. Presidente, apesar de ter o espírito cansado e o corpo em ruínas,
continuo a desempenhar-me do compromisso, que, na defesa dos interesses
nacionais, tomei para comigo mesmo, de mostrar à luz da maior evidência que a
doutrina e a conduta administrativa do Sr. Ministro da Fazenda são contrárias
ao Direito, à Moral, às Leis, às grandes conveniências públicas.” (Idem, 4 de setembro de 1900, p.63)
O testemunho da
historiografia
Em
1990, o historiador José Murilo de Carvalho na obra A Formação das Almas: O Imaginário
da República no Brasil, na parte que diz respeito ao uso da alegoria
feminina representando a República, nos traz:
“O exemplo mais escandaloso de
desmoralização da República por meio da representação feminina veio de um
ministro do governo Campos Sales. Em 1900, o deputado Fausto Cardoso denunciou
na Câmara dos Deputados o ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho por ser “um
homem que manda reproduzir nas notas do Tesouro, nos dinheiros do Estado, como
símbolo da República, o retrato de meretrizes. Segunda a denúncia que
provocou tumulto na Câmara e levou a suspensão da sessão, mas que não foi
contestada, a foto seria de uma tal Sra. Prates, uma das meretrizes mais
conhecidas da capital. Segundo outras versões, seria de Laurinda Santos Lobo,
sobrinha e amante de Murtinho. No reverso da nota, a República era representada
por uma clássica Palas Atena, de capacete, escudo e lança. A nota é um resumo precioso. A República, quando não se representava
pela abstração, clássica ou romântica, só encontrava seu rosto na versão da
mulher corrompida, era uma res publica,
no sentido em que a prostituta era um mulher pública.” (in,
A formação das Almas: O imaginário da
República no Brasil. José Murilo de Carvalho. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990, p.88/89). (grifo nosso).
Em
1996, o historiador Fernando Antonio Faria, retomando o mesmo assunto na obra Arquivo
das Sombras: A privatização do Estado brasileiro nos anos iniciais da Primeira
República, comentou:
“As relações promiscuas entre
negócios e política vigentes eram o reflexo invertido de uma visão de mundo
incapaz de ordenar e distinguir os limites do campo público do privado, numa
sociedade em que ainda, a ordem burguesa encontrava fortes resistências a sua
implantação. Murtinho pertenceu a uma geração que presenciou a universalização
do dinheiro como valor fundamental da sociedade. Sua existência esteve toda
voltada para acumulação de riqueza. Difícil identificar algum ato de sua vida
adulta que não tivesse por trás de si a perspectiva de ganho material. Seu
contato com o mundo era orientado pelo dinheiro e sua avaliação era precedida
por um cifrão. Como o dinheiro público sempre teve a mesma cor e formato de
dinheiro privado, a confusão entre estas duas instâncias era insolúvel em sua
maneira de ver o que lhe rodeava. Modelo acabado de que acabamos de dizer foi
o caso da cédula de Rs. 2$000. Utilizaremos mais uma vez duas versões
para expor o episódio: uma crítica e outra justificante. José Murilo de
Carvalho, em sua obra sobre A Formação do
Imaginário da República no Brasil, na parte destinada ao estudo do uso da
alegoria feminina para representar a República, apontou Joaquim Murtinho como o
responsável pelo “exemplo mais escandaloso de desmoralização da República por
meio da representação feminina”[6]
O historiador refere-se à denúncia feita pelo fervoroso adepto de Herbert
Spencer, deputado Fausto Cardoso, de que o ministro da Fazenda Joaquim Murtinho
era “um
homem que manda reproduzir nas notas do Tesouro, nos dinheiros do Estado, como
símbolo da República, o retrato de meretrizes”[7]
A figura feminina impressa na cédula
de Rs. 2$000 em 1900, segundo o parlamentar sergipano era atribuída à senhora
Prates, prostituta de renome no Rio de Janeiro. A afirmação bombástica, seguida de
exibição da cédula, apesar de ter provocado a suspensão da sessão da Câmara dos
Deputados, não foi refutada. A imagem do mau exemplo que provocou tal
indignação, segundo outros, não era da citada senhora, mas de Laurinda
Santos Lobo, sobrinha e amante do celibatário de Santa Teresa. O
historiador mineiro concluiu que a República "só encontrava seu rosto na
versão da mulher corrompida, era uma res publica, no sentido em que a
prostituta era uma mulher pública”. [8]
O mesmo caso narrado, quase meio
século depois de ocorrido pelo jornalista do Jornal do Commercio, que
assinava suas matérias com as iniciais "J.L", assumiu feições
distintas. O articulista reproduziu em sua coluna o diálogo que mantivera na
semana anterior com Juvenal Murtinho na tradicional rua Gonçalves Dias, no centro
da cidade do Rio de Janeiro, publicado no citado jornal durante a semana
comemorativa do centenário do nascimento do ilustrado brasileiro. Nessa
versão, o ministro da Fazenda quando da emissão de papel-moeda em 1900,
decidira decorar a nova cédula de Rs. 2$000 com uma estampa feminina jovem,
bonita e com tipo bem brasileiro. Para tanto encarregou o jornalista Artur
Guaraná, que fazia a cobertura de assuntos de economia para O Paiz, de se
desincumbir da tarefa[9].
