O Meio Circulante na Mudança da Unidade Monetária
(do Mil-réis para o Cruzeiro em 1942)
© 1999 Marcio Rovere Sandoval
Fig. 1 – Detalhe do
reverso do bilhete de 200$000 réis (1923- 1955), do Banco do Brasil “Vista do Pão de Açucar” no
Rio de Janeiro.
Com
a instituição do Cruzeiro como unidade monetária nacional através do Decreto-lei
nº 4.791 de 5 de outubro de 1942, o antigo numerário permaneceu em circulação
por mais de uma década convivendo com as cédulas do novo padrão. Este assunto é
freqüentemente motivo de discussões entre os numismatas. Afinal, quais e
quantos eram os tipos de cédulas em circulação do antigo padrão, o Mil-réis, na
ocasião do advento da nova unidade monetária, o Cruzeiro, em 1942?
Em
pesquisa sobre a matéria encontramos subsídios no excelente livro de F. dos
Santos Trigueiros, Dinheiro no Brasil,
editada pela primeira vez em 1966, em comemoração ao primeiro aniversário do
então Banco Central da República do
Brasil (atual Banco Central do Brasil), vejamos os seus apontamentos:
“Quando a
nova unidade surgiu, tínhamos em circulação cinqüenta e seis tipos de notas,
sendo 35 do Tesouro Nacional, 14 do Banco do Brasil e 7 da extinta Caixa de
Estabilização. A quantidade de cédulas atingia o número de 103.796.780
unidades, representando os valores seguintes:
4.941.583.910$000
em notas do Tesouro Nacional
12.430.280$000 em notas da Caixa de
Estabilização
231.117.320$000 em notas do Banco do Brasil”
(in,
Dinheiro no Brasil, F. dos Santos Trigueiros, Ed. Reper, 1966, p. 131)
Através
destes dados recorremos a catálogos e outras publicações para verificarmos
quais os tipos de cédulas estavam em circulação naquela época e que continuaram
por algum tempo convivendo com as cédulas do novo padrão monetário.
As
35 cédulas do Tesouro Nacional, as 7 cédulas da antiga Caixa de Estabilização e
as 14 cédulas do Banco do Brasil mencionadas por Trigueiros são
respectivamente:
Tesouro
Nacional (cédulas por ordem de emissão e de valor)
1. 20$000 réis (1911 - 1950) - 13ª estampa - ABNCo. (R116;
P.45) [1]
4. 50$000 réis (1915 - 1950) - 13ª estampa - CPM (R126;
P.55)
6. 200$000 réis (1916 - 1950) - 13ª estampa - CPM (R149; P.78)
8. 2$000 réis (1918 - 1950) - 11ª estampa - ABNCo.
(R084; P.13)
16. 1$000 réis (1920 - 1950) - 11ª estampa - CMB (R78;
P.7)
17. 2$000 réis (1920 - 1950) - 13ª estampa - CMB (R086;
P.15)
18. 1$000 réis (1921 - 1950) - 12ª estampa - CMB (R079;
P.8)
19. 2$000 réis (1921 - 1950) - 14ª estampa - CMB (R087;
P.16)
20. 1:000$000 réis (1921 - 1950) - 1ª estampa - CMB (R164; P.93)
21. 1$000 réis (1923 - 1950) - 13ª estampa - CMB (R080;
P.9)
22. 2$000 réis (1923 - 1950) - 15ª estampa - CMB (R088;
P.17)
23.
50$000 réis (1923 - 1949) - 15ª estampa - CMB (R128; P.57)
25.
10$000 réis (1924 - 1949) - 16ª estampa - CMB (R109; P.38)
26. 10$000 réis (1924 - 1955) - 17ª estampa - ABNCo. (R110; P.39)
27. 20$000 réis (1924 - 1955) - 16ª estampa - ABNCo. (R119; P.48)
28. 50$000 réis (1924 - 1949) - 16ª estampa - ABNCo. (R129; P.58)
29. 100$000 réis (1924 - 1953) - 16ª estampa- ABNCO. (R141; P.70)
30. 200$000 réis (1924 - 1955) - 16ª estampa- ABNCO. (R152; P.81)
27. 20$000 réis (1924 - 1955) - 16ª estampa - ABNCo. (R119; P.48)
28. 50$000 réis (1924 - 1949) - 16ª estampa - ABNCo. (R129; P.58)
29. 100$000 réis (1924 - 1953) - 16ª estampa- ABNCO. (R141; P.70)
30. 200$000 réis (1924 - 1955) - 16ª estampa- ABNCO. (R152; P.81)
34. 100$000 réis (1936 - 1952) - 17ª estampa - W&S (R142;
P.71)
35. 200$000 réis (1936 - 1952) - 17ª estampa
- W&S (R130; P.59)
(Clique para ver as imagens)
(Clique para ver as imagens)
[1] Após a indicação do valor temos: o período de circulação, a estampa
seguida das iniciais das empresas impressoras (ABNCo. - American Bank Note Company; CMB - Casa da Moeda do Brasil; CPM - Cartiere P. Milani e W&S - Walterlow & Sons limited), o número
da cédula atribuído pelos catálogos brasileiros e internacional (não foram
indicadas as variações nas estampas).
Fig. 3 – Anverso da cédula de 500$000 réis (1925-1950) do Tesouro Nacional da 14ª Estampa - ABNCo.
Caixa de
Estabilização
Banco do
Brasil
Além
dos 56 tipos de notas mencionadas por Trigueiros temos ainda as cédulas da
Caixa de Estabilização, aproveitas do Tesouro Nacional, com superimpressão onde
se lê: “A CAIXA DE ESTABILIZAÇÃO pagará ao portador, à vista, no Rio de
Janeiro, em ouro, conforme a Lei nº 5108, de 18 de dezembro de 1926, a quantia de (...)
VALOR RECEBIDO EM OURO”.
Estas
cédulas foram desmonetizadas apenas em 1951, juntamente com as cédulas próprias
da Caixa de Estabilização acima mencionadas e provavelmente não foram incluídas
nas 56 estampas mencionadas por Trigueiros por terem sido aproveitadas das
cédulas do Tesouro Nacional, sendo da mesma estampa daquelas.
A
Caixa de Estabilização não logrou êxito e em 1930 encerrou suas atividades,
sendo que o Banco do Brasil ficou responsável pelo recolhimento das cédulas que
foram trocadas com ágio até 1951, portanto, ainda em curso na época da reforma
do padrão monetário, em 1942.
Fig.4 – Anverso da cédula de 50$000
réis (192 -1951)da Caixa de Estabilização, da 1