sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A TIPOGRAFIA NO BRASIL – PARTE III (Pe. JOSÉ JOAQUIM VIEGAS DE MENEZES)




Fig. 1 – Primeira página do opúsculo do Pe. Viegas de Menezes, Vila Rica, 1807.
“5 – Em 1807, publicou-se em Vila Rica, sem que houvesse tipografia, um opúsculo de 18 páginas, das quais 15 impressas. Abriu-as em chapas de cobre, à maneira dos velhos artistas da era tabulária, o Pe. José Joaquim Viegas de Menezes. Dessas 15 chapas, uma trazia o título, dez a vinte oitavas de um poema de Diogo de Vasconcelos ao natalício do capitão-general Ataíde e Melo, duas uma carta-dedicatória, a penúltima notas explicativas, e a última o mapa do donativo voluntário de 1806. Acompanhava o opúsculo uma gravura, também calcográfica, representando o governador e sua mulher.
Seminarista de Mariana e padre de Lisboa, aí aprendeu Viegas de Menezes desenho e suas aplicações com Conceição Veloso, na "Tipografia Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco do Cego", de que era o frade diretor. Estudou pintura, praticou as diversas maneiras de gravar em metal, e traduziu e publicou o tratado clássico de gravura do francês Abraão Bosse. De volta a Vila Rica, viveu modestamente das suas ordens, manejando o pincel e o buril nas horas de lazer. Deixou diversos trabalhos estimados e, segundo um dos biógrafos, desenhou para o pintor francês Pallière, que a assinou com o seu nome, uma coleção de cenas características brasileiras.[1]
Cerca de 1820, cedendo a instância do português Manoel Joaquim Barbosa Pimenta e Sal, chapeleiro e sirgueiro, cometeu o Pe. Vegas nova façanha, esta digna da idade moguntina: improvisou uma tipografia inteira, aparelhando o tórculo e moldando e fundindo as letras. Requerendo mais tarde isenção militar para os seus artífices, Pimenta e Sal podia alegar textualmente a D. Pedro I ter empreendido "a prontificação de uma tipografia que bem merece o epíteto de "Patrícia" pelo emprego de letras e máquinas construídas na mesma imperial cidade".
A oficina do Pe. Viegas ficara concluída em fins de 1821, mas só teve licença de funcionar em abril de 1822. No intervalo, o governo provisório de Minas montara uma outra pequena tipografia, a "Provincial" que à "Patrícia" roubou a glória dos primeiros impressos. Não assim a do primeiro jornal, pois do seu prelo saiu a 13 de outubro de 1823 o Compilador Mineiro, pioneiro da imprensa de Minas.[2] Pimenta e Sal morreu miserável na Santa Casa de Ouro Preto.” (in, Rizzini, Carlos. O Livro, o Jornal e a Tipografia no Brasil: com um breve estudo geral sobre a informação. São Paulo: Impressa Oficial do Estado, Edição fac-similar, 1988, p. 313-315) (grifo nosso).

[1] V. na Rev. Arq. Públ. Min., XI, 255, a biografia do Pe. Viegas, por seu filho Joaquim Mariano Augusto de Meneses.
[2] O administrador da Tipografia Provincial elaborara em 1822, o plano de um jornal diário, não executado. Nessa oficina imprimiu-se em abril do mesmo ano a Fala do Príncipe Regente aos mineiros. V. Xavier da Veiga, A imprensa em Minas Gerais in Rev. Arq. Púb., Min. III, ampliação da sua monografia, com o mesmo titulo publicada em 1894. Do opúsculo calcográfico, existem dois exemplares, um na Biblioteca Nacional e outro no Arquivo Público Mineiro.

Fig. 2 – Gravura do opúsculo do Pe. Viegas de Menezes, Vila Rica, 1807.
Da Biblioteca Nacional temos:
“Pouco antes do estabelecimento da Impressão Régia no Brasil, surge na antiga Vila Rica este folheto impresso através da gravação de todo seu texto, letra por letra inspiradas em Didot, em chapas de metal e não por tipos móveis. O procedimento calcográfico denota esforço técnico para atender à premente necessidade de prelos no Brasil. Houve quem, desconhecendo os trabalhos de Antonio Isidoro da Fonseca no Rio de Janeiro em 1747, reivindicasse para o opúsculo da Vila Rica a primazia da imprensa no Brasil. A Biblioteca Nacional possui dois exemplares desta obra.” (in, Herkenhoff, Paulo. Biblioteca Nacional – A História de uma Coleção. Rio de Janeiro: Editora Salamandra, 1997, p. 81).