As
cédulas de 5 Cruzeiros da 2ª Estampa do Tesouro Nacional (1950-1967[1]) e a
quebra na sequência das assinaturas
Figura
1
– Anverso da cédula de 5 Cruzeiros da 2ª Estampa, Série 4170ª, n° 099966 (C 073a;
P.176c) 157 mm
X 67 mm .
Microchancelas do Ministro da Fazenda Octávio Gouvêa de Bulhões e do Diretor da
Caixa de Amortização Reginaldo Fernandes Nunes. Impressão: Thomas de La Rue & Company, Londres. Emissão dessa série pelo
Tesouro Nacional: após 20.05.1965[3].
Introdução
As
cédulas de 5 Cruzeiros da 2ª Estampa do Tesouro Nacional foram emitidas a
partir de 14.08.1950 e desmonetizadas em 13.05.1967. Foram impressas pela Thomas de La Rue & Company de Londres[4],
como pode ser constatado nas margens brancas[5]
do anverso e do reverso das cédulas.
De
1950 a
1965 foram impressas 4.700 séries, ou seja, 470.000.000 (quatrocentos e setenta
milhões) de cédulas[6].
Considerando
as assinaturas[7] e ainda
os autógrafos[8], temos dez
variações para essas cédulas e, por causa da quebra na sequência das
assinaturas (no caso, a do Diretor da Caixa de Amortização), são consideradas
ainda mais quatro variantes intermediárias, num total de quatorze, como veremos
em todos os pormenores.
As
cédulas da 1ª Estampa desse valor haviam sido impressas pela American Bank Note de Nova York (ABNCo.)[9] e
emitidas a partir de 18.11.1944[10].
No
entanto, as primeiras cédulas de 5 Cruzeiros[11]
foram emitidas em 1942, com cédulas aproveitadas do Padrão Mil-Réis (cédulas de
5 Mil-Réis da 19ª Estampa[12]),
com uma dupla superimpressão em forma de rosácea (C002; P.125). No medalhão,
tínhamos, também, a efígie do Barão do Rio Branco.
Figura
2
– Detalhe das cédulas de 5 Cruzeiros com a efígie do Barão do Rio Branco. Da
esquerda para a direita temos: 5 cruzeiros de 1942 (cédula aproveitada da 19ª
Estampa do Padrão Mil-Réis – C002; P.125); 5 Cruzeiros de 1944 (1ª Estampa –
C017; P.134) e 5 Cruzeiros de 1950 (2ª Estampa – C065; P.142). As duas
primeiras cédulas foram impressas pela ABNCo.
e a terceira pela Thomas de La Rue &
Company (TDLR), objeto do presente estudo. A Gravura do Barão do Rio Branco
(1845-1912) foi gravada originalmente por Robert
Savage (1868-1943) da ABNCo. e
utilizada pela primeira vez na cédula de 5 Mil-Réis de 1913 (R095; P.24). A
gravação realizada pela Thomas de La Rue
& Company, apesar de ter a mesma fonte (provavelmente uma fotografia do
Barão do Rio Branco), tem os traços diferentes.
Figura
3 –
Detalhe das rosáceas, contendo o valor da cédula de 5 Cruzeiros, nas três
ocasiões anteriormente descritas (figura 2). Na primeira imagem, vemos uma das
superimpressões (Casa da Moeda – 5 Cruzeiros) aplicadas nas cédulas de 5 Mil-Réis
da 19ª estampa.
As características das cédulas do Cruzeiro
As características de impressão e segurança em relação às cédulas do
Cruzeiro, impressas pela American Bank
Note Company e Thomas de La Rue &
Company, foram aprovadas pela Junta Administrativa da Caixa de Amortização[13]
em 1963 – Processo 5.890/63. Vejamos:
“O Cruzeiro foi criado
pelo Decreto-Lei n°4.791, de 5 de outubro de 1942. Suas características foram
aprovadas pela Junta Administrativa da Caixa de Amortização e são as seguintes:
CÉDULAS DE CR$1 – CR$2
– CR$5 – CR$10 – CR$20 – CR$50 –
CR$100 – CR$200 – CR$500 e CR$1.000.
Anverso – As cédulas de 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100, 200, 500 e 1.000 Cruzeiros
são impressas em papel especial de formato retangular, tamanho único, e medem,
quando novas, admitidas as tolerâncias normais, 156 x 67 mm .
Os ângulos superiores
apresentam rosáceas bordejadas por filetes ondulados, contendo os algarismos do
valor nominal em caracteres greco-romanos com terminações em fantasia; nos
ângulos inferiores, rosáceas cordiformes, ambas com os algarismos do valor
nominal idênticos aos das rosáceas superiores.