Após levantamento feito pelo
periodista no estúdio fotográfico Guimarães, estabelecido na esquina das ruas
da Assembléia com Gonçalves Dias, localizou a fotografia de uma moça conhecida
nas rodas literárias e jornalísticas da capital de São Paulo, no período
1895-1898, cujo verdadeiro nome foi omitido por "J.L.", referindo-se
a ela por "Sinhazinha". A jovem senhora vivia com sua mãe e
colaborava com jovens poetas e prosadores, para o Diário Popular e outros
periódicos de pouco apuro literário. O autor, em momento algum, estabeleceu
qual era a fonte de onde ela tirava seu sustento. Repentinamente,
"Sinhazinha" viajou para o Rio de Janeiro e tempos após para a
Europa, retornando à capital brasileira em virtude de moléstia grave que
contraíra em Lisboa.
Teria falecido no ostracismo[10]
. Outra lacuna deixada pelo articulista foi o destino da mãe da jovem.
O jornalista assinalou que, logo
depois de ter entrado em circulação a nova cédula, levantou-se uma enorme onda
de indignação que, do Rio de Janeiro, se irradiou para o restante do país, com
a condenação daquele abuso de poder. A efígie seria de uma pessoa a quem
Murtinho "prodigalizava os seus favores em troca daqueles que a dama não
lhe regateava"[11]. Com toda a impressão presente em
sua formulação e com a característica escorregadia de sua redação, o depoimento
feito em 1948 não entrava em choque com a interpelação feita por Fausto Cardoso
na Câmara dos Deputados em 1900, e resgatada por José Murilo de Carvalho em
1990.
O spenceriano convicto, por certo,
jamais poderia imaginar que sua decisão provocaria tanta celeuma, ganhando até
mesmo o epíteto de escândalo. Ora, para o solteirão de Santa Teresa tudo era
proveniente do dinheiro e a forma do dinheiro retornava. Havia dedicado sua
vida inteira ao trabalho de amealhar o vil metal, e só através dele conseguia
comunicar-se com os seus contemporâneos, mesmo tratando-se de questão tão
intima. No caso em tela, ele fora presa de sua própria armadilha, armada na
interseção entre público e privado." (in, Arquivo de Sombras: A privatização do Estado brasileiro nos anos
iniciais da Primeira República. Fernando Antonio Faria. Rio de Janeiro,
Sette Letras, c.1996, p.59-62). (grifo nosso).
A questão no âmbito da
Numismática
O Meio Circulante[12]
em 1900
Tivemos
uma outra empresa que realizou impressões para o Tesouro Nacional, a inglesa Perkins, Bacon & Peth (e seus
sucessores), esta desde 1835.
Daquelas
23 cédulas da ABNCo, 20 continuaram em circulação após a queda do Império (todas
com a efígie do Imperador D. Pedro II), sendo que a última somente perdeu o
valor[14],
em 1922 (ano do Centenário da Independência).
As
emissões da República tiveram início em 1890, com quatro valores, 2$000, 5$000,
10$000 e 20$000 réis, com estampas aproveitadas do Império, substituindo-se a
efígie do Imperador por símbolos republicanos. O mesmo aconteceria em 1891 com
a emissão da cédula de 1$000 réis em que temos o Palácio Imperial (hoje Museu
Imperial) substituindo a efígie de D. Pedro II.
A
primeira cédula “própria” da era republicana viria apenas em 1892, a cédula de 100$000
réis, com a efígie da República no anverso, portando o barrete frígio[15].
Todas estas cédulas foram impressas pela ABNCo.
Desta
forma, em 1899 e nos primeiros meses de 1900, tínhamos 20 cédulas do Império
que continuavam a circular, 5 cédulas que tiveram a estampa aproveitada do
Império (com a adaptação de símbolos republicanos ou a substituição da imagem
do Imperador) e 7 novas estampas da República, perfazendo 32 estampas, todas
impressas pela ABNCo.[16]
A
cédula de 2$000 da 9ª estampa (objeto desta matéria) vinha substituir a de
2$000 réis da 8ª estampa, que havia sido aproveitada do Império, como vimos.[17]
Em
1900, teríamos ainda a emissão de outros dois valores, de 20 e 50 mil-réis,
respectivamente da 9ª e 8ª estampas, impressas pela impressa Bradbury, Wilkinson & Company Limited
(BWC), de Londres. Esta empresa seria adquirida pela ABNCo. em 1903 e mantida como subsidiária autônoma até 1986 quando foi
vendida para a De La Rue.
A American Bank Note Company (ABNCo.)
Empresa criada por Robert Scot em 1795 e consolidada em 1856/58. Segundo F.
Trigueiros, a história da empresa esta ligada a Paul Revere, que "...em
1775, pela primeira vez, empregou o processo calcográfico na impressão de
valores, ou seja, gravou nos Estados Unidos
da América o primeiro bilhete de banco, sendo considerado o Pai da
Indústria" (op.cit. p.171).
A empresa no decorrer dos anos produziu, além de cédulas bancárias, selos
postais, certificados de ações, cheques de viagem, passaportes, cupons
alimentares e outros documentos de segurança.
O
ABNCo. foi uma das maiores empresas de impressão de papéis de segurança do
mundo, quiçá a maior. Dentre as concorrentes podemos citar a inglesa Thomas de La Rue & Company (TDLR), hoje, apenas De La Rue.
