terça-feira, 12 de janeiro de 2010

THOMAS DE LA RUE & COMPANY. LIMITED.

                                                                                         © 2010 Marcio Rovere Sandoval


A empresa inglesa Thomas de La Rue foi criada em Guernsey por volta de 1813 com o nome de "L’lmprimerie de T. de La Rue". Produziu cédulas para Brasil de 1949 a 1964 (algumas destas estampas circularam até 1975), forneceu, também, as primeiras 500 séries da estampa A da cédula de Cr$ 100.00 (cem cruzeiros) lançadas em circulação em 1970 pelo Banco Central e depois produzidas pela Casa da Moeda do Brasil.
Em 1958 mudou de denominação e passou a se chamar De La Rue Company Limited, depois em 1991, passou a se chamar De La Rue plc. Produziu suas primeiras cédulas de banco para as Ilhas Mauricio em 1860.
Transcrevemos dois textos muito interessantes que contam a história da empresa, o primeiro é de autoria de F. dos Santos Trigueiros e o segundo de Frederic Sondern Jr..
Há de se notar que o segundo texto foi realizado em 1960, momento que a empresa ainda imprimia boa parte do papel-moeda que circulava no mundo. Nos dias de hoje houveram mudanças significativas eis que muitos países passaram a imprimir suas próprias cédulas, principalmente por questões de segurança e de economia de divisas como é o caso do Brasil.










Detalhe da cédula de 1 libra de Guersey (P.48b) de 1980-89. Na parte inferior do símbolo temos: DE LA RUE, marca da empresa impressora.



F. dos Santos Trigueiros – Dinheiro no Brasil
“A Thomas de La Rue foi criada em 1813, em Guernsey, com o nome de "L’lmprimerie de T. de La Rue". Três anos depois, era transferida para Londres. Seu fundador Thomas de La Rue nasceu naquela cidade em 24 de março de 1793.
Em 1831 imprimiu um exemplar do Novo Testamento em ouro. No ano seguinte o Rei Guilherme IV concedeu-Ihe uma Carta Real de Patente para a fabricação de naipes, por processo tipográfico. Ate aquela época, os naipes eram desenhados de maneira muito trabalhosa e coloridos com aquarela, ou impressos a uma só cor e depois pinta dos a mão. Portanto, foi T. de la Rue o pai das cartas de jogo modernas. Durante anos fez baralhos para membros da Família Real Britânica, assim coma para Reis, Rainhas e Chefes de Estado da época. Ainda hoje os fabrica.
Em 1845, para atender a procura de envelopes, devido a criação do selo postal, De la Rue inventou a primeira máquina de fazer envelopes, hoje no Museu de Ciências de Londres.
Os conhecimentos adquiridos na impressão de cartas de jogar, permitiram um desenvolvimento que levou a firma a fazer selos postais, tendo de 1879 a 1910 fabricado todos os selos da Inglaterra. A firma se orgulha em ter impresso único selo dos Estados Unidos, feito no estrangeiro: o 5 centavos emitido pelos Estados Confederados da América, durante a Guerra Civil.
Com o aumento do uso de dinheiro impresso. nova oportunidade surgiu nos negócios da empresa, que se iniciou em 1864 fazendo o bilhete de 5 libras para o Governo de Maurícia, encadernado em talão de 500 exemplares. Em 1866, preparou bilhetes de banco de 5 liras para a Itália. Em 1940 teve noventa por cento de suas instalações fabris destruídas por bombardeio aéreo.
Em 1942 construíram um abrigo subterrâneo, a mais de 25 metros de profundidade, no Oeste da Inglaterra, que no final da guerra guardavam centenas de caixas de bilhetes de banco, impressos para os Governos expatriados da França, Tchecoslováquia, Polônia. Grécia e Bélgica, para serem usados depois da liberação dos seus respectivos países.
O aperfeiçoamento de suas máquinas impressoras permitiu que ganhasse, em 1957, a concorrência para fornecer 8 máquinas para o Bureau of Engraving, em Washington, onde são impressos dólares americanos. Dai em diante. crescendo sempre. se tomou empresa fornecedora de papel-moeda a vários países. Forneceu ao Brasil de 1949 a 1964, e fez as primeiras 500 séries da estampa A da cédula de Cr$ 100.00 lançadas em circulação em 1970. (in, Dinheiro no Brasil, F. dos Santos Trigueiros, Leo Cristiano Editorial, 2a edição, 1987, p.168-169).