A cartela principal
traz o dístico REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL[14],
composto em caracteres greco-romanos, com terminações em espículos ou crenos.
Abaixo, em caracteres menores, sobre o fundo de segurança, está o dístico SE
PAGARÁ AO PORTADOR DESTA QUANTIA DE nas estampas
que trazem na cartela inferior, sob o dístico do valor por extenso, a expressão
valor recebido, o que não ocorre com as da estampa valor legal.
Acompanhando a curva
superior do medalhão, o dístico NO TESOURO NACIONAL, quando se trata das
cédulas com a expressão valor recebido, e TESOURO NACIONAL, no caso das cédulas
com a expressão valor legal.
Ao centro, entre dois
desenhos que compõem a rosácea principal e que incluem por quatro vezes, e em
dois tamanhos, o valor em algarismos, está a efígie do vulto homenageado, num
medalhão emoldurado e embasado, trazendo, na parte inferior da moldura, o
dístico com o seu nome.
Sob o medalhão, uma
cartela com os seguintes dísticos: VALOR DA CÉDULA POR EXTENSO e as expressões
VALOR RECEBIDO nas cédulas de impressão mais antigas e VALOR LEGAL, nas
emissões mais recentes.
Aos lados, em sentido
vertical, entre os dentículos e as tarjas, compondo o corondel, estão
destacados pequenos blocos formados por algarismos repetindo o valor.
Os motivos descritos
são impressos pelo processo calcográfico e constituem os principais elementos
figurativos da cédula.
Em toda a área livre,
observa-se o fundo de segurança, representado por pequenos algarismos do valor
nominal, contornados simetricamente por desenhos tramados, recortados por
traços sinuosos, paralelos e transversais. Em torno da rosácea principal, vê-se
um florão irisado. Todos esses motivos são impressos pelo processo “offset”.
Nas áreas livres estão distribuídos:
a)
aos lados da rosácea principal, os
elementos acessórios de identificação individual, impressos pelo processo
tipográfico em cor carmim, vistos de cima para baixo, respectivamente, à
esquerda ESTAMPA, SÉRIE e NÚMERO, e à direita, NÚMERO, ESTAMPA e SÉRIE.
b)
sob a rosácea principal, os elementos
acessórios de autenticação, as microchancelas do Diretor da Caixa de
Amortização à esquerda e a do Ministro da Fazenda à direita, impressas pelo
processo tipográfico em cor negra.
Reverso – O reverso da cédula
se compõe de um painel legendado com alegoria ou figuração que lembra motivo da
cultura pátria. Nos lados, três rosáceas superpostas, contendo, cada uma,
algarismos do valor nominal em tamanhos diferentes. Encimando e embasando o
painel, cartelas com os dísticos REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL.
Compondo a moldura do painel, vêem-se ornatos de complementação e, na parte
superior, duas pequenas cartelas com algarismos do valor nominal. A composição
do reverso é impressa em calcografia.
Nas margens brancas do anverso e do
reverso, na parte inferior, está gravado, pelo processo calcográfico, o nome da
firma impressora – American Bank Note Company ou Thomas de La Rue & Company, Limited, London. (in: Cédulas Brasileiras
da República – Emissões do Tesouro Nacional. Rio de Janeiro: Banco do Brasil
S.A. - Museu e Arquivo Histórico, 1965, p.103) (grifo nosso).
Essas características de impressão e
segurança aprovadas pela Junta Administrativa da Caixa de
Amortização em 1963,
referem-se às cédulas que vinham circulando desde 1943, quando se tentou
padronizar “em definitivo” as cédulas
brasileiras.
Mas,
como tivemos a oportunidade de mencionar, essas tentativas vinham sendo
realizadas desde o Padrão Mil-Réis, por volta de 1918.[15]
Assim, o Governo demorou cerca de quarenta e cinco anos para realizar uma
nomenclatura[16] que foi
útil apenas durante 7 anos, já que, em 1970, quando as cédulas passaram a ser
impressas no Brasil, pela Casa da Moeda, as características das cédulas mudaram
radicalmente, tornando praticamente obsoleta aquela nomenclatura.
Figura
4 –
Reverso da cédula de 5 Cruzeiros da 2ª Estampa (C072; P.176b), 157 mm X 67 mm , que traz a reprodução
do quadro de Antonio Parreiras: A Conquista do Amazonas (1907), que se encontra
no Museu Histórico do Pará, em Belém. Trata-se de um specimen de 1963. Em 1958, a Thomas
de La Rue & Company mudou sua razão social para De La Rue Company Limited PLC. Neste exemplar, podemos ver a antiga
denominação na margem branca e a nova razão social na superimpressão “De La Rue
& Co LTD”.
