OS MUCKERS
“...no ano de 1824 chega a Porto Alegre um navio, a que seguiu logo outro, desembarcando 126 imigrantes alemãs, os primeiros que o Brasil viu. A “Feitoria” e a “Estancia Velha” deviam ser a nova pátria dos recém-chegados e, ao mesmo tempo, o berço da colônia alemã no Brasil. No ano imediato, de 1825, recebeu a colônia recém-fundada o nome de “São Leopoldo”, em homenagem à Imperatriz D. Leopoldina.” (in, Os Muckers de Ambrósio Schupp. Brasília: Senado Federal, 2004, p.4)
Os Muckers de autoria do P.e Ambrósio Schupp relata o episódio conhecido como “A Revolta dos Muckers” (1873-1874). O livro foi editado primeiramente na Alemanha[1]e teve sua primeira edição brasileira, a que tudo indica, em 1910, publicada por Selbach & Mayer Livreiros-Editores de Porto Alegre.
Os acontecimentos relatados no livro se desenvolveram no então município de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, numa localidade situada no sopé do morro do Ferrabrás, atualmente Sapiranga. Esta região foi colonizada por imigrantes alemães, daí a palavra “mucker” que é uma alcunha que significa “beato falso”.
A vinda de colonos alemães para esta região da então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul começou em 1824. Eles eram na sua maioria provenientes da Província de Hunsrück na Alemanha e contaram inicialmente com o auxílio da Imperatriz Dona Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I, que pertencia à Casa dos Habsburg[2].
Como vimos, a bela cidade de São Leopoldo no Rio Grande do Sul recebeu seu nome em homenagem à Imperatriz Leopoldina.
Quando os imigrantes alemães chegaram à região, as melhores terras já estavam ocupadas pela população local, cabendo aos recém-chegados, as terras mais distantes, cobertas de florestas virgens, situadas no vale do Rio dos Sinos. É neste local que vai se passar o drama dos muckers. A língua utilizada na região era o Plattdeutsch ou baixo-alemão e o dialeto da Província de Hunsrück.
Da população imigrante houveram aqueles que prosperaram e outros que se dirigiram à comunidades mais distantes como a do Ferrabrás, às margens do Rio dos Sinos, para se dedicar à agricultura. Lá as condições de vida eram extremamente difíceis.
Na prática os colonos foram abandonados a sua própria sorte, num território inóspito que lhes cabia desbravar.
Neste contexto, como veio a ocorrer mais tarde em Canudos e no Contestado, surgiu um movimento messiânico.
Nossa história começa em meados de 1868 quando João Jorge Maurer e sua esposa Jacobina Maurer (nascida Mentz), filhos de imigrantes, vão para aquela região. No início João Maurer, carpinteiro de profissão, começa a curar as pessoas com plantas medicinais, ganhando popularidade e acabando por ganhar a alcunha de Wunderdocktor (algo como médico prodigioso). Jacobina a este tempo aprende a ler e passa a interpretar passagens bíblicas para os pacientes do marido. Ela passará de coadjuvante para personagem principal dos acontecimentos. Aos poucos, as pessoas que afluíam ao Ferrabrás o faziam por causa de Jacobina que lhes prometia a salvação. Jacobina ao proibir seus adeptos de frequentar missas e cultos entrou em conflito com as religiões católica e protestante. Surge aí a denominação de mucker (beato falso) dado por seus opositores que por sua vez foram apelidados de Spotters (debochados) pelos muckers.
Surgem diversos conflitos, a Polícia é chamada a intervir, Jacobina e João Maurer são presos, ela vai parar num hospital, ele numa prisão. Após serem considerados inofensivos são libertados. Isto aumenta a confiança de seus adeptos. Prosseguem as reuniões no Ferrabrás e Jacobina intitula-se o “novo Cristo” nomeando apóstolos.
Pessoas que abandonam os ensinamentos de Jacobina aparecem mortas, ela é presa e os muckers passam a assassinar os adversários, não poupando nem as crianças. A Polícia acaba por pedir ajuda ao Exército Imperial, recém-chegado da Guerra do Paraguai.
Mesmo com a experiência advinda da Guerra do Paraguai, fato que virá a se repetir nos dois outros conflitos futuros (Canudos e Contestato), o Exército subestimou seus adversários. O primeiro confronto com os “fanáticos” em 28 de junho de 1874 foi desastroso, perdendo o Exército 39 soldados contra 6 dos murkers.Em 18 de julho houve outra ofensiva que provocou a morte de vários adeptos e a fuga de Jacobina. Nesta ocasião o Coronel Genuino Sampaio é ferido na “perna” o que vem a lhe causar a morte em consequência de “hemorragia”.
Em 2 de agosto de 1874 Jacobina é descoberta e morta, juntamente com seus adeptos. Houveram sobreviventes que foram perseguidos tanto pela Justiça como pelo restante da população.
Existem vários livros sobre o tema entre eles podemos citar Videiras de Cristal de autoria do romancista Luiz Antonio de Assis Brasil publicado em 1990. Temos também o filme “A paixão de Jacobina” de Fábio Barreto inspirado neste mesmo livro.
O livro Os Muckers - episódio histórico extraído da vida contemporânea nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul do Padre Ambrósio Schupp pode ser encontrado na Biblioteca on line do Senado (clique no título).
