quinta-feira, 15 de março de 2012

CASA DA MOEDA DO BRASIL – PRODUÇÃO DE CÉDULAS PARA O MERCADO EXTERNO

                                                                                    © 2011 Marcio Rovere Sandoval


Fig. 1 – Detalhe da cédula de 100 pesos da Argentina (2011) que vem sendo produzida pela Casa da Moeda do Brasil em virtude do acordo denominado “União Transitória de Empresas – UTE”, existentes entre a Casa da Moeda do Brasil e a Casa da Moeda da Argentina.
  
                                     A Casa da Moeda do Brasil (CdM-B)[1] passou a fornecer cédulas de 100 pesos a Argentina em virtude do acordo existente entre as duas empresas estatais, a CdM-B e a CdM-A (Casa da Moeda da Argentina). Este acordo é denominado “União Transitória de Empresas – UTE”, o que possibilitou, a partir de novembro de 2010, os entendimentos para o fornecimento de numerário para o país vizinho.
                                   Tais cédulas são similares às produzidas anteriormente pela CdM-A, de 100 pesos, cujo homenageado é Julio Argentino Roca. Estampas similares vinham sendo emitidas desde 1992 (P.345), em 1999 temos a P.351 e em 2003 a P. 357.
                                   Inicialmente a previsão era a produção de 140.000.000 (cento e quarenta milhões de cédulas) de 100 pesos, mas de novembro de 2010 até final de janeiro de 2011, já haviam sido entregues cerca de 106.000.000 (cento e seis milhões) de cédulas, com a previsão de se entregar mais 50.000.000 (cinqüenta milhões) de cédulas até o final de fevereiro de 2011.
                                   A cédula de 100 pesos da Argentina circula com um valor equivalente a cerca de R$40 (quarenta reais), sendo, no momento, o maior valor em circulação no país vizinho. A Argentina vinha enfrentando dificuldades pela falta de numerário especialmente no período de maior consumo que é o final do ano.
                                   Além do atendimento realizado à Argentina, a CdM-B está produzindo cédulas para o Paraguai e Haiti.
                                   Para o Paraguai existe uma previsão de entrega de cerca de 40.000.000 (quarenta milhões) de cédulas nos valores de 5 e 10 guaranis até o início do segundo semestre de 2011. Não encontramos referências, até o momento, ao que tange às estampas. Estas são cédulas de pequeno valor, se consideramos que 2,75 guaranis equivale a aproximadamente 1 real.
                                  No caso do Haiti, não se trata de venda e sim de doação que ocorre no momento da reconstrução do país, que foi assolado por um terremoto em 12 de janeiro de 2010. O valor a ser impresso é o de 20 gourdes (foram impressas 47.408.000 cédulas pela CMB). A correspondência com o real é da ordem de 25 gourdes para 1 real (2011).
                                  Nestes dois casos, do Paraguai e do Haiti, como ocorreu com a cédula da Argentina, é provável que não haja produção de novas estampas, ou seja, se utilizará os motivos das cédulas anteriormente em circulação.
                                   Como se trata de produtos de segurança, as empresas produtoras de papel-moeda, geralmente, são discretas no fornecimento de informações a cerca de seus produtos, não sendo a Casa da Moeda do Brasil (CdM-B) exceção à regra.
                                   A Casa da Moeda do Brasil é uma empresa mais do que centenária, foi fundada em 1694, ou seja, conta com 317 anos. Além das moedas e outros produtos de segurança, passou a produzir cédulas para o Brasil, de maneira experimental, ainda no Século XIX (cédulas para o Banco do Brasil a partir de 1854). Em 1970 passou a produzir, em escala industrial, as cédulas brasileiras que antes eram produzidas no exterior, principalmente pela companhia norte-americana American Bank Note Company (ABNCo.) e pela Thomas de La Rue (TDLR), inglesa.
                                   A CdM-B adquiriu recentemente novos maquinários vindo da empresa KBA-Giori, hoje KBA-NotaSys, de Lausane, Suíça.

A produção de cédulas para o mercado externo nos anos 80

                                   A produção de cédulas para outros países por parte da Casa da Moeda do Brasil teve início em 1984, para a Bolivia (os denominados “cheques de gerência”), Costa Rica, Equador, Peru, e Venezuela[2]. Vejamos estas emissões:

Bolívia - cheques de gerência

P.188[3]
$b      100.000 pesos bolivianos
quantidade: 20.000.000
1984
P.188
$b      100.000 pesos bolivianos
quantidade: 25.000.000
1985
P.189
$b      500.000 pesos bolivianos
quantidade: 35.000.000
1985
P.190
$b   1.000.000 pesos bolivianos
quantidade: 35.000.000
1985
P.192A
$b   5.000.000 pesos bolivianos
quantidade: 20.000.000
1985
P.192B
$b 10.000.000 pesos bolivianos
quantidade: 10.000.000
1985
Cédulas reaproveitadas através de superimpressão
P.197
$b   0,10 pesos bolivianos
reaproveitada da P.188
1987
P.198
$b   0,50 pesos bolivianos
reaproveitada da P.189
1987
P.200
$b   5      pesos bolivianos
reaproveitada da P.192A
1987
P.201
$b 10      pesos bolivianos
Reaproveitada da P.192B
1987


 Fig. 2 – Anverso da cédula de $b 500.000 pesos bolivianos (P.189), da Bolívia, emitida em 1985 e impressa pela Casa da Moeda do Brasil (CdM-B). À esquerda, no medalhão, temos Mercúrio, figura mitológica do Comércio.