As Cédulas de 5 Cruzeiros da 2ª Estampa recebidas de
Londres
O livro de Cleber Batista Gonçalves,
intitulado “Casa da Moeda do Brasil”, editado em 1989, traz a relação das
cédulas de 5 Cruzeiros recebidas da Thomas
de La Rue & Company de Londres, de 21.08.1956 a 13.07.1965[17].
Vejamos:
Tabela I – Cédulas recebidas
do impressor
Data do
recebimento
|
Séries
|
Quantidade
|
|
? ?
1950 (C065; P. 142)[18]
|
1ª a 500ª
|
50.000.000
|
|
?
? 1953 (C066; P.158a)
|
501ª a
1000ª
|
50.000.000
|
|
?
? 1954 (C067; P.158b)
|
1001ª a
1300 ª
|
30.000.000
|
|
21.08.1956
(C068; P.158c)
|
1301ª a
1350 ª
|
5.000.000
|
|
08.10.1957
(C068); P.158c)
|
1351ª a
1430 ª
|
8.000.000
|
|
09.10.1957
(C068; P.158c)
|
1431ª a
1450 ª
|
2.000.000
|
|
15.10.1957
(C068; P.158c)
|
1451ª a
1500ª
|
5.000.000
|
|
17.10.1957
(C068; P.158c)
|
1501ª a
1550ª
|
5.000.000
|
|
07.11.1957
(C068; P.158c)
|
1551ª a
1600ª
|
5.000.000
|
|
22.01.1958
(C068; P.158c)
|
1601ª a
1611ª
|
1.100.000
|
|
02.01.1958
(C068; P.158c)
|
1612ª a
1615ª
|
400.000
|
|
07.01.1958
(C068; P.158c)
|
1616ª a
1665ª
|
5.000.000
|
|
30.12.1957
(C068; P.158c)
|
1666ª a
1705ª
|
4.000.000
|
|
23.12.1957
(C068; P.158c)
|
1706ª a
1725ª
|
2.000.000
|
|
18.12.1957
(C068; P.158c)
|
1726ª a
1775ª
|
5.000.000
|
|
17.12.1957
(C068; P.158c)
|
1776ª a
1800ª
|
2.500.000
|
|
08.01.1959
(C069; P.158d)
|
1801ª a
1827ª
|
2.700.000
|
|
14.01.1959
(C069; P.158d)
|
1828ª a
1854ª
|
2.700.000
|
|
29.01.1959
(C069; P.158d)
|
1855ª a
1881ª
|
2.700.000
|
|
20.02.1959
(C069; P.158d)
|
1882ª a
1951ª
|
7.000.000
|
|
06.03.1959
(C069; P.158d)
|
1952ª a
2050ª
|
9.900.000
|
|
10.04.1959
(C070; P.158e)
|
2051ª a
2130ª
|
8.000.000
|
|
27.04.1959
(C070; P.158e)
|
2131ª a
2158ª
|
2.800.000
|
|
18.05.1959
(C070; P.158e)
|
2159ª a
2212ª
|
5.400.000
|
|
04.06.1959
(C070; P.158e)
|
2213ª a
2266ª
|
5.400.000
|
|
23.06.1959
(C070; P.158e)
|
2267ª a
2300ª
|
3.400.000
|
|
08.05.1962
(C071; P.176a)
|
2301ª a
2320ª
|
2.000.000
|
|
28.05.1962
(C071; P.176a)
|
2321ª a
2420ª
|
10.000.000
|
|
29.05.1962
(C071; P.176a)
|
2421ª a
2500ª
|
8.000.000
|
|
26.06.1962
(C071; P.176a)
|
2501ª a
2591ª
|
9.100 000
|
|
27.06.1962
(C071; P.176a)
|
2592ª a
2691ª
|
10.000.000
|
|
28.06.1962
(C071; P.176a)
|
2692ª a
2780ª
|
8.900 000
|
|
16.08.1962
(C071; P.176a)
|
2781ª a
2876ª
|
9.600 000
|
|
13.08.1962
(C071; P.176a)
|
2877ª a
2900ª
|
2.400 000
|
|
09.01.1963
(C071; P.176a)
|
2901ª a
3004ª
|
10.400
000
|
|
10.12.1962
(C071; P.176a)
|
3005ª a
3104ª
|
10.000
000
|
|
14.11.1962 (C071; P.176a)
|
3105ª a
3204ª
|
10.000
000
|
|
04.10.1962
(C071; P.176a)
|
3205ª a
3244ª
|
4.000 000
|
|
04.10.1962
(C071; P.176a)
|
3245ª a
3294ª
|
5.000 000
|
|
04.10.1962
(C071; P.176a)
|
3295ª a
3300ª
|
6.000 000
|
|
11.09.1962
(C071; P.176a)
|
3301ª a
3396ª
|
9.600 000
|
|
13.08.1962
(C071; P.176a)
|
3397ª a
3422ª
|
2.600 000
|
|
13.08.1962
(C071; P.176a)
|
3423ª a
3472ª
|
5.000 000
|
|
13.08.1962
(C071; P.176a)
|
3473ª a
3500ª
|
2.800 000
|
|