Reverso da cédula de 5 colones da Costa Rica (P.238e) de 1992, "Alegoria do Teatro Nacional, J. Villa, 1897", produzida pela Thomas de La Rue & Company. (clique para ampliar)

Frederic Sondern, Jr.
(Condensado de “The Finacial Times”)
Thomas De La Rue & Co. - impressores mundiais de papel-moeda - vivem empenhados numa batalha de Sagacidade com falsários e outras pessoas que conspiram contra o seu produto.
“Nos Arredores de Leeds, no norte da Inglaterra, existe um grande edifício de tijolos que é guardado tão rigorosamente como qualquer instalação nuclear ou de teleguiados. Nenhuma pessoa ou embrulho entra ou sai dali sem meticuloso exame. Há guardas por toda a parte. Caminhões que parecem veículos comerciais comuns saem periodicamente dos seus portões. Não há blindagem nem guardas armados nos caminhões. Mas cada um deles raramente fica longe das vistas dos carros de polícia que também não chamam a atenção e que patrulham o seu caminho. A carga dos caminhões consiste em pesadas caixas revestidas de metal, cujo destino pode ser Berna, Aqaba, Caracas ou Bancoc. Cada caixa leva uma fortuna, freqüentemente vultosa - talvez em francos suíços, em dinares da Jordânia, em bolívares da Venezuela ou em ticais da Tailândia. Todos eles acabaram de ser impressos por Thomas De La Rue & Co., um dos maiores impressores de papel-moeda do mundo. Dos portões de De La Rue saem semanalmente cerca de 20 milhões de notas para governos do mundo inteiro. Uma vez que a divisão de notas da firma desenha, grava e imprime o dinheiro de 92 países, os seus desenhistas devem ser versáteis de maneira a satisfazer o gosto variável dos tesouros e dos bancos nacionais. Os suíços, por exemplo, apreciam um desenho sóbrio, simples, de preferência moderno, para as suas notas. O Irã quer um desenho extremamente complicado, que lembra um tapete persa. A Nova Zelândia pede motivos maoris. O Camboja se especializa em dançarinas. Muitos países latino-americanos preferem notas que mostrem os retratos dos presidentes, as armas nacionais e os edifícios públicos. Depois que o desenho colorido de uma nova nota é submetido à apreciação de um governo, e aprovado, passa às mãos dos gravadores. Há apenas uns 100 gravadores no mundo com perícia suficiente para fazer chapas de notas de superior qualidade. Desses, 20 estão com De La Rue. Artífices meticulosos, eles são de temperamento muito parecido - calmos, agradáveis e dotados de infinita paciência. Dedicam-se à tarefa de reproduzir um desenho no aço com toda a exatidão. Prima - donas à sua maneira, não podem ser apressados nem perturbados. As mesas de trabalho na grande sala de gravação, agradavelmente decorada, são bem separadas umas das outras, e não é raro ver-se um gravador a olhar vagamente por uma janela ou a andar de um lado para outro de cachimbo aceso, talvez pensando na melhor maneira de produzir o efeito de uma vela enfunada ou de uma montanha espetacular. Os desenhos complexos não têm valor apenas estético. Ajudam a confundir os falsários. Assim também o faz o torno geométrico. Essa máquina de cortar, extremamente complexa, grava numa chapa os complicados círculos, volutas e laços em geral usados nas margens das notas. Não há mão humana capaz de produzir sequer um fac-símile razoável. Além disso, um torno geométrico não pode copiar o trabalho feito por outro, salvo se quem o fizer funcionar tiver a f6rmula do original e ajustar de acordo com ela o seu labirinto de engrenagens e excêntricos. Esses tomos custam 16.000 libras, só são vendidos aos impressores de boa reputação e são cuidadosamente guardados. Há duas outras características numa nota bem, feita que nem mesmo um falsário com o melhor aparelho de reprodução fotográfica pode imitar a tinta e o papel. As tintas inimitáveis da Companhia De La Rue, preparadas segundo fórmulas secretas, são famosas há muitos decênios. Só três firmas no mundo ocidental fabricam o papel peculiarmente duro e inteiramente feito de trapos com a consistência estralejante de uma autêntica cédula. Essas firmas são: Crane, que é a fornecedora do Tesouro dos Estados Unidos; Portals, na Inglaterra, que fornece o papel à De La Rue, e o Office Français des Papiers Surfins et Fiduciaires, de Paris, que abastece o Banco da França. Todas as folhas fabricadas são contadas e escrituradas até ao último centímetro quadrado. Muitos são os governos que acrescentam ao papel outra característica de segurança a filigrana. Ninguém descobriu ainda um meio realmente satisfatório de falsificar uma filigrana. Apesar disso, a eterna batalha entre o impressor e o falsário continua. “É sempre a nossa sagacidade contra a deles”, diz um dos “delaruvianos”, como eles se chamam. A companhia tem alguns artifícios difíceis de superar. Um deles é o “fio de segurança”, um fino fio de matéria plástica que se insere no papel por ocasião da fabricação. Os moedeiros falsos imitam esse fio imprimindo