domingo, 8 de dezembro de 2019

Moçambique

As primeiras emissões do 
Figura 1 – Superimpressão da cédula de 50 escudos do Banco de Moçambique (P.116); emissão provisória da República Popular, 1976.
   © 2019 Marcio Rovere Sandoval

                        Em 1976, um ano após a independência do país, o Banco de Moçambique[1] realizou suas primeiras emissões. Tratava-se de uma emissão provisória. Assim, foram utilizadas cédulas das emissões anteriores do Banco Nacional Ultramarino (filial de Moçambique). Os valores aproveitados através da aplicação da superimpressão “Banco de Moçambique” foram: 50 (P.116.), 100 (P.117), 500 (P.118) e 1000 (P.119) escudos.
                        Todas as cédulas haviam sido impressas na Inglaterra, as de 50 e 1000 escudos pela Thomas de La Rue & Company (TDLR) e as de 100 e 500 escudos pela Bradbury Wilkinson & Co. (BWC)[2].
                        As cédulas eram de muito boa qualidade para os padrões da época, possuindo inclusive fio de segurança.
                        Naquele mesmo ano (1976) a Thomas de La Rue & Company (TDLR) havia projetado novas cédulas nos valores de 5, 10, 20, 50 e 100 meticais[3]. No entanto, o design não foi aprovado.
                        As cédulas em meticais entrariam em circulação apenas em 1980[4]. Nos anos 90 a TDLR voltou a imprimir cédulas para Moçambique.


Figura 2 e 3 – Logotipo do Banco Nacional Ultramarino[5], do reverso da cédula de 100 escudos (P.117) contendo um veleiro e a data de 1864 – data da fundação do banco e Brasão de Armas da Província Ultramarina de Moçambique do reverso da cédula de 500 escudos (P.118).

                        Contexto histórico: A penetração portuguesa no Moçambique teve início no Século XVI, mas somente em 1885, com a partilha da África pelas potências européias na Conferência de Berlim é que houve a submissão dos estados ali existentes, o que levou no início do Século XX a implantação de uma verdadeira administração colonial. Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de junho de 1975.
                        As cédulas que foram aproveitadas para a emissão provisória[6] haviam sido emitidas durante o período da ditadura em Portugal (Estado Novo) que durou 41anos (1933-1974). As personalidades homenageadas haviam, na maioria, participado nas guerras coloniais de submissão do território, ocorridas no final do Século XIX e início do Século XX. No caso, apenas Gago Coutinho e Sacadura Cabral (Cédula de 1000 escudos), parecem escapar a regra. As cédulas foram aproveitadas por uma questão de necessidade, assim, pouco importando as personalidades homenageadas. A superimpressão tem ai um aspecto importante, de anular por completo as mensagens da emissão antecedente, como no caso do aproveitamento das cédulas alemãs pela autoridade soviética de ocupação na Alemanha em 1948, antes da formação da RDA[7].  


Emissão provisória do Banco de Moçambique (Republica Popular do Moçambique)

Características técnicas das cédulas da emissão provisória:

P.116 – 50 escudos (1976; data antiga 27/10/1970) Anverso: Preto sobre fundo policrômico. João de Azevedo Coutinho à esquerda, brasão de armas à direita. Superimpressão horizontal “Banco de Moçambique”, substituindo e anulando a autoridade emissora anterior, qual seja a do Banco Nacional Ultramarino – BNU (filial de Moçambique).
Reverso: Logotipo do Banco Nacional Ultramarino, contendo um veleiro e a data de 1864 (data da fundação do banco).
Filigrana ou marca d água: Brasão de Armas da Província Ultramarina de Moçambique.
Apresenta fio de segurança sólido.
Dimensões: 160 mm X 80 mm
Emissão: Banco de Moçambique
Impressor: Thomas de La Rue & Company (TDLR) England.
Cédula aproveitada do Banco Nacional Ultramarino – BNU (filial de Moçambique) através do emprego de superimpressão, sobre a cédula de 50 escudos emissão de 27/10/1970 (P.111).


Figura 4 – Cédula de 50 escudos (P.116), 1976. Emissão do Banco de Moçambique. Impressão: Thomas de La Rue & Company (TDLR) England (160 mm X 80 mm).

João de Azevedo Coutinho (1865-1944) foi um político, administrador colonial e militar português. Foi Governador Geral da Colônia de Moçambique (1905-1906). Participou de diversas campanhas de “pacificação” com o objetivo de garantir a dominação portuguesa em Moçambique. Foi homenageado pelo Estado Novo (ditadura que perdurou em Portugal por 41 anos ininterruptos, desde a aprovação da Constituição de 1933 até a Revolução de 25 de abril de 1974).
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P.117 – 100 escudos (1976; data antiga 27/03/1961) Anverso: Verde sobre fundo policrômico. Aires de Ornelas à direita em um medalhão. Superimpressão horizontal “Banco de Moçambique”, substituindo e anulando a autoridade emissora anterior, qual seja a do Banco Nacional Ultramarino – BNU (filial de Moçambique).
Reverso: Logotipo do Banco Nacional Ultramarino, contendo um veleiro e a data de 1864 (data da fundação do banco).
Filigrana ou marca d água: Brasão de Armas da Província Ultramarina de Moçambique.
Apresenta fio de segurança sólido.
Dimensões: 166 mm X 85 mm
Emissão: Banco de Moçambique
Impressor: Bradbury Wilkinson & Co., New Malden, Surrey, England. (BWC).