20.11.1963
(C072; P.176b)
|
3501ª a
3600ª
|
10.000.000
|
|
21.11.1963
(C072; P.176b)
|
3601ª a
3636ª
|
3.600.000
|
|
10.10.1963
(C072; P.176b)
|
3637ª a
3686ª
|
5.000.000
|
|
03.10.1963
(C072; P.176b)
|
3687ª a
3700ª
|
1.400.000
|
|
23.10.1964
(C073; P.176c)
|
3701ª a
3716ª
|
1.600.000
|
|
30.11.1964
(C073; P.176b)
|
3717ª a
3732ª
|
1.600.000
|
|
07.12.1964
(C073-74; P.176b-d)
|
3733ª a
3844ª
|
11.200.000
|
|
06.01.1965
(C074; P.176d)
|
3845ª a
3972ª
|
12.800.000
|
|
10.02.1965 (C074; P.176d)
|
3973ª a
4084ª
|
11.200.000
|
|
10.03.1965 (C074 P.176d)
|
4085ª a
4148ª
|
6.400.000
|
|
20.05.1965 (C073 a e b - C074 a e b; P.176c
e d )
|
4149ª a
4248ª
|
10.000.000
|
£
42,750.0
|
18.05.1965 (C074b; P.176d)
|
4249ª a
4298ª
|
5.000.000
|
|
18.05.1965 (C074b; P.176d)
|
4299ª a
4348ª
|
5.000.000
|
£
40,470.0
|
17.05.1965 (C074b; P.176d)
|
4349ª a
4440ª
|
9.200.000
|
|
11.05.1965 (C074b; P.176d)
|
4441ª a
4490ª
|
5.000.000
|
£
23,940.0
|
11.05.1965 (C074b; P.176d)
|
4491ª a
4524ª
|
3.400.000
|
|
07.05.1965 (C074b; P.176d)
|
4525ª a
4574ª
|
5.000.000
|
£
18,240.0
|
07.05.1965 (C074b; P.176d)
|
4575ª a
4588ª
|
1.400.000
|
|
13.07.1965 (C074b; P.176d)
|
4589ª a
4700ª
|
11.200.000
|
£
14,250.0
|
Total geral
de cédulas = 470.000.000 (quatrocentos e setenta milhões)
Custo
aproximado: £ 1.339.500[19]
O milheiro
de cédulas custava aproximadamente £ 2,85 em valores da época.
Tabela II – Chancelas do
Diretor da Caixa de Amortização e do Ministro da Fazenda das cédulas de 5
cruzeiros da 2ª estampa.
N°
|
Séries
|
Data de recebimento
|
Chancelas (Diretor da Caixa
Amortização e Ministro da Fazenda
|
C065; P.142
|
1ª a 500ª
|
1950
|
Autografadas
|
C066; P.158a
|
501 ª a 1000 ª
|
1953
|
Claudionor de Souza Lemos e
Horácio Lafer
|
C067; P.158b
|
1001ª a 1300ª
|
1954
|
Claudionor de Souza Lemos e
Oswaldo Aranha
|
C068; P.158c
|
1301ª a 1800ª
|
1956-58
|
Claudionor de Souza Lemos e
José Maria Alkimin
|
C069; P.158d
|
1801ª a 2050ª
|
1959
|
Claudionor de Souza Lemos e
Lucas Lopes
|
C070; P.158e
|
2051ª a 2300ª
|
1959
|
Affonso Almiro e Lucas Lopes
|
C071; P.176a
|
2301ª a 3500ª
|
1962
|
Reginaldo Fernandes Nunes e
Walter Moreira Salles
|
C072; P.176b
|
3501ª a 3700ª
|
1963
|
Reginaldo Fernandes Nunes e
Miguel Calmon
|
C073; P.176c
|
3701ª a 3748ª
|
1964
|
Reginaldo Fernandes Nunes e
Octávio Gouvêa de Bulhões
|
C074; P.176d
|
3749ª a 4148ª
|
1965
|
Sérgio Augusto Ribeiro e Octávio
Gouvêa de Bulhões
|
C073a; P.176c
|
4149ª a 4180ª
|
1965
|
Reginaldo Fernandes Nunes e
Octávio Gouvêa de Bulhões
|
C074a; P.176d
|
4181ª a 4200ª
|
1965
|
Sérgio Augusto Ribeiro e
Octávio Gouvêa de Bulhões
|
C073b; P.176c
|
4201ª a 4232ª
|
1965
|
Reginaldo Fernandes Nunes e
Octávio Gouvêa de Bulhões
|
C074b; P.176d
|
4233ª a 4700ª
|
1965
|
Sérgio Augusto Ribeiro e
Octávio Gouvêa de Bulhões
|
A quebra na sequência das assinaturas
Figura
5
– Anverso da cédula de 5 Cruzeiros da 2ª Estampa, Série 4205ª, n° 041895 (C 073b;
P.176c) 157 mm
X 67 mm .