Venezuela – cédulas

P.64
B$ 20 bolivares
quantidade: 80.000.000
1984

Fig. 3 – Anverso da cédula de B$ 20 bolivares (P.64), da Venezuela, emitida em 1985 e impressa pela Casa da Moeda do Brasil (CdM-B). À direita, temos Jose Antonio Paez.

Peru – cédulas

P.132a
100 intis
quantidade: 50.000.000
1984 (1985)
P.132b
100 intis
quantidade: 50.000.000
1985 (1986)
P.132b
100 intis
quantidade: 80.000.000
1986
P.131a
  50 intis
quantidade: 50.000.000
1986
P.131b
  50 intis
quantidade: 50.000.000
1987

  
Fig. 4 – Anverso da cédula de 100 intis, do Peru (P.132a), emitida em 1985 e impressa pela Casa da Moeda do Brasil (CdM-B). À direita, temos Ramon Castilla.

Costa Rica – cédulas

P.253
50  colones
quantidade: 15.000.000
1986 (1987-1988)
P.258
100 colones
quantidade:?
1992


 Fig. 5 – Anverso da cédula de 100 colones, da Costa Rica (P.258), emitida em 1992 e impressa pela Casa da Moeda do Brasil (CdM-B). À esquerda, temos Ricardo Jimenez.

Equador – cédulas[4]

P.125 a
1000 sucres
quantidade: 150.000.000
1986
P.125b
1000 sucres
quantidade: 100.000.000
1988
P.127a
10.000 sucres
quantidade: 100.000.000
1988


                                   No que tange a cédula de 1000 sucres do Equador (P.125 a e b), o Catálogo World Paper Money indica como impressor a Thomas de La Rue (TDLR), da mesma forma que o faz com a P.120. No caso desta última assiste razão ao catálogo, eis que consta na margem branca o nome do impressor, Thomas de La Rue, o que não se verifica no caso da P.125, que nada apresenta na margem branca.[5]
                                   No livro da Casa da Moeda do Brasil de Cleber Batista Gonçalves consta a ilustração da cédula de 1000 sucres (P.125) não deixando dúvidas que a Casa da Moeda do Brasil imprimiu esta cédula.
                                   No caso da cédula de 10.000 sucres (P.127) o World Paper Money indica como impressor o Banco Central do Equador (BCdE), mas a P.127a foi impressa, efetivamente, pela Casa da Moeda do Brasil (CdM-B); prefixos AB, AC, AD, AE e AF.


Fig. 6 – Anverso da cédula de 1000 sucres, do Equador (P.125b), emitida em 1988 e impressa pela Casa da Moeda do Brasil (CdM-B). À esquerda, temos Riminahut. Estas cédulas não contém a marca do impressor.


Uma interessante coleção

                                   Uma coleção básica das cédulas impressas pela Casa da Moeda do Brasil (CdM-B) na década de 80, para a Bolívia, Venezuela, Peru, Costa Rica e Equador totalizariam 21 estampas[6].
                                   Poderíamos incluir ainda nesta coleção, para podermos comparar o trabalho de impressão, cédulas similares impressas por outras empresas, conforme a tabela abaixo:

Bolívia

CdM-B
G&D
P.192A
P.191
P.192B
P.192

Obs.: Os cheques de gerência P.183 ($b 10.000 pesos bolivianos), P.184 ($b 20.000 pesos bolivianos) e P.185 ($b 50.000 pesos bolivianos), impressos pela empresa norte-americana JBNC (Jeffries Bank Note Company), apresentam similaridades com as cédulas impressas pela CdM-B apesar de serem de valores diferentes.

Venezuela

CdM-B
ABNCo.
TDLR
P.64
P.53 e 64A
P.63

Peru

CdM-B
TDLR
BDDK
P.131
P.130

P.132

P.133

Costa Rica

CdM-B
ABNCo.
TDLR
P.253
-
P.251/257
P.258
P.254/261
P.248

Equador

CdM-B
TDLR
P.125
P.120
P.127a



Empresas impressoras de papel-moeda mencionadas nesta matéria:



Fig.7 – Marca da Casa da Moeda do Brasil no reverso da cédula de 50 intis do Peru (P.131b) de 1987.

Bibliografia:

Gonçalves, Cleber Batista. Casa da Moeda do Brasil. 1989 Ano do Centenário da República. Rio de Janeiro: Casa da Moeda do Brasil, 2ª edição, 1989.

CUHAJ, Georg S. Standard Catalog of World Paper Money. Modern Issues 1961-Present. Iola: Krause Publications, 15 th edition, 2009.

Sobre este mesmo assunto veja a atualização: "CASA DA MOEDA DO BRASIL – PRODUÇÃO DE CÉDULAS PARA O MERCADO EXTERNO (QUADRO GERAL)"


Autor: Marcio R. Sandoval (sterlingnumismatic@hotmail.com)

Matéria publicada originalmente no Boletim n° 64 da Associacão Filatélica e Numismática de Santa Catarina (AFSC) em agosto de 2011.

© 2011 Marcio R. Sandoval 


[1] A sigla da Casa da Moeda do Brasil é CMB, aqui empregamos a sigla utilizada pela World Paper Money, CdM-B, para diferenciá-la da Casa da Moeda da Argentina (CdM-A).
[2] As que temos conhecimento.
[3] P. de "Pick", primeiro editor do Catálogo World Paper Money.
[4] O Equador adotou o dólar americano em setembro de 2000, sendo que as últimas emissões em sucres são de 1999.
[5] Neste caso pode ser que a Thomas de La Rue tenha fornecido parte das cédulas e as outras tenham sido fornecidas por outras companhias entre elas a Casa da Moeda do Brasil.
[6] Poderíamos ainda aumentar este número incluindo ai os “specimen” ou cédulas modelo, os de erros de impressão, variações nas cores (porventura existentes), etc.