sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

ALBERTO SANTOS DUMONT - DIRIGÍVEL Nº.5

O “naufrágio” aéreo de Santos Dumont com o dirigível nº.5 após colidir com o Hotel Trocadero em 8 de agosto de 1901, retratado pelo Suplemento Ilustrado do Le Petit Journal.

Capa do Le Petit Journal – Supplément Illustré de 25 de agosto de 1901 noticiando a queda do dirigível nº 5 de Santos Dumont (clique para ampliar)
Um naufrágio aéreo
O "dirigível" do Sr. Santos Dumont
Quando o Sr. Santos Dumont terá ganhado o prêmio Deutsch, será necessário convir que ele não terá voado.
Nós sabemos que o prêmio de cem mil francos esta destinado pelo seu fundador ao aeronauta que, partir da encosta de Saint-Cloud, ali terá voltado ao final de trinta minutos após ter contornado a Torre Eiffel.
Uma primeira vez, o Sr. de Santos-Dumont fez o percurso, mas perturbado pelo vento, ele ultrapassa em alguns minutos o prazo fixado.
Deveria ser feito novamente. O jovem aeronauta esperava um tempo mais favorável, e alguns dias depois, a 6 horas e 11 minutos da manhã, ele deixa a encosta de Saint-Cloud.
Tudo ai vem no começo: os curiosos o viram contornar rapidamente a Torre Eiffel e voltar com uma facilidade que não deixava nenhuma dúvida quanto ao seu sucesso; quando de repente depois de algumas ondulações inquietantes, seu aparelho desapareceu.
Ele tinha acabado de descer bruscamente e se despedaçado sobre o teto de um prédio da rua de Passy. Para sua felicidade, a parte que sustentava a cesta ficou presa. Graças ao socorro do Sr. Gustave Cassafier, antigo soldado, que, ajudado de alguns transeuntes, lhe lançou cordas, o Sr. de Santos-Dumont foi salvo.
O acidente originou-se da falta de rigidez do reservatório de gás; a dilatação prevista não aconteceu nas condições esperadas, o vento que estava na vertical durante o retorno fura o tecido e rompendo o equilíbrio.
O Sr. Dumont conhece a causa de seu acidente, ele conseguirá remediar o problema; ele precisa somente de quinze dias para construir um novo aparelho com o qual certamente, desta vez, ele conseguirá.” (in, Le Petit Journal – Supplément Illustré, nº 562, 25/08/1901, p.271). Tradução nossa.
Segue o texto original:
“Un naufrage aérien
Le "dirigeable" de M. de Santos-Dumont
Quand M. de Santos-Dumont aura gagné le prix Deutsch, il faut convenir qu’il ne l’aura pas volé.
On sait que ce prix de cent mille francs est destiné par son fundateur à l’aéronaute qui, parti des coteaux de Saint-Cloud, y será revenu au bout de trente minutes après avoir doublé la Tour Eiffel.
Une première fois, M. de Santos-Dumont fit le parcours, mas gêné par le vent il dépassa de quelques minutes le délai fixé.
C’était à refaire. Le jeune aéronaute attendit un temps plus favorable, et il y a quelques jours, à 6 heures 11 du matin, il quittait les coteaux de Saint-Cloud.
Tout alla bien au début : les curieux le virent doubler rapidement la Tour Eiffel et revenir avec une aisance que ne laissait aucun doute sur son succès; quand tout à coup après quelques ondulations inquiétantes son appareil disparut.
Il venait de descendre brusquement et de se briser sur le toit d’une grande maison du quai de Passy. Par bonheur, la partie qui soutenait la nacelle était restée accrochée. Grâce au socours de M. Gustave Cassafier, acien zouave, qui, aidé de quelques passants, lui lança des cordes, M. de Santos-Dumont fut sauvé.
L’accident provient du manque de rigidité du réservoir de gaz; la dilatation prévue ne s’y étan: pas produite dans les conditions attendues, le vent que était debout au retour creusa dans l’étoffe et rompit l’équilibre.
M. de Santos-Dumont connait la cause de son accident, il y remédiera; il ne demande que quinze jours pour construire un nouvel appareil avec lequel bien certainement, cette fois il réussira.” (in, Le Petit Journal – Supplément Illustré, nº 562, 25/08/1901, p.271).

Narração deste acidente por Santos Dumont

Reposto o balão e em estado de funcionar, revistas e consertadas todas as suas peças, cheio de novo, fiz experiências preliminares. Convocada novamente a Comissão do Aero Club, parti para a torre Eiffel que circunaveguei de novo; mas, ao voltar, desarranjou-se-me a máquina nas alturas do Trocadero. Manobro para escolher um bom lugar para descer. Supunha ter sido feliz em minhas manobras e esperava descer em uma rua, quando ouço um grande estrondo, grande como o de um tiro de canhão; era a ponta do balão que, na descida, que foi rápida, tocara o telhado de uma casa. Um saco de papel cheio de ar, batido de encontro a uma parede, arrebenta-se, produzindo grande ruído; pois bem, o meu balão, saco que não era pequeno, fez um barulho assim, mas... em ponto grande. Ficou completamente destruído. Não se encontrava pedaço maior do que um guardanapo! Salvei-me por verdadeiro milagre, pois fiquei dependurado por algumas cordas, que faziam parte do balão, em posição incômoda e perigosa, de que me vieram tirar os bombeiros de Paris. Os amigos e jornalistas me aconselharam a ficar nisso e não continuar em minhas ascensões, da última das quais me salvara por verdadeiro milagre. O conselho era bom, mas eu não pude resistir à tentação de continuar; não sabia contrariar o meu temperamento de sportsman. (in, O que eu vi, o que nós veremos. Santos Dumont, Alberto. São Paulo: Hedra, 3ª edição, 2000. (p.49-50).
Abaixo as fotos do acidente:







Textos originais em pdf (clique no título)


O que eu vi, o que nós veremos. Santos Dumont, Alberto. São Paulo: Hedra, 3ª edição, 2000.