Microchancelas do Ministro da Fazenda Octávio Gouvêa de Bulhões e do Diretor da
Caixa de Amortização Reginaldo Fernandes Nunes. Impressão: Thomas de La Rue & Company, Londres. Emissão dessa série pelo
Tesouro Nacional: após 20.05.1965.
Através das tabelas I e II podemos verificar
que até a série 4148ª (lote recebido
em 10.03.1965), tudo estava correto,
ou seja, a assinatura de Reginaldo Fernandes Nunes[20]
havia sido substituída pela de Sérgio Augusto Ribeiro[21],
novo Diretor da Caixa de Amortização[22].
A partir das séries 4149ª a 4248ª (lote
recebido em 20.05.1965), ocorreram
erros por parte da empresa impressora (Thomas
de La Rue & Company de Londres), que reutilizou a microchancela do
antigo Diretor da Caixa de Amortização, qual seja, Reginaldo Fernandes Nunes,
em duas ocasiões nesse lote, nas séries 4149ª
a 4180ª (32 séries ou 3.200.000 cédulas, chamaremos de erro n° 1) e nas séries 4201ª a 4232ª (32 séries ou 3.200.000 cédulas, erro n° 2).
As
demais séries que compunham aquela remessa, ou seja, 4181ª a 4200ª e 4233ª a
4248ª vieram corretas, com a microchancela de Sérgio Augusto Ribeiro. Dessas
séries até a última (4700ª) não houve mais erros.
Deste
modo, as séries que deram ensejo à quebra na sequência de assinaturas foram as
de números 4149ª a 4180ª (C73a; P.176c) e as de números 4201ª a 4232ª, (73b; P.176c) todas recebidas na data de
20.05.1965.
Trata-se do período de transição entre a
Caixa de Amortização e o Banco Central do Brasil, sendo que na data de
recebimento do lote em questão, qual seja, em 20.05.1965, ao que tudo indica, nem mesmo Sergio Augusto Ribeiro
exercia seu cargo. O fato é que o correto deveria ter sido a utilização de sua
microchancela nas séries 3749ª até a 4700ª, o que não veio a ocorrer.
Da existência das variantes C073 (a e b) e C074 (a e b)
As variantes C073 (a e b) e a C074 (a e b)
são apontadas no Catálogo Amato[23],
o que não ocorre no World Paper Money, que
relaciona 10 variantes, considerando apenas as assinaturas, vejamos:
5 cruzeiros 2ª Estampa – TDLR
(WPM)
P.142
|
Séries 1ª a 500ª
|
P.158ª
|
Séries 501ª a 1000ª
|
P.158b
|
Séries 1001ª a 1300ª
|
P.158c
|
Séries 1301ª a 1800ª
|
P.158d
|
Séries 1801ª a 2050ª
|
P.158e
|
Séries 2051ª a 2300ª
|
P.176ª
|
Séries 2301ª a 3500ª
|
P.176b
|
Séries 3501ª a 3700ª
|
P.176c
|
Séries 3701ª a 3748ª; 4149ª
a 4180ª; 4201ª a 4232ª
|
P.176d
|
Séries 3749ª a 4148ª; 4181ª
a 4200ª; 4233ª a 4700ª
|
O catálogo brasileiro, além das dez variantes
consideradas em relação às assinaturas, relaciona mais quatro variações
intermediárias que levam em conta a quebra na sequência das assinaturas, que
são as C073a e b e a C074a e b, vejamos:
5 Cruzeiros 2ª Estampa – TDLR
(Amato)
C.065
|
Séries 1ª a 500ª
|
C.066
|
Séries 501ª a 1000ª
|
C.067
|
Séries 1001ª a 1300ª
|
C.068
|
Séries 1301ª a 1800ª
|
C.069
|
Séries 1801ª a 2050ª
|
C.070
|
Séries 2051ª a 2300ª
|
C.071
|
Séries 2301ª a 3500ª
|
C.072
|
Séries 3501ª a 3700ª
|
C.073
|
Séries 3701ª a 3748ª
|
C.073a
|
Séries 4149ª a 4180ª
|
C.073b
|
Séries 4201ª a 4232ª
|
C. 074
|
Séries 3749ª a 4148ª
|
C.