Figura 5 – Cédula de 100 escudos (P.117), 1976. Emissão do Banco de Moçambique. Impressão: Bradbury Wilkinson & Co., New Malden, Surrey, England. (BWC). 166 mm X 85 mm

Aires de Ornelas (1866-1930) foi um político, administrador colonial e militar português. Foi Governador Geral da Colônia de Moçambique (1896-1898). Em Moçambique tomou parte de diversas campanhas contra lideranças locais. Ficou conhecido por sua “valentia” e “sangue frio”. Por incrível que possa parecer, em 1889 foi nomeado técnico na Conferência de Haia de onde saíram os primeiros tratados internacionais sobre leis e crimes de guerra.
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P.118 – 500 escudos (1976; data antiga 22/03/1967) Anverso: Púrpura sobre fundo policrômico. Alfredo Augusto Caldas Xavier à direita. Superimpressão horizontal “Banco de Moçambique”, substituindo e anulando a autoridade emissora anterior, qual seja a do Banco Nacional Ultramarino – BNU (filial de Moçambique).
Reverso: No centro, Brasão de Armas da Província Ultramarina de Moçambique.
Filigrana ou marca d água: Alfredo Augusto Caldas Xavier
Apresenta fio de segurança sólido.
Dimensões: 170 mm X 90 mm
Emissão: Banco de Moçambique
Impressora: Bradbury Wilkinson & Co., New Malden, Surrey, England. (BWC)
Figura 6 – Cédula de 500 escudos (P.118), 1976. Emissão do Banco de Moçambique. Impressão: Bradbury Wilkinson & Co., New MaldenSurreyEngland. (BWC). 170 mm X 90 mm.

Alfredo Augusto Caldas Xavier (1852-1896) foi um militar, engenheiro e administrador colonial português. Ele se distinguiu nas guerras de “pacificação” do Moçambique das primeiras décadas do Século XX.
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P.119 – 1000 escudos (1976; data antiga 23/05/1972) Anverso: Verde sobre fundo policrômico. Gago Coutinho à esquerda. Superimpressão horizontal “Banco de Moçambique”, substituindo e anulando a autoridade emissora anterior, qual seja a do Banco Nacional Ultramarino – BNU (filial de Moçambique).
Reverso: À esquerda, Gago Coutinho e Sacadura Cabral em um cockpit de um avião.
Filigrana ou marca d água: Gago Coutinho
Apresenta fio de segurança sólido.
Dimensões: 170 mm X 85 mm
Emissão: Banco de Moçambique
Impressora : Thomas de La Rue & Company (TDLR) England.

 
Figura 7 – Cédula de 1000 escudos (P.119), 1976. Emissão do Banco de Moçambique. Impressão: Thomas de La Rue & Company (TDLR) England. (170 mm X 85 mm).

Gago Coutinho (1869-1959) foi um oficial da marinha portuguesa, piloto e historiador. Em 1922 realizou a travessia aérea do Atlântico Sul, juntamente com Sacadura Cabral.

Bibliografia:

- “Moçambique” As campanhas de pacificação nas emissões do BNU, BNU, s/d.
- “Papel-Moeda” As casas fabricantes de papel-moeda contratadas pelo BNU, BNU, s/d.
- PICK, Albert. Standart Catalog of World Paper Money - General Issues, 1368-1960, 15th edition, Edited by George S.Cuhaj, USA, 2014.
- PICK, Albert. Standart Catalog of World Paper Money – Modern Issues, 1961-Present, 24th edition, Edited by Tracy L. Schmidt, USA, 2018.

Autor: Marcio Rovere Sandoval



[1] É o banco central do Moçambique. Foi fundado em 17/05/1975, substituindo o Banco Nacional Ultramarino (BNU – Filial de Moçambique), cujo patrimônio foi revertido integralmente para o novo banco.
[2] Na época da impressão destas cédulas a BWC era uma filial da American Bank Note Company (ABNCo.). Em 1986 ela foi adquirida pela Thomas de La Rue & Company (TDLR), atual De La Rue.
[3] A nova moeda de Moçambique.
[4] Desconhecemos o impressor.
[5] O Banco Nacional Ultramarino foi criado como um banco de emissão para os territórios de ultramar portugueses. Era um banco privado.
[6] Provavelmente as remanescentes que se encontravam nos cofres do banco.
[7] Veja sobre este assunto a matéria “As cédulas de Hitler”, de nossa autoria.