A Vitória de Samotrácia na Numismática
© 2016 Marcio Rovere Sandoval
© 2016 Marcio Rovere Sandoval
retratando
a Vitória de Samotrácia (220-185
a .C.)
A Vitória de Samotrácia é uma
estátua feminina alada representando a deusa mensageira da vitória, Niké.
É parte constante de um monumento com base em forma de proa de navio. A estátua
foi realizada em mármore de Paros branco, medindo 2,75 metros de altura
com suas asas. A altura total do monumento (estátua mais a proa do navio) mede
5,57 metros.
A ilha de Samotrácia esta localizada no Mar
Egeu, ao largo da costa da Trácia, nordeste da Grécia. Ela é dominada por
uma alta montanha que se ergue do mar. No pé desta montanha, havia um
antigo santuário dedicado aos Grandes Deuses, ou deuses Cabiras[1].
Em março de 1863, Charles Champoiseau,
vice-cônsul da França em Adrianópolis[2] e arqueólogo
amador, começou a explorar aquele santuário, já em ruínas, com a pretensão de
encontrar belos objetos para o Museu Imperial de Paris.
Em 15 de abril de 1863, os trabalhadores que
exploravam a extremidade do terraço que dominava o santuário, descobriram
diferentes partes de uma grande estátua feminina. As pesquisas continuaram para
encontrar a cabeça e os braços, mas em vão. No entanto, foram encontrados
diversos fragmentos que foram cuidadosamente recolhidos e que permitiram a Champoiseau de sugerir tratar-se de uma
representação da deusa mensageira da vitória, Niké.
O material foi enviado ao Museu de Louvre em
Paris, chegando lá um ano depois, ou seja, em 11 de maio de 1864. Em 1866,
depois de um trabalho minucioso de restauração, somente o bloco principal do corpo
foi exposto, Champoiseau havia encontrado juntamente com a estátua, os
restos de uma pequena edificação composta de grandes blocos de mármore cinza,
que ele deixou lá, pensando se tratar de um túmulo.
Em 1875, um arquiteto da missão arqueológica
austríaca, examinou aqueles blocos e chegou à conclusão que montados
corretamente formariam a proa de um navio que servia de base para a estátua. Ele
ainda fez a comparação com moedas gregas datando do reino de Demétrio I da
Macedônia (336-283 a .C)[3], em que figura uma Vitória em pé sobre a proa de um
navio. Esta representação fez pensar que Demétrio havia edificado a estátua da
Vitória de Samotrácia em comemoração a vitória naval sobre Ptolomeu em Salamina
de Chipre no ano de 306 a .C.
Mas nesta época, Samotrácia encontrava-se sob o controle de Lisímaco, inimigo
de Demétrio. Assim, parece improvável que ele pudesse dedicar tal monumento a
seu inimigo. Hipóteses mais modernas situam a construção por volta do segundo
século antes de Cristo.
Figura
2 – Tetradracma de prata (17,15
g ; 27
mm ), cunhado em Salamina de Chipre em torno de
300-295 a .C.
por Demétrio Poliórcetes[4], rei da Macedônia (306-283 a .C.). No anverso temos
sobre a proa de um navio de guerra vencido, uma Vitória alada portando uma
trombeta na mão direita e na esquerda a parte superior do mastro do navio. No
reverso: Poseidôn em pé porta um tridente no braço direito e no esquerdo um
manto. À direita no exergo, legenda grega (DEMETRIOU BASILEÔS) no campo,
monograma, estrela com dezesseis pontas. Esta moeda é anterior ao reinado
macedônio de Demétrio que começou em 294. Ela comemora a vitória do filho de
Antígono, companheiro de Alexandre sobre Ptolomeu, em Salamina de Chipre em 306 a .C. É um navio de guerra
vencido, eis que o ornamento da proa, que pode ser visto logo abaixo da
trombeta, encontra-se seccionado. (BNF - Biblioteca Nacional da França, Moedas,
medalhas e antiguidades, 1973/1.73)
Em 1879, Champoiseau
informado sobre a descoberta, empenhou-se a enviar os blocos da proa a
Paris. A remontagem foi realizada no pátio do Museu do Louvre. Em seguida foi
feita a reconstrução completa da obra. Apenas a cabeça, os braços e os pés não
foram reconstituídos. A restauração foi concluída em 1884.
O monumento foi colocado então em frente ao
eixo da escada Daru que havia acabado de ser concluída produzindo um
efeito espetacular.
Em 1937, a Espanha em plena guerra civil
(1936-1939) emitiu uma cédula no valor de 1 peseta (P.94), tendo no anverso a
imagem da Vitória de Samotrácia. Ao que tudo indica, trata-se de uma emissão da
Segunda República Espanhola, ou seja, anterior ao regime franquista.
Figura
3 – Anverso da cédula de 1 peseta (P.94), da Espanha, impressa pela “Fabrica
Nacional de Moneda y Timbre” e emitida em 1937. À esquerda Vitória de
Samotrácia. Dimensão aproximada: 92
mm X 52
mm .