074a
|
Séries 4181ª a 4200ª
|
C.
074b
|
Séries 4233ª a 4700ª
|
Como vimos, o erro ocorreu nas séries
recebidas em 20.05.1965, e em duas ocasiões, quais sejam, nas Séries 4149ª a 4180ª
(3.200.000 cédulas) e nas Séries 4201ª a 4232ª (3.200.000 cédulas). Essas
6.400.000 cédulas são semelhantes e foram produzidas intercaladas nas séries
que deveriam conter a assinatura de Sérgio Augusto Ribeiro (figuras 1 e 4).
Acreditamos
que a existência desses dois erros deve ser considerada, já que as demais séries,
apesar da descontinuidade, estão corretas.
Teríamos,
assim, toda a sequência de assinaturas e mais a C073a e b, apenas. O fato é que
existem dez variantes e dois erros que foram cometidos pela TDLR,
respectivamente C073a e C073b.
Seriam,
assim, 12 tipos e não 14, como relaciona o Catálogo Amato, e nem 10 como relaciona
o World Paper Money.
De
qualquer forma, as cédulas de 5 Cruzeiros da 2ª Estampa, impressas pela Thomas de La Rue & Company (TDLR) e
emitidas pela Tesouro Nacional, oferecem uma boa gama de variantes e que
existem em abundância no mercado, mesmo no estado flor de estampa,
possibilitando tanto ao veterano quanto ao
iniciante uma boa e agradável experiência.
Bibliografia
AMATO, Claudio
Patrick Et al. Cédulas do Brasil 1833
a 2011. 5ª edição, 2011.
Cédulas Brasileiras da
República –
Emissões do Tesouro Nacional. Rio de Janeiro: Banco do Brasil S.A. - Museu e
Arquivo Histórico, 1965.
GONÇALVES,
Cleber Baptista. Casa da Moeda do Brasil. Rio de
Janeiro: Casa da Moeda do Brasil, 2ª Edição, 1989.
Museu de Valores do Banco Central do Brasil – http://www.bcb.gov.br/?red-museu
PICK, Albert. Standart Catalog of World Paper Money - General
Issues, 1368-1960, 15 th edition, Edited by George S.Cuhaj, USA, 2014.
TRIGUEIROS, F.
dos Santos. Dinheiro no Brasil.
Rio de Janeiro: Leo Cristiano Editorial Ltda., 2ª edição, 1987.
Nota: Nossos agradecimentos a Felipe Augusto (http://numisbrazilis.blogspot.com) de Curitiba-PR, por nos ter
colocado em evidência as diferenças entre as microchancelas das 1ª e 2ª Estampas
do Cruzeiro.
Autor:
Marcio Rovere Sandoval
Publicado originalmente no Boletim da Associação
Filatélica e Numismática de Santa Catarina (AFSC), n° 74, agosto de 2019, p.6 a
18.
Anexo
– Conceitos pertinentes à matéria.
Apresentamos
alguns conceitos para melhor podermos compreender a catalogação dessas cédulas.
Estes conceitos nos vêm dos termos utilizados pela antiga Caixa de Amortização,
do atual Banco Central e ainda compulsando as ciências econômicas e gráficas.
Vejamos:
Denomina-se
Estampa o conjunto de
características “físicas e/ou gráficas”
de um grupo de cédulas. Assim, uma mudança nos motivos, na filigrana, na cor,
no tamanho, etc.[24]
engendram uma nova estampa. É, ainda, um elemento acessório de identificação
individual.
Constatamos
que, em várias cédulas do Mil-Réis e do Cruzeiro, temos a indicação da estampa,
o que não ocorre (ao menos explicitamente) nas cédulas de outros países, mesmo
que impressas pela American Bank Note
ou pela Thomas de La Rue & Company.
No
caso que analisamos, ou seja, da 2ª Estampa da cédula de 5 Cruzeiros, houve
diversas mudanças em relação a 1ª Estampa, vejamos algumas delas:
- Mudança da empresa impressora: as cédulas da
1ª Estampa foram impressas pela American
Bank Note & Company de Nova York (ABNCo.) e as da 2ª Estampa pela Thomas de La Rue & Company de Londres
(TDLR);
- Tratando-se de impressores diferentes, são
novas placas de impressão, que podem ser semelhantes às anteriores (como é o
caso), mas nunca iguais, eis que de gravadores diferentes.
- As assinaturas (microchancelas) vêm de novos
cartões de assinatura, que são diferentes em relação à 1ª Estampa. No caso da cédula
de 5 Cruzeiros não é possível fazer a comparação com as cédulas da 1ª Estampa,
eis que estas não comportam microchancelas, que apareceram posteriormente.