A empresa produziu cédulas bancárias
até na década de 80. Seu prédio em Manhattan (70, Broad Street) que foi
construído entre 1907/1908 em estilo neoclássico foi vendido a investidores
imobiliários em 1984. O antigo material da empresa, como os modelos de cédulas
(specimens), provas, ensaios e até
mesmo chapas de impressão, começaram a ser leiloados a partir de 1993 e ainda
podem ser encontrados nos dias de hoje.
A
empresa continua existindo, agora com nova denominação American Banknote Corporation (grupo ABnote) e sempre no campo de
documentos de segurança.
Atuava
no Brasil e foi recentemente vendida, produzia entre outros, cartões
telefônicos.
Data
de 1857 os primeiros trabalhos realizados pela ABNCo. para o Brasil. Foram os bilhetes
da Caixa Matriz do Banco do Brasil (1853-1889). Para o Tesouro Nacional (Órgão
que se ocupava do Meio Circulante antes da criação do Banco Central), as
primeiras cédulas foram realizadas em 1869, 5 e 10 mil-réis, apresentando a
efígie de D. Pedro II, ainda jovem, e as últimas em 1966, cédula de 10.000
cruzeiros (C060 e C060A), com Alberto Santos Dumont e o 14 bis.
Portanto,
a ABNCo. forneceu cédulas para o Brasil de 1857 a 1966 (109 anos[18]),
uma relação mais do que centenária.
Na
concepção das cédulas, a empresa utilizava, com freqüência, dos motivos
desenvolvidos por seus gravadores em mais de uma cédula e para países
diferentes (como é o caso que analisamos aqui).
No
entanto, na maioria das vezes estes temas estavam em consonância com a cultura
e história nacional. Existem alguns casos esparsos em que esta regra não foi
observada.
O gravador Sukeichi Oyama (1858-1922)
Sukeichi Oyama nasceu em Shimo-arada (distrito de Kagoschima), no
Japão. Na adolescência foi para Tóquio e em 1875 entrou para a Escola de Takashima
(hoje Universidade Nacional de Yokohama) para aprender inglês.
Devido
a suas boas notas foi selecionado para estudar nos Estados Unidos, lá passando
dois anos. Após retornou ao Japão foi contratado pelo Departamento de impressão
do Ministério das Finanças, que havia sido estabelecido em 1871.
Em
1885, com nove anos de experiência, ele foi enviado aos Estados Unidos para
aprender desenho e gravura em cédulas bancárias, no U.S. Bureau of Engraving and Printing (BEP).
Em
1890, retornou ao Japão por um curto período e em 1891 voltou para os Estados
Unidos onde foi contratado pela ABNCo. (localizada nesta época na Trinity Place no distrito financeiro de Manhatan)
como gravador.
Durante o período de 1891 a 1899 trabalhou como
gravador na ABNCo. Este é o período que no interessa na sua carreira.
Em 1900 ele retorna ao
Departamento de Impressão do Japão, onde ele gravou, entre outros, o retrato de
Katamari Fujiwara, para a cédula de
100 yen (P.33).
Ele chegou a chefe
daquele departamento e foi um dos introdutores do estilo Ocidental no Japão.
Morreu em 1922.
Entre
as gravuras que realizou[19]
e que são pertinentes a esta matéria, temos:
C-515 Zella 12/1893 retrato
"Saudade" de Conrad Kiesel[21]
C-537 Reverie 5/1894 pintura
de Paul Thumann's – "The Fates"
C-538 Mima 1894 retrato
"Dolores" de Conrad Kiesel
A
gravura "Zella", como
vimos, foi utilizada pelo menos durante cinco oportunidades, vejamos:
- 20
dólares de 1897 (PS627) do Bank of
Nova Scotia (Província da Nova Escócia – Canadá).
- 20
pesos de 1898[22]
(PS180) do El Banco de Concepción
(Chile).
- 100
pesos de 1898 (PS199) do El Banco de
Coahuila (México).
- 2
mil-réis de 1900, (P.11; R082) 9ª estampa do Tesouro Nacional (Brasil)
- 2
mil-réis de 1918, (P.13; R084) 11ª estampa do Tesouro Nacional (Brasil)
A
gravura "Mima" foi
utilizada em pelo menos duas oportunidades, vejamos;
- 1000
dólares (certificado de ações) de 1895 da New Orleans & Western Terminal RR – Estados Unidos.
- 500
pesos de 1897/1898 (PS200) do El
Banco de Coahuila (México).
Finalmente
a gravura "Reverie"[23]
em diversas oportunidades, vejamos:
- Série
de bilhetes da Caixa de Estabilização (R184-190; P.103-109) – Brasil.
- 50
dólares do Merchants Bank of Canadá (PS 1163) – Canadá.
- 1000
dólares (certificado de ações) de 1906 da City of Cincinati – Estados
Unidos.
- 1000
dólares (certificado de ações) de 1901 do Newport News & Old Point Rwy
& Eletric. – Estados Unidos.
- 10
centavos (bônus de consumação) do Consumers' friend de 1973 – Estados Unidos.
As informações dadas por Trigueiros e pelos
boletins das sociedades numismáticas.