Os Muckers de autoria do P.e Ambrósio Schupp relata o episódio conhecido como “A Revolta dos Muckers” (1873-1874). O livro foi editado primeiramente na Alemanha[1]e teve sua primeira edição brasileira, a que tudo indica, em 1910, publicada por Selbach & Mayer Livreiros-Editores de Porto Alegre.
Os acontecimentos relatados no livro se desenvolveram no então município de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, numa localidade situada no sopé do morro do Ferrabrás, atualmente Sapiranga. Esta região foi colonizada por imigrantes alemães, daí a palavra “mucker” que é uma alcunha que significa “beato falso”.
A vinda de colonos alemães para esta região da então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul começou em 1824. Eles eram na sua maioria provenientes da Província de Hunsrück na Alemanha e contaram inicialmente com o auxílio da Imperatriz Dona Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I, que pertencia à Casa dos Habsburg[2].
Como vimos, a bela cidade de São Leopoldo no Rio Grande do Sul recebeu seu nome em homenagem à Imperatriz Leopoldina.
Quando os imigrantes alemães chegaram à região, as melhores terras já estavam ocupadas pela população local, cabendo aos recém-chegados, as terras mais distantes, cobertas de florestas virgens, situadas no vale do Rio dos Sinos. É neste local que vai se passar o drama dos muckers. A língua utilizada na região era o Plattdeutsch ou baixo-alemão e o dialeto da Província de Hunsrück.
Da população imigrante houveram aqueles que prosperaram e outros que se dirigiram à comunidades mais distantes como a do Ferrabrás, às margens do Rio dos Sinos, para se dedicar à agricultura. Lá as condições de vida eram extremamente difíceis.
Na prática os colonos foram abandonados a sua própria sorte, num território inóspito que lhes cabia desbravar.
Neste contexto, como veio a ocorrer mais tarde em Canudos e no Contestado, surgiu um movimento messiânico.
Nossa história começa em meados de 1868 quando João Jorge Maurer e sua esposa Jacobina Maurer (nascida Mentz), filhos de imigrantes, vão para aquela região. No início João Maurer, carpinteiro de profissão, começa a curar as pessoas com plantas medicinais, ganhando popularidade e acabando por ganhar a alcunha de Wunderdocktor (algo como médico prodigioso). Jacobina a este tempo aprende a ler e passa a interpretar passagens bíblicas para os pacientes do marido. Ela passará de coadjuvante para personagem principal dos acontecimentos. Aos poucos, as pessoas que afluíam ao Ferrabrás o faziam por causa de Jacobina que lhes prometia a salvação. Jacobina ao proibir seus adeptos de frequentar missas e cultos entrou em conflito com as religiões católica e protestante. Surge aí a denominação de mucker (beato falso) dado por seus opositores que por sua vez foram apelidados de Spotters (debochados) pelos muckers.
Surgem diversos conflitos, a Polícia é chamada a intervir, Jacobina e João Maurer são presos, ela vai parar num hospital, ele numa prisão. Após serem considerados inofensivos são libertados. Isto aumenta a confiança de seus adeptos. Prosseguem as reuniões no Ferrabrás e Jacobina intitula-se o “novo Cristo” nomeando apóstolos.
Pessoas que abandonam os ensinamentos de Jacobina aparecem mortas, ela é presa e os muckers passam a assassinar os adversários, não poupando nem as crianças. A Polícia acaba por pedir ajuda ao Exército Imperial, recém-chegado da Guerra do Paraguai.
Mesmo com a experiência advinda da Guerra do Paraguai, fato que virá a se repetir nos dois outros conflitos futuros (Canudos e Contestato), o Exército subestimou seus adversários. O primeiro confronto com os “fanáticos” em 28 de junho de 1874 foi desastroso, perdendo o Exército 39 soldados contra 6 dos murkers.Em 18 de julho houve outra ofensiva que provocou a morte de vários adeptos e a fuga de Jacobina. Nesta ocasião o Coronel Genuino Sampaio é ferido na “perna” o que vem a lhe causar a morte em consequência de “hemorragia”.
Em 2 de agosto de 1874 Jacobina é descoberta e morta, juntamente com seus adeptos. Houveram sobreviventes que foram perseguidos tanto pela Justiça como pelo restante da população.
Existem vários livros sobre o tema entre eles podemos citar Videiras de Cristal de autoria do romancista Luiz Antonio de Assis Brasil publicado em 1990. Temos também o filme “A paixão de Jacobina” de Fábio Barreto inspirado neste mesmo livro.
O livro Os Muckers - episódio histórico extraído da vida contemporânea nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul do Padre Ambrósio Schupp pode ser encontrado na Biblioteca on line do Senado (clique no título).
© 2009 Marcio Rovere Sandoval
[1] « SCHUPP, Ambros. Die Mucker: Eine Erzählung aus dem Leben der Deutschen Kolonieen Brasiliens in der Gegenwart. Bonifacius-Druckerei, 1900.
[2] Casa Imperial Austríaca (1438-1918). A grafia mais usual em português é Habsburgos, temos também Habsbourgs (inglês e francês), neste caso optamos pela grafia alemã.