em lugar dele uma linha estreita. Mas é fácil identificar a nota falsa, bastando para isso passar a unha sobre ela. Por outro lado, com o fio de segurança, é possível agora para os bancos examinarem com rapidez centenas de notas por meio de uma máquina que automaticamente separa as falsas. A precisão cada vez maior dos métodos de reprodução fotográfica tem dado muitas dores de cabeça aos homens da De La Rue. Uma das principais providências que tomaram em sua defesa foi o emprego de uma série de delicados tons claros que as melhores máquinas de fotografia a cores não podem reproduzir exatamente, mas que podem ser distinguidos até pela vista de um leigo. Entretanto, a maior contribuição da Companhia De La Rue para a fabricação de notas consiste nas suas incomparáveis máquinas de impressão. No Banco da Inglaterra, algumas notas inglesas são impressas em máquinas da De La Rue e há dois anos nove dessas máquinas foram instaladas na Oficina de Gravura e Impressão de Washington, nos Estados Unidos. Até há pouco tempo era necessário umedecer o papel das notas antes da impressão, em virtude da sua extraordinária dureza. Isso freqüentemente apresentava inconvenientes: quando o papel impresso secava, era freqüente as linhas saírem ligeiramente deformadas. Mas as prensas da De La Rue imprimem com tal pressão e exatidão que já não é necessário umedecer o papel, e todas as folhas saem absolutamente perfeitas à razão de 2.500 por hora. Isso teve uma importância particular para o Tesouro dos Estados Unidos pelo fato de ele tradicionalmente não empregar filigranas nem tintas especiais, dependendo da absoluta precisão e clareza da impressão. A Casa De La Rue foi fundada em 1813 por um impressor de múltiplas aptidões e imensamente engenhoso, Thomas De La Rue, que se especializou na impressão de papel de cartas em relevo e em cartas de jogar. Quando os selos postais começaram a ser usados na Inglaterra, dedicou-se a eles e durante 30 anos teve o contrato exclusivo da impressão de todos os selos ingleses. Começaram então a chegar numerosas encomendas de selos de outros países. No começo do século, a enorme expansão mundial da indústria e do comércio produziu uma repentina procura do papel-moeda para substituir o ouro e a prata, mais difíceis de manusear. Alguns países tentaram imprimir o seu dinheiro e se viram desastrosamente às voltas com os falsários. Em toda a parte havia muito poucas pessoas com a aptidão técnico - artística, o conhecimento mecânico e as máquinas complicadas e caras necessárias para fazer notas relativamente garantidas contra os moedeiros falsos. Quando, em 1901, o Governo da Tailândia pediu ao Banco da Inglaterra que lhe imprimisse o dinheiro, o Banco se escusou, mas sugeriu De La Rue. E foi assim que começou a grande indústria de notas. Talvez o mais duro golpe já sofrido pelo mundo da impressão de notas tenha sido - coisa que pode tornar a acontecer a falsificação da moeda de um governo por outro durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas organizaram um plano para descontrolar o sistema monetário britânico por meio da introdução furtiva de notas de cinco libras no Reino Unido e espalhando-as pelo mundo. As falsificações eram tão boas que enganaram até os peritos. Felizmente para a Inglaterra, a guerra acabou antes que uma quantidade considerável dessas notas pudesse ser distribuída. Pensou-se durante muito tempo que as chapas das notas de cinco libras dos nazistas tinham sido jogadas por homens das tropas de assalto em fuga num lago das montanhas na Áustria; recentemente maços de notas falsificadas do Banco da Inglaterra foram retirados do Lago Töplitz. Os detalhes do plano nazista são ainda um segredo sigilosamente guardado. Mas, ha cerca de três anos, o Banco da Inglaterra começou a por em circulação notas de cinco libras de espécie inteiramente nova. "O povo a princípio não gostou da mudança", disse um funcionário do Banco. "Tivéramos durante tanto tempo as notas velhas e bem conhecidas. Alas era preciso." Nada mais disse. As novas notas de cinco incorporam todos os progressos mais recentes - tons claros, fios de segurança, saliências no papel sensíveis ao tato e outras características secretas, inclusive tintas e papel que agem eletronicamente de maneira especial. Muitas dessas coisas foram inovações da De La Rue. -Acreditamos que continuaremos a dar muito trabalho aos falsários, tanto particulares como de algum governo, se houver necessidade - diz um delaruviano. (in, Seleções do Reader’s Digest, Tomo XXXVII, nº 217, Fevereiro de 1960, Editora Ypiranga S.A, Rio de Janeiro, p. 73 a 77).



Antigas cartas de baralho produzidas pela Thomas de La Rue & Company.

Veja um vídeo sobre a Thomas de La Rue e um  artigo sobre a empresa Bradbury Wilkinson que foi comprada pela De La Rue.

Autor: Marcio R. Sandoval
email: sterlingnumismatic@hotmail.com
© 2010 Marcio Rovere Sandoval