"O aparecimento da mulher, na cédula brasileira, deu margem a
muitos comentários, na época em que se verificou o lançamento das notas de 2
mil réis, da 9ª e 11ª estampas, embora o retrato seja reprodução de um quadro
denominado "Saudade" do pintor austríaco Conrad Kiesel. A bela cabeça
de mulher nas cédulas da Caixa de Amortização é a mesma do reverso da cédula de
100 mil-réis, da 11ª estampa, emitida em 1909, ano que ocuparam a Pasta da
Fazenda David Campista e Leopoldo de Bulhões. A maledicência afirmou, no
entanto, ser aquela figura a da amante do Ministro da Fazenda da época, fato
até hoje tido, por muitos com verdadeiro" (op.
cit. P. 179)
O
Boletim informativo da S.F.N de João Pessoa, de 2001, comentando um artigo do
Boletim da SNB, n° 50 de 1976, nos traz:
"No ano de 1900, o Tesouro Nacional (TN), colocou em circulação uma
nota de 2 mil-réis da 9ª estampa, impressa pela American Bank Note Co. trazendo
no medalhão a figura de uma bela mulher (D R82). Ao chegar as ruas, muitas
pessoas passaram a comentar maliciosamente que a mulher retratada era amante do
então Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho. Na Câmara Federal dos Deputados
acusavam o ministro de representar a república com um retrato de uma prostituta
famosa na Capital Federal. Foi um escândalo enorme. Até mesmo Rui Barbosa entrou
nas discussão afirmando ser “autêntico o
ignóbil corpo de delito” acrescentando não haver nada na efígie daquela
mulher que não nomeasse uma rainha do mundo obsceno.
Os deputados governistas defendiam o ministro alegando que ele ignorava
completamente a escolha do tipo representativo da República que era de
iniciativa da Casa da Moeda. O TN alegava com razão que a imagem era um detalhe
do quadro “Saudade” do pintor austríaco Conrad Kiesel. Logo correu o boato que
o governo teria encomendado a um artista pintar o quadro da famosa mulher para
disfarçar o embaraço. O TN usou a mesma imagem em 1918 na nota também de 2
mil-réis, 11ª estampa (D R084), alterando apenas as cores.
Joaquim Murtinho, o pivô de toda essa historia foi posteriormente
homenageado pelo TN. Sua imagem decora, coincidentemente, as notas de 2
mil-réis emitidas em 1920, 1921 e 1923 (D R086 a 88) (in, Boletim Informativo da S.F.N. João Pessoa – Ano XVII, n°68,
out/dez 2001, p.4)
Na
seqüência, intitulada "A Verdadeira História", concluem por atribuir
ao gravador Sukeiche Oyama a autoria
do desenho, vejamos:
"O famoso gravador japonês Sukeichi Oyama (1858-1922) trabalhou
para a American Bank Note Co. De 1891
a 1899. Nos anos 1893/94 realizou uma série de retratos
femininos que não visavam nenhuma encomenda específica, mas eram para o estoque
de gravação do ABNC, tanto que foram posteriormente usados em diversas notas ou
mesmo em apólices/certificados de ações. Esses trabalhos receberam títulos
(Haidee, Zella, Reverie, Mima, Lolita, Tunis Girl). Um desses retratos – Zella
– é o que foi usado na cédula de 2 mil-réis objeto de tanta celeuma. A mesma
Zella foi também usada na nota de 100 pesos do Banco de Coahuila, México
(PS199) e na de 20 dólares do Bank of Nova Scotia, Canadá (PS627). Na Revista
da International Bank Note Society (IBNS – Journal, vol. 40, n° 2, 2001), foram
publicados dois artigos que são fundamentais para melhor se conhecer o gravador
Sukeichi Oyama."
(Idem, p.4)
Fig.2
– "Zella", gravura de Sukeichi Oyama (1893), nas diversas cédulas
onde foi reproduzida, na seqüência temos: 20 dólares de 1897 (anverso) do Bank
of Nova Scotia, Canadá (PS627),20 pesos de 1898 (reverso) do El Banco de
Concepción, Chile (PS180), 100 pesos de 1898 (reverso) do El Banco de Coahuila,
México (PS199), 2 mil-réis de 1900 (anverso) do Tesouro Nacional, Brasil
(P.11;R082) e 2 mil-réis de 1918 (anverso) do Tesouro Nacional, Brasil
(P.13;R084).
Analisando a questão
Antes
de tudo, devemos observar como o filósofo Bacon, que o ser humano prefere crer a examinar.
Tentando
fugir a regra, vamos examinar.
A
acusação feita pelo Deputado Fausto Cardoso, como consta da ata de 6 de setembro de 1900, não foi
contestada diretamente pelo Ministro da Fazenda (Joaquim Murtinho).
Era
uma acusação grave. Estamos num campo altamente conservador, quando se fala em
representação nos "dinheiros do Estado", estamos falando de um
poderoso meio de comunicação, que atinge toda a massa da população, diríamos, o
rico, o pobre, o letrado e o iletrado, o observador, e o distraído[24]...,
motivo suficiente para o rigorismo que acompanhou e ainda acompanha toda
existência de nosso Meio Circulante, seja nas moedas ou nas cédulas. Este é um
fenômeno que pode ser verificado praticamente no mundo todo.
Pelo
fala do Deputado notamos que apesar da gravidade das acusações, ele não
apresentou nenhuma prova definitiva que pudesse comprometer o Ministro. Além
dos mais, foi impreciso. O Deputado menciona "retratos de meretrizes"
e "notas do Tesouro" no plural. Na verdade havia apenas uma cédula (a
de 2$000 réis de 1900).
