Passamos a transcrever o Capitulo VIII do livro de Carlos Rizzini – O Livro, o Jornal e a Tipografia no Brasil (1500 – 1822) editado pela primeira vez em 1946, com reedição fac-símile em 1988 pela Impressa Oficial do Estado de São Paulo. Obra rara e mesmo depois da reedição em 1988, ao que parece, continua inaccessível ao grande público eis que em nossa busca contínua em livrarias e sebos a encontramos numa rara ocasião. Apresentamos os textos e as imagens na íntegra e acrescentamos, na medida do possível, outras imagens pertinentes e ainda textos complementares das informações. O texto será apresentado em partes para a melhor compreensão.
Ornato de Clemente de Magalhães, aluno da Aula Régia de Desenho e Figura, do Romano, Rio, 1812
VIII
Afinal, a Tipografia
xpondo[1] ao presidente Jay a sua conversa com o estudante Maia, em Nimes, às vésperas da Inconfidência, ajuntou Jefferson esta seca informação: No Brasil não há tipografia. Só em 1808, no quarto século do Descobrimento e às portas da Independência, viríamos a conhece-la. Fomos dos últimos americanos a usá-la. E, se exceptuarmos os cabindas e assemelhados da África e da Ásia, que teriam pendurado à orelha as letras de imprimir, fomos mesmo dos derradeiros povos do universo a fruir o prodigioso invento.
2 – Custa a crer não houvesse Mauricio de Nassau introduzido o prelo em Pernambuco. Supôs-se por longo tempo o contrário, à vista de um folheto de 1647, o Brasilsche Gelt-Sack, que se declarava impresso no Recife. Varnhagen desconfiou da declaração e José Higino, após aturadas pesquisas, constatou a burla. Imprimiu-se o folheto na Holanda.
Intriga o descaso do Príncipe, não só pelo descortino da sua administração, como por ser a Holanda o centro mais adiantado da época na arte gráfica. Descaso aparente. Nassau esforçou-se em dotar o domínio de uma tipografia. Desde fevereiro de 1642, o Grande Conselho do Recife, requisitara-a à Assembléia dos Dezenove, a fim de, impressos, merecerem maior consideração as ordenanças, e os editais e bilhetes de venda, poupando-os cópias fatigantes. Atendendo, prometeu a Assembléia remetê-la e adiantava ter embarcado para o Brasil o mestre impressor Pieter Janszoon, o qual concordaria em introduzir a sua arte no Recife. Esse Janszoon faleceu em seguida. Comunicando o transtorno, reclamou o Conselho a remessa da tipografia, insistindo no argumento da despesa excessiva com as cópias dos papeis oficiais, considerada pelos escreventes serviço extraordinário. Desdobrou-se em vão a Assembléia. Nada valeriam prelos e tipos sem artífices. Que poderia fazer, se eles eram poucos e não acudiam ao seu apelo nem aos da Câmara de Hoorn e nem aos da Corporação dos Impressores? "Continuamos a procurar um tipógrafo que queira ir para aí – escrevia em 1645 –, mas até agora nenhum se apresentou." Nesse ano, já Maurício de Nassau deixara o Brasil Holandês e a insurreição queimava os pés dos traficantes seus substitutos.[2] (in, Rizzini, Carlos. O Livro, o Jornal e a Tipografia no Brasil: com um breve estudo geral sobre a informação. São Paulo: Impressa Oficial do Estado, Edição fac-similar, 1988, 309-310) (grifo nosso).
[2] V.Alfredo de Carvalho, Da Introdução da Imprensa em Pernambuco pelos Holandeses, in Rev. Inst. Arq. Pern., XI, 710.
Brasilische Gelt-Sack. Waer in dat klaerlijk vertoont wort waer dat de participaten van is. Gedruckt in Brasilien op’t Reciff in de Bree-Bijl, anno 1647 [Amsterdam ].
"Este folheto sobre o Brasil do período nassoviano estrategicamente anunciava-se impresso no Recife ("gedruckt in Brasilien op’t Reciff in de Bree-Bijl "). Esse era o dado falso para proteger os autores que faziam ataques morais a administradores da Companhia das Índias e acabou confundindo os historiadores do livro no Brasil. Documentos de 1642 que reivindicam da Holanda o envio de uma prensa ao Brasil, reforçavam a idéia de um prelo em Pernambuco nessa época. O tipógrafo holandês Pieter Janszoon morreu logo depois de chegar a Pernambuco, sem ter trabalhado". (in, Herkenhoff, Paulo. Biblioteca Nacional – A História de uma Coleção. Rio de Janeiro: Editora Salamandra, 1997, p. 78/80).
Veja também: Hallewell, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2ª edição, 2005, pg. 86. (clique no titulo para ter acesso à obra).