Fizemos a comparação com outras da mesma família, vejamos:
Microchancela do Diretor da Caixa de
Amortização Reginaldo Fernandes Nunes. A imagem da esquerda é da cédula de 10 Cruzeiros
da 1ª Estampa (C020; P.167b) de 1963, impressa pela American Bank Note Company de Nova York (ABNCo.) e a segunda é a de
10 Cruzeiros da 2ª Estampa (C082; P.176d) de 1965, impressa pela Thomas de la Rue & Company de
Londres (TDLR). É nítida a diferença entre as microchancelas, eis que as
assinaturas foram realizadas em momentos distintos[25]
e, como vimos, gravadas por empresas diferentes.
Série é um elemento acessório de
identificação individual que, na maioria das vezes, corresponde a 100.000
unidades, sendo o caso das cédulas que analisamos.
Número da cédula é um elemento
acessório de identificação individual, no caso das cédulas do Cruzeiro de 000 001 a 100 000 em
cada série, ou seja, com seis dígitos.
Microchancelas são as assinaturas em
tamanho reduzido. No caso em questão, temos as microchancelas do Ministro da
Fazenda e do Diretor da Caixa de Amortização.
Fundo de segurança é a impressão
subjacente, no caso em análise, de algarismos e desenhos tramados. Em geral
impresso em ofsete, sob o qual se sobrepõem as impressões em calcografia e
tipografia. A que tudo indica, o fundo de segurança era impresso em primeiro e,
depois, os demais elementos, eis que observando cem cédulas com numeração sequencial,
não fomos capazes de identificar uma só igual, o que seria de se esperar, considerando
a posição na placa de impressão. Pensamos que o mesmo ocorre com as cédulas da ABNCo. No caso da cédula de 5 Cruzeiros
da 1ª Estampa eram impressas vinte e oito cédulas por placa.
Valor recebido – é uma indicação
constante nas cédulas do Tesouro Nacional desde o Império até 1961 e que diz
respeito ao lastro monetário, representado pela expressão “se pagará ao portador desta quantia o valor de ... valor
recebido". Esse pagamento, em tese, seria realizado em ouro ou prata,
mais precisamente em moedas de ouro ou prata, como era praxe no caso dos bancos
privados e das Caixas de Conversão e Estabilização. Diríamos em tese, eis que
na prática, ao que temos conhecimento, isto aconteceu apenas com a primeira
emissão do Banco do Brasil (1º Banco do Brasil – 1808) e nas experiências das
Caixas de Conversão e de Estabilização e ainda no caso dos bancos privados que
tinham autorização para realizar emissões. O lastro nem sempre era integral.
Assim, no caso das cédulas do Tesouro Nacional, a garantia, a nosso ver, era
letra morta, existente apenas pela tradição que remontava ao Império.
Valor legal – indicação constante nas
cédulas do Tesouro Nacional e nas primeiras do Banco Central e que diz respeito
à "garantia", nesse caso, conferida em virtude da Lei. A Lei garante
a circulação da cédula, sendo obrigatório o seu recebimento. A circulação é
obrigatória porque a lei determina que seja desta forma e não pela existência
da “garantia real”, qual seja, ouro ou prata existentes em depósito.
Os
conceitos de valor recebido e valor legal são vetustos em economia, já que o
lastro desapareceu completamente na esfera internacional com a crise de 1929.
Autor:
Marcio Rovere Sandoval
Publicado originalmente no Boletim da Associação
Filatélica e Numismática de Santa Catarina (AFSC), n° 74, agosto de 2019, p.6 a
18.
[1] Foram emitidas a partir de
14.08.1950 e desmonetizadas em 13.05.1967. A Circular n° 86 de 01.04.1967
estabeleceu que as cédulas de 5, 2 e 1 Cruzeiros perderiam o poder liberatório
em 13.05.67. (Fontes: Museu de Valores do Banco Central e Casa da Moeda do
Brasil).
[2] Esta matéria contém diversas informações inéditas, fruto de
pesquisa laboriosa. A reprodução esta condicionada à autorização prévia do
autor, basta nos enviar mensagem por email – sterlingnumismatic@hotmail.com.
[3] Data do recebimento das Séries
4149ª a 4248ª da empresa impressora (Fonte: Casa
da Moeda do Brasil, Cleber Baptista Gonçalves, 1989).
[4] Impressor
britânico de papel-moeda e outros documentos de segurança. O nome atual da sociedade
é De La Rue. A companhia foi fundada
em 1821, por Thomas de La Rue em Guernsey e tem sua reputação calcada,
principalmente, na impressão de papel-moeda e selos postais para diversos
países do mundo. Produziu, também, durante muito tempo, cartas de jogo.