Mas
não obstante, a acusação não poderia ser gratuita, justamente pela gravidade do
fato. O Deputado não iria se arriscar em fazer tal afirmação baseando-se apenas
em boatos, mesmo que devido às circunstâncias nada pudesse ser provado.
Também
devemos considerar que o Deputado não conhecia toda a amplitude dos fatos e que
a partir da denúncia tudo desaparecera, a moça, o retrato, restando apenas
alguns indícios.
Nos
boletins das Sociedades Numismáticas e em F. dos SantosTrigueiros, encontramos
algumas informações interessantes. Os Deputados governistas teriam defendido o
Ministro afirmando que ele ignorava completamente a escolha do motivo a ser
representado na cédula e que a imagem havia sido obtida a partir de um detalhe
de um quadro denominado "Saudade"
do pintor austríaco Conrad Kiesel.
Em
Trigueiros a mesma historia, "reprodução
de um quadro denominado "Saudade" de Conrad Kiesel. No entanto,
Trigueiros, menciona as cédulas de maneira confusa, a cédula da 11ª estampa
(cédula semelhante a Fig. 1, mas com as cores alteradas) foi emitida apenas em
1918, portanto, longe destes acontecimentos. Além disso, menciona as cédulas da
Caixa de Estabilização, que apesar de serem do mesmo gravador[25],
Sukeichi Oyama, foram emitidas apenas
em 1926. No medalhão destas cédulas temos a imagem denominada
"Reverie", que foi "inspirada" (podemos até dizer que é a
gravação em talho doce[26]
da imagem sendo uma reprodução fiel e não apenas inspiração), da pintura de
Paul Thumann's – "The Fates", como anotamos acima. Neste caso temos a
prova de que os gravadores da ABNCo. utilizavam imagens de outros artistas.
Quem
foi Conrad
Kiesel? Ele existiu? Sim, foi um pintor alemão (1846-1921), estudou
originariamente arquitetura na Academia de Berlim, foi também escultor antes de
se dedicar à pintura, tendo alcançado grande sucesso. Kiesel é conhecido pela representação de belas jovens, não tanto pelo
retrato em si, mas pela homenagem à beleza feminina que eles representam. Essa
perfeição é maximizada pelo notável acabamento e pela pureza de tons em suas
pinturas e o exotismo mostrado dos povos do sul e do leste. Alguns de seus
trabalhos foram publicados no “The
Illustrated London News”, de 1883
a 1889[27].
Seu trabalho ficou conhecido através do mundo e está representado em inúmeras coleções
na Europa e nos Estados Unidos. Ele morreu em Berlim em 1921.
De
sua obra, vamos destacar aqui apenas o que nos interessa diretamente.
A
ABNCo., através de seu gravador, Sukeichi Oyama, utilizou o retrato de
Conrad Kiesel, denominado "Dolores"
para realizar a gravura Mima
(Vinheta n° C-538 – 1894), veja as duas primeiras imagens da Fig.3. e a segunda
da Fig.4. Trata-se da "mesma" imagem, nos mínimos detalhes.
A
gravura Mima foi utilizada pela ABNCo., entre outros, para ilustrar a cédula de
500 pesos do Banco de Coahuila, de 1898 (PS200). Desta mesma "família",
faz parte a cédula de 100 pesos em que temos "Zella". Estes dois
retratos parecem ser da mesma jovem.
Encontramos
diversas obras de Conrad Kiesel, mas não a denominada "Saudade" que
teria sido a "inspiração" para a realização de "Zella" por Sukeichi Oyama.
Saudade,
palavra originária do latim "solitatem"
que quer dizer solidão, só é conhecida no galego e no português. É uma das palavras
mais presentes na poesia de amor da Língua Portuguesa. Teria surgido no tempo
das navegações para representar o sentimento de falta causado pelas longas
viagens.
Fig. 3 – Mima, gravada por Oyama, certificado de ações da New Orleans & Western Terminal RR,
1895, Estados Unidos; Mima, 500 pesos de 1897/1898 (reverso), PS200, do El Banco de Coahuila, México; ?, 200
mil-réis de 1908 (reverso), (R147; P.76) do Tesouro Nacional, Brasil; Reverie, 10
mil-réis de 1926 (anverso), (R184; P.103) da Caixa de Estabilização, Brasil e
Reverie, 100 mil-reis de 1909 (reverso), (R136; P.65), do Tesouro Nacional,
Brasil.
Das cédulas brasileiras do mil-réis
do período republicano existem apenas três imagens representando a República
que não são do modelo clássico, ou seja, apresentando o barrete frígio[28].
Estas imagens são: "Zella", "Reverie", ambas do gravador Sukeichi Oyama, como vimos, e finalmente
a que se encontra na cédula de 200 mil-réis de 1908, também da ABNCo, que
desconhecemos a autoria, mas que pode bem ser a mesma "jovem"
representada nas outras imagens.
Dos
retratos de Conrad Kiesel, a pintura
denominada "Senorita" nos parece a mais próxima na falta da
denominada "Saudade". Existem semelhanças, ele pode ter realizado
vários retratos e não apenas um, afinal, "a jovem vinha do Brasil".
Conclusão
Não
podemos afirmar com certeza que a gravura "Zella" da cédula de 2
mil-réis de 1900 foi mandada executar por determinação do então Ministro da
Fazenda Joaquim Murtinho. Mas isto não é impossível de ter acontecido como
muitos afirmam.