Em setembro de 1939, durante a 2ª Guerra Mundial, a estátua quitou o
Museu do Louvre para ser colocada em "segurança" (clique aqui
para ver a matéria sobre este assunto) no Castelo de Valençay (Indre).
Figura
4 – Vitória de Samotrácia em setembro de 1939 sendo retirada do Museu do
Louvre. Fonte: Instalattor.
Em 1941, a Grécia
sob ocupação das forças do Eixo (1941-44), emitiu duas cédulas que traziam a
Vitória de Samotrácia, a cédula de 50 lepta de 1941 (P.316) e a de 5.000
dracmas de 1942 (P.119). Em novembro de 1944 foi lançada a cédula de 50 dracmas
(P.169), já com o país liberado e que também traz a imagem da Victória de
Samotrácia.
Figura
5 –
Anverso da cédula de 50 lepta (P.316), da Grécia, impressa pela “Aspiotis-Elka”,
e emitida em 1941. Dimensão aproximada: 68 mm X 33 mm . À esquerda Vitória de Samotrácia. É umas
das menores cédulas de banco já emitidas. Além de ser impressa nas duas faces,
possui numeração e assinatura e contém até mesmo o nome do impressor.
Figura
6 – Anverso da cédula de 5.000 dracmas (P.119s), da Grécia, emitida em
1942. Dimensão aproximada: 165
mm X 82mm. No centro Vitória de Samotrácia.
Figura
7 –
Anverso da cédula de 50 dracmas (P. 169),
da Grécia, emitida em 1944. Dimensão aproximada: 115 mm X 69 mm . À esquerda Vitória de
Samotrácia.
Em 1945, a Vitória de
Samotrácia retornou ao Museu do Louvre e foi instalada no seu local
tradicional, que quitou apenas em 2013 para a restauração (a quarta da sua
história) que foi concluída, com sucesso, em 2014.
Figura
8 – Moeda de 100 francos de 1993 (KM # 1019a), AU, 17,00g; 31 mm . Série do Bicentenário
do Museu do Louvre. 5.000 exemplares. No anverso Vitória de Samotrácia.
Quadro Geral das emissões constante
nesta matéria[5]
Salamina de Chipre
|
Tetradracma de prata
|
300-
|
|
Espanha
|
1 peseta (P.94)
|
1937
|
|
Grécia
|
50 lepta (P.316)
|
18.06.1941
|
|
Grécia
|
5.000 dracmas (P.119 a, b e s)
a. Papel sem marca d água.
b. Com marca d água (mesmo papel usado nos
bônus do Tesouro (P.136-144)
s. Specimen
|
20.06.1942
|
|
Grécia
|
50 dracmas (P.169 a e s)
a. Cédula de circulação.
s. Specimen
|
9.11.1944
|
|
França
|
100 francos KM # 1019a (Prova)
|
1993 (5.000 exemplares)
|
Figura
9 – Vitória de Samotrácia no Museu do Louvre, após a restauração em 2014.
Pode-se verificar a falta dos ornamentos da proa e do rostro (ou aríete) que
era um prolongamento da proa utilizado para esmagar o casco dos navios
inimigos, que não foi encontrado.
Bibliografia:
- CoinsArchives.com
29/3/2016
- gallica.bnf.fr
/ Bibliothèque nationale de France
- La
Victoire deSamothrace à la loupe– Musée du Louvre
- Wikipédia / Démétrios ler Poliorcète
30/3/2016
- Standard Catalog of World Coins, 1901-2000. Edited by George S. Cuhaj. Iola/USA: Krause Publications, 40 th edition, 2012.
- Standard Catalog of World Paper Money, 1368-1960. Albert Pick - Edited by George S. Cuhaj. Iola/USA: Krause Publications, 12 th edition, 2008.
- Standard Catalog of World Coins, 1901-2000. Edited by George S. Cuhaj. Iola/USA: Krause Publications, 40 th edition, 2012.
- Standard Catalog of World Paper Money, 1368-1960. Albert Pick - Edited by George S. Cuhaj. Iola/USA: Krause Publications, 12 th edition, 2008.
Vídeos – história e restauração (em francês).
3 - La
Victoire de Samothrace -travail préparatoire - Victory of Samothrace
groundwork- Musée du Louvre
4 - La
Victoire de Samothrace -la restauration - Victory of Samothrace's restoration -
Musée du Louvre
Autor: Marcio R. Sandoval
© 2016 Marcio R. Sandoval
Obs.: A parte do texto que traz a história do monumento é, em boa parte, uma tradução e interpretação retirada da bibliografia apontada. Os demais apontamentos são de nossa autoria exclusiva.
[1] Divindades misteriosas adoradas em diversos locais da Grécia antiga e, sobretudo nas Ilhas de Samotrácia e de Imbros.
[2] Hoje, Edirne na Turquia.
[3] Foi
General de Alexandre o Grande e depois Rei da Macedônia (306-287 a .C.)
[4] Aquele
que“sitiava as cidades”.
[5] Não
tivemos a pretensão de ser exaustivos, mas acreditamos que em relação às
cédulas o quadro pode estar completo.