[5] Trata-se da superfície não impressa
que circunscreve a gravura, “com bordas
de corte mecânico”. É uma característica de impressão que no Brasil foi
utilizada desde o Império até o final dos anos 60.
[6] Podemos estimar o custo
total, em valores da época, em £ 1.339.500 (um milhão, trezentos e trinta e
nove mil e quinhentas libras), sabendo que o milheiro custava £ 2,85.
[7] Mais especificamente
microchancelas, graficamente falando, ou seja, assinaturas impressas em tamanho
reduzido. No caso, temos as microchancelas do Ministro da Fazenda e do Diretor
da Caixa de Amortização.
[8] Assinaturas de próprio punho,
com caneta-tinteiro. Praticadas desde o Império e abolidas em 1953.
[9] Empresa estadunidense fundada
em 1795 e que imprimia cédulas bancárias e outros documentos de segurança para
diversos países do mundo. Encerrou a produção de papel-moeda por volta de 1988.
Continua existindo com a denominação ABCorp.
Foi a principal fornecedora de cédulas para o Brasil, desde o Império até o
final dos anos 60. A
partir de 1948, sofreu concorrência do impressor inglês Thomas de La Rue & Company. As duas empresas vieram a perder os
contratos a partir de 1970, quando a Casa da Moeda do Brasil passou a imprimir
as cédulas no Brasil.
[10] O Museu de Valores do Banco
Central indica a data de 16.11.1944, mas constatamos que as primeiras séries
(0001/0040) foram recebidas em 18.11.1944, portanto, dois dias depois. Essas
informações nos vêm de Cleber Batista Gonçalves, na obra Casa da Moeda do
Brasil, de 1988.
[11] O Cruzeiro foi criado pelo
Decreto-Lei n° 4.791, de 5 de outubro de 1942.
[12] Foram emitidas pelo Tesouro
Nacional, em 1925. As remanescentes, que não haviam sido colocadas em
circulação, quais sejam, as séries 375ª a 436ª, foram aproveitadas para o
Cruzeiro.
[13] Órgão criado em 1828 e que,
em 1836, passou a ser responsável, entre outros, pela gestão do meio circulante até 1967, quando suas
funções foram repassadas ao Banco Central do Brasil (Decreto-Lei n° 263, de 28
de fevereiro de 1967).
[14] Nome oficial do país de 24 de
fevereiro de 1891 a
15 de março de 1967.
[15] Veja sobre este assunto a
matéria de nossa autoria intitulada “A padronização do Mil-Réis (1918-1942),
publicada no Boletim da AFSC – Associação Filatélica e Numismática de Santa
Catarina, n° 69, de março de 2015, p.4-22.
[16] Conjunto de termos específicos de uma ciência, arte ou técnica,
apresentado segundo uma classificação metódica; vocabulário técnico,
terminologia. (in: Dicionário Eletrônico Houaiss da
Língua Portuguesa, 2001).
[17] As informações existentes
dizem respeito às séries 1301ª a 4700ª. As séries anteriores, quais sejam, da
1ª a 1300ª, não constam da lista. No entanto, incluímos informações de outras
fontes, que, eventualmente, podem não ser exatas. As últimas séries trazem o
valor pago ao impressor em Libras Esterlinas.
[18] Temos aqui a catalogação
brasileira e a internacional (World Paper
Money).
[19] Aqui estamos no campo das
suposições, calculamos estes valores a partir dos dados disponíveis na
bibliografia apontada.
[20] Reginaldo Fernandes Nunes foi
Diretor da Caixa de Amortização de 07/09/1961 a 31/07/1964.
[21] Sérgio Augusto
Ribeiro foi o último Diretor da Caixa de Amortização de 01/08/1964 a
01/03/1965.
[22]Com a criação do
Banco Central do Brasil, em 31 de dezembro de 1964, a Caixa de
Amortização teve suas funções transferidas para o novo órgão, cujo primeiro
presidente foi Dênio Nogueira, de 12/04/1965 a 21/03/1967. A Caixa de
Amortização foi definitivamente extinta através do Decreto n°61.962, de 22 de
dezembro de 1967.
[23] Aqui indicamos apenas o nome
pelo qual ficou conhecido o catálogo, mas a sua
autoria é de Claudio Patrick Amato, Irlei Soares das Neves e Julio Ernesto
Schütz.
[24] No presente caso
houve a mudança de empresa impressora (ABNCo. para TDLR), com a consequente
gravação de novas placas de impressão e alteração das cores, entre outros.
[25] Ocorre mesmo entre as cédulas
que analisamos na presente matéria; a microchancela de Claudionor de Souza
Lemos (C066; P.158a e C067; P.158b) apresenta diferenças, denotando cartões de
assinatura distintos, mesmo em se tratando da mesma empresa impressora.