As
datas (nem sempre confiáveis) são todas do período considerado, mesmo que haja
algumas distorções. As imagens comprovam que os gravadores da ABNCo. utilizavam
pinturas de artistas para realizar suas gravuras (aliás não existe nada de
reprovável nesta ação) e que empregavam estas gravuras em mais de uma cédula,
também, uma atitude normal, considerando o trabalho envolvido.
Um
dos retratos de Conrad Kiesel, "Dolores" foi utilizado por Sukeichi Oyama para realizar uma de suas
gravuras, como vimos. Ficando, assim, estabelecido um liame entre os dois
artistas.
A
afirmação de que a jovem era uma "meretriz" refletia o estado de
desenvolvimento social da mulher no início do Século XX. Uma jovem que aos
dezoito anos, ou até menos, que não fosse casada e com filhos, era mau vista. E
ainda se participasse da vida artística, teatral, etc, não haveria dúvidas "que se tratava de uma rainha do mundo
obsceno", nas palavras de nosso jurista mais famoso.
Sobre este assunto temos a citação de Charles Expilly e a "constatação" da Revista íris de 1905, vejamos:
"Uma mulher já é bastante
instruída quando lê corretamente as suas orações e sabe escrever a receita de
goiabada. Mais do que isso seria um perigo para o lar". (Charles Expilly, cronista
francês) (in, Nosso Século, 1900-1910.
São Paulo: Abril Cultural, 1980, p.112).
"Aos doze anos, a mulher é a
crisálida que espera a luz do amor para tornar-se dourada borboleta; aos treze,
é um poema lírico a que falta a última estrofe; aos catorze, é um hino de harpa
eólia; aos quinze, é um astro em torno do qual rodopiam a graça, a harmonia e o
amor; aos dezesseis, é uma estátua de Madona que procura um coração de homem
para dele fazer o seu altar..." E é preciso encontrá-lo com urgência,
pois, aos vinte e dois, será "uma lágrima da noite banhando um túmulo de
virgem", ou melhor, uma solteirona... (Citações da revista íris, 1905). (in, Nosso Século, 1900-1910.
São Paulo: Abril Cultural, 1980, p.119).
O
fato é que não se sabe ao certo quem foi a jovem, talvez uma das namoradas de
Joaquim Murtinho, já que o mesmo nunca se casou.
O
solteirão de Santa Tereza que teve a vida toda governada pelo dinheiro acabou
sendo, ele mesmo, homenageado nas cédulas do Tesouro Nacional, em 1920, 1921 e
1923. Por "coincidência" todas no valor de 2 mil-réis. Estas cédulas
foram produzidas pela Casa da Moeda e já eram o prelúdio da produção em escala
que teve inicio em 1970, com a cédula de 1 cruzeiro (figura alegórica da República
– com o barrete frigio) e a história não parou por ai, nas novas cédulas do
real, bem como nas anteriores temos a imagem da República, ela continua com o
barrete frigio, eterno símbolo da liberdade.
Obs.: O bilhete de 20 dólares do Bank of Nova Scotia do Canadá (PS627),
encontramos apenas um raro modelo (specimen)
impresso em papel cartão, tido como único. Nem mesmo no livro do Banco (que
traz a reprodução de vários exemplares), este aparece. É provável que este
bilhete não tenha circulado, ou que sua circulação tenha sido restrita. Os
demais, que trazem a gravura "Zella" ainda podem ser encontrados com
mais facilidade no mercado numismático.
A fabricação de papel-moeda é realizada por
indústria especializada, sendo que, até os anos 60 existiam aproximadamente
cerca de 20 impressores, dentre eles a American
Bank Note Company (ABNCo.) e a Thomas
de La Rue (TDLR). Com
o desenvolvimento da indústria, muitos países que anteriormente dependiam de
encomendas externas passaram a fabricantes, este é o caso do Brasil. Com estas
mudanças, a ABNCo. deixou o mercado, a que tudo indica, em 1985, ano em que foi
vendido o seu prédio histórico em Manhattan.
Bibliografia
- A formação das Almas: O imaginário da
República no Brasil. José
Murilo de Carvalho. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
- Arquivo de Sombras: A privatização
do Estado brasileiro nos anos iniciais da Primeira República. Fernando Antonio Faria. Rio de
Janeiro, Sette Letras, c.1996.
- Bilhetes Bancos Particulares y
Republica de Chile Impresos por American Banknote New York – 1865-1920, Coleccion Art., s/d.
- Boletim
da Sociedade Numismática Brasileira (SNB), n° 50, São Paulo, 1976.
- Boletim
da Sociedade Filatélica e Numismática de João Pessoa (SFNJP), n° 68, 2001, p.4.
- Brasil:
Congresso Nacional. Anais da Câmara dos
Deputados. V.5, Rio de janeiro, 6 de setembro de 1900, p.144-145.
- Catálogo J. Vinicius de cédulas do
Brasil. Cédulas do Brasil de 1773
a 1980. José Vinicius Viera do Amaral. São Paulo, 1982.
- Catálogo do Papel Moeda do Brasil,
1771-1986, Emissões oficiais, bancárias e regionais. Violo Idolo Lissa. Brasília: Ed.
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- Cédulas Brasileiras da República –
Emissões do Tesouro Nacional. Banco do Brasil S.A. Rio de Janeiro, 1965.
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Janeiro, 2ª edição, Léo Cristiano Editorial, 1987.
