Guerra do Paraguai: Uma
vitória feita de dívidas[1].
Figura 1 – Anverso do specimen da cédula de 500 pesos (P.154s), da República del Paraguay, Lei de 1923. Impressão: American Bank Note Company – New York (ABNCo.). À direita temos as ruínas da Igreja de Humaitá.
“O filosofo francês Auguste Comte, ao fazer a galeria
positivista dos benfeitores da humanidade, incluiu a figura do Doutor Gaspar
Francia, fundador da nação paraguaia. Líder das campanhas que libertaram o
Paraguai do domínio espanhol em I811, Francia tornou-se o Mandatário Supremo do
país, concentrando em si toda a autoridade nacional. E sua ditadura voltada
para a ordem e o Progresso - lema positivista -, tomou as terras dos grandes
senhores rurais e eliminou a aristocracia: o povo praticamente trabalhava para
o Governo, em regime comunitário.
O prudente isolacionismo do Doutor Francia, El
Supremo, herdeiro laico do pulso jesuítico, que formou o país, fechou o acesso
do Paraguai aos países estrangeiros.
O sucessor de Francia, Carlos Antonio López, continuou
sua obra, mas mostrou-se mais maleável com relação à diplomacia externa embora
se mantivesse a distância dos interesses britânicos (que dominavam, absolutos,
o resto da América do Sul), preferiu estreitar laços com outras potências
européias, como França e Prússia.
Figura 2 – Anverso da cédula
de 5000 guaranis do Banco Central Del
Paraguay de 2010 (P.223c). À
direita temos Carlos Antonio López. Impressão: Casa da Moeda do Brasil (CMB). Este
valor também foi impresso anteriormente pela Thomas de
Mas encravado na América, o Paraguai dependia do
Uruguai para escoar seus produtos pelo estuário do Prata. Em 1850, esses dois países
firmaram um tratado em que o Paraguai se comprometia a intervir, caso a
soberania uruguaia fosse ameaçada.
O cumprimento desse tratado provocou a Guerra do
Paraguai (1865/1870), em que o país se confrontaria com a Tríplice Aliança – Brasil,
Uruguai e Argentina – alimentada por armas e capitais ingleses.
Em 1864 o Império intervém no Uruguai contra o governo
do partido blanco, que pressiona os proprietários brasileiros estabelecidos na
fluida fronteira entre os dois países.
Apoiando a oposição colorada, que lhe oferece garantias,
bloqueia Montevidéu. O Paraguai protesta, aprisionando um navio brasileiro
Após efêmera invasão do território brasileiro (Rio
Grande do Sul, Mato Grosso) as tropas paraguaias refluem para o próprio
território. Apesar da aliança que se estabelece entre os governos do Rio de
Janeiro, Buenos Aires e Montevidéu, a evidente superioridade militar paraguaia
só aos poucos vai cedendo à investida dos invasores. Mas a guerra é lenta, com longas
pausas na época das chuvas.
Em 1866, na Batalha de Curupaiti, brasileiros e argentinos
sofrem grande derrota. A guerra se prolonga, e só em 1868 os aliados, conseguem
silenciar as fortificações paraguaias de Humaitá, o que lhes abre as portas de Assunção.
Após pelejas e escaramuças várias (em Acosta-Nhu –
agosto de 1869 – desapareceram 3500 soldados paraguaios recrutados entre a
população de nove a quinze anos), a capital de López é ocupada (dezembro de
1869). Somente dois meses mais tarde terminaria o conflito, com a morte do
ditador
Figura 3 – Reverso do specimen da cédula de 500 pesos do Banco Central Del Paraguay de 1952
(P.190as). Impressão: Thomas de
Em 1870, o Paraguai estava destruído, e morta a maior
parte de sua população masculina. A história brasileira tomaria novo rumo: para
fazer frente à guerra, o Exército imperial, que até então recrutava seus
escalões superiores na elite escravocrata, teve que abrir seus quadros a outras
parcelas da população, recrutando filhos de uma nascente classe média para
posições de comando, e milhares de negros alforriados para os escalões inferiores,
o que o tornou permeável a idéias abolicionistas e republicanas.
Figura 4 – Reverso da
cédula de 2 mil-réis do Império do Brasil (P.A260) de 1889. Impressão: American
Bank Note Company (ABNCo.). No painel do reverso temos a antiga Rua Direita no
Rio de Janeiro, que em 1875 passou a se chamar 1° de Março em homenagem à
Batalha de Cerro Corá ou Aquidabanigui, que pôs fim à Guerra do Paraguai. Este
painel foi inspirado em uma fotografia de Marc Ferrez.
Os seis anos de guerra aumentaram vertiginosamente a dívida externa brasileira para com a Inglaterra – fornecedora de armas e capitais para os combatentes. Preso a essa dívida e corroído por crescente inflação, o Império brasileiro não teria mais real estabilidade econômica.”. (in, Nosso Século 1900/1910 – A Era dos Bacharéis. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 3).
Apontamentos sobre as cédulas de nossa autoria – Marcio Rovere Sandoval.
email: sterlingnumismatic@hotmail.com
[1] Trata-se de uma
transcrição de um texto sobre a Guerra do Paraguai inserido na publicação Nosso
Século da Editora Abril de 1980.