- International Bank Note Society Journal (IBNS - Journal), Volume 40, nº2, 2001, p.
8-27.
- Levantamento
do Meio Circulante entre os anos de 1889 (Proclamação da República) até o ano
de 1904 para o filme Sonhos Tropicais. Marcio Rovere Sandoval. Florianópolis,
2002. (não publicado).
- Nosso Século, 1900-1910. São Paulo:
Abril Cultural, 1980).
- O Meio Circulante no Brasil, 3ª Parte – A Moeda
Fiduciária no Brasil, 1771 até 1900. Julius Meili. Tipografia de Jean Frey,
Zurique, Suíça, 1903.
- Standard Catalog of World Paper Money – Specialized Issues. Edited by George S. Cuhaj, 10th edition, Vol. I,USA ,
1170 p., 2005.
- Standard Catalog of World Paper Money – General Issues (1368-1960). Edited by George S. Cuhaj, 12th edition,USA , 1224p., 2008.
- The Scotia Bank Story – A history of the Bank ofNova Scotia , 1832-1982. Joseph Schull
and J. Douglas Gibson. Toronto ,
1982.
- Standard Catalog of World Paper Money – Specialized Issues. Edited by George S. Cuhaj, 10th edition, Vol. I,
- Standard Catalog of World Paper Money – General Issues (1368-1960). Edited by George S. Cuhaj, 12th edition,
- The Scotia Bank Story – A history of the Bank of
Dedico esta matéria ao saudoso Edmundo de
Carvalho que tinha um interesse especial por esta historia. Agradeço aos
colegas da AFSC e em especial a Milton Milazzo Jr. que se desdobrou para nos
fornecer fontes importantes para elaboração desta matéria e a Rubens Mozart
pelas copias dos boletins das Associações.
Autor: Marcio R. Sandoval (sterlingnumismatic@hotmail.com)
Publicado no Boletim da AFSC (Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina) n° 63 de março de 2011, p.4-19.
Republicado no Boletim da SNB (Sociedade Numismática Brasileira – São Paulo) n° 70 de 2013, p.75-98.
[5] Boletim da Sociedade Numismática
Brasileira (SNB), n° 50, São Paulo, 1976.
[6] José Murilo de Carvalho. “República-Mulher:
Entre Maria e Marianne” In: A Formação das Almas. O imaginário da República no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.75-107.
[7] Brasil. Congresso Nacional. Anais da Câmara dos Deputados. v. 5 e 6,
p.62, 114, 145. Apud: Id. Ib. p.89-9. Vide também nesta obra: p. 149, nota 12.
[8] Id. Ib. p.89.
[9] J.L. [pseudo]. “Joaquim Murtinho”.
Rio de Janeiro: Jornal do Commercio,
11/12/1948, p.5)
[10] Id.Ib.
[11] Id.
Ib.
[12] O Meio Circulante de um país é representado
pelo conjunto de cédulas e moedas que circulam ou circularam, neste caso
trataremos apenas das cédulas do Tesouro Nacional.
[13] Não considerando as variações nas
estampas.
[15] Barrete frígio ou barrete da liberdade, espécie
de boina, originalmente utilizada pelos moradores da Frigia (Ásia Menor). Foi
adotada na cor vermelha pelos republicanos franceses que lutaram pela tomada da
Bastilha em 1789, que culminou com a instalação da primeira república francesa
em 1793, por esta razão tornou-se um forte símbolo republicano.
[16] Não levando em consideração os bilhetes dos
Bancos Particulares, que não fazem parte deste estudo. Trigueiros informa que
em 1900 haviam 33 tipos de cédulas do Tesouro Nacional em circulação
(encontramos 35) e 69 dos bancos particulares (veja op. cit. P.118).
[17] Como as impressões eram realizadas no exterior
(fonte de evasão de divisas), as cédulas da estampa anterior e mesmo as do
Império, permaneceram circulando.
[21] Estamos a procura da prova
definitiva deste fato, que seria o próprio retrato realizado por Conrad Kiesel.
[22] Neste caso existem duas datas
sugeridas, uma pelo WPM-Specialized
Issues , 1883 e outra pelo Catálogo chileno (Billetes de Bancos
Particulares y Republica de Chile – Impresos por American BankNote Co. New
York), que aponta a data de 1892. Optamos pela data de 1898 que consta de um specimen desta cédula que acreditamos
estar mais de acordo com a realidade.
[23] "Rêverie" palavra que em
francês significa estar em um estado de distração, a atividade mental esta
voltada para as lembranças, seria o sonhar acordado.
[24] Mensagem subliminar.
[26] Calcografia.
[28] Existem algumas pequenas imagens
que não portam o barrete frígio, mas não apresentam nenhuma particularidade que
as individualize como é o caso destas três imagens.
Anexos:
1.
Fig. 1 – Specimen
da cédula de 2 mil-réis da 9ª estampa do Tesouro Nacional – Brasil (1900-1920)
impressa pela American Bank Note Company
de Nova York - ABNCo. (R082s; P.11). No anverso temos “Zella”, gravura de Sukeichi
Oyama, a partir de um retrato de autoria de Conrad Kiesel denominado “Saudade”.
No reverso temos “Minerva”. (167 mm x 76 mm).
2.
Fig. 2 – Specimen
da cédula de 20 dólares do Bank of Nova
Scotia - Canada (1897) impressa pela American
Bank Note Company de Nova York - ABNCo. (P.S627). No anverso temos “Zella”, gravura de Sukeichi Oyama, a partir de um retrato de autoria de Conrad Kiesel denominado “Saudade”.
3.
Fig. 3– Cédula de 20 pesos do El Banco de Concepcion - Chile (1898) impressa pela American Bank Note Company de Nova York -
ABNCo. (P.S180). No reverso temos “Zella”,
gravura de Sukeichi Oyama, a partir
de um retrato de autoria de Conrad Kiesel
denominado “Saudade”.
4.
Fig. 4 – Cédula de 100 pesos do El Banco de Coahuila - México (1898)
impressa pela American Bank Note Company
de Nova York - ABNCo. (P.S199). No reverso temos “Zella”, gravura de Sukeichi
Oyama, a partir de um retrato de autoria de Conrad Kiesel denominado “Saudade”.
5.
Fig. 5 – Specimen
da cédula de 2 mil-réis da 11ª estampa do Tesouro Nacional – Brasil (1918-1950)
impressa pela American Bank Note Company
de Nova York - ABNCo. (R084s; P.13). No anverso temos “Zella”, gravura de Sukeichi
Oyama, a partir de um retrato de autoria de Conrad Kiesel denominado “Saudade”.
No reverso temos “Minerva”. (165 mm x 78 mm).
6.
Fig. 6 – Specimen
da cédula de 500 pesos do Banco de Coahuila – México (1897-1898) impressa pela American Bank Note Company de Nova York
- ABNCo. (P.S200). No reverso temos “Mima”,
gravura de Sukeichi Oyama, a partir
de um retrato de autoria de Conrad Kiesel
denominado “Senorita”.
7.
Fig. 7 – Specimen
da cédula de 100 mil-réis da 1ª estampa da Caixa de Estabilização – Brasil (1926-27-1950)
impressa pela American Bank Note Company
de Nova York - ABNCo. (R186s; P.105). No anverso temos “Reveria”, gravura de Sukeichi
Oyama, a partir da pintura de Paul Thumann`s – “The Fates”. No reverso temos
o antigo prédio da Caixa de Amortização no Rio de Janeiro, que abriga
atualmente o MECIR – Departamento do Meio Circulante, pertencente ao Banco
Central (187 mm x 85 mm).
8.
Fig. 8 e 9 – Retrato de Conrad Kiesel denominado “Dolores”
utilizado por Sukeichi Oyama para a
realização da gravura "Mima"
e fotografia de Joaquim Murtinho
quando jovem.
© 2011 Marcio R. Sandoval
Publicado no Boletim da AFSC (Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina) n° 63 de março de 2011, p.4-19.
Quadro de Conrad Kiesel denominado « jovem espanhola » s/d
Autor: Marcio R. Sandoval
E-mail:
sterlingnumismatic@hotmail.com
Blog: http://sterlingnumismatic.blogspot.ca© 2011 Marcio R. Sandoval
Publicado no Boletim da AFSC (Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina) n° 63 de março de 2011, p.4-19.
Republicado no Boletim da SNB (Sociedade Numismática Brasileira – São Paulo) n° 70 de 2013, p.75-98.
Atualizações
A imagem do retrato de Conrad Kiesel denominado “Jovem
Espanhola”, proveniente da empresa suíça Beurret & Bailly esta
disponível na internet desde setembro de 2012. Pelas características desde
retrato concluímos que se trata do mesmo que serviu a Sukeichi Oyama para a realização da gravura denominada “Zella”, que enfim, foi utilizada, entre
outras, na elaboração da cédula de 2 mil-réis do Tesouro Nacional de 1900. Seria
este então o quadro denominado “Saudade”,
mas não encontramos ainda nenhum documento que ateste esta informação.
Quadro de Conrad Kiesel denominado « jovem espanhola » s/d
Data de emissão da
cédula de 2 mil-réis da 9ª estampa do Tesouro Nacional (R082; P.11), 1900 ou
1899?
Segundo consta dos arquivos da American Bank Note Company[1]),
empresa que realizou a impressão, as vinte primeiras séries da cédula de 2
mil-réis da 9ª estampa do Tesouro Nacional foram impressas em junho de 1899,
sendo que as demais séries foram realizadas em outubro de 1903 (séries 21-60) e
em agosto de 1905 (séries 61-90).
O fato de terem sido impressas as primeiras
vinte séries em 1899 não quer dizer que estas cédulas entraram em circulação naquele
mesmo ano, eis que além de terem que ser transportadas ao Brasil, ainda seria necessária a conferência e assinatura pela autoridade emitente (no caso o Tesouro
Nacional), antes de serem emitidas. Ainda não encontramos o edital da Caixa de Amortização concernente a esta cédula, que poderia sanar qualquer dúvida remanescente.
Julius Meili menciona esta cédula no livro
sobre a Moeda Fiduciária, vejamos: “Lista
das notas do Tesouro em giro no fim de dezembro de 1900” , n°43 (p.127) e faz
a seguinte descrição: 2$ , 9ª Estampa (da
República) no lado direito a figura de uma bonita mulher n`um quadro oval, no
verso figura de Minerva.” Não informa a data de emissão...
© 2012 Marcio R. Sandoval
© 2012 Marcio R. Sandoval
[1] Latin American Bank Note. American Bank Note Company Archives. Ricardo M. Magan. First Edition, 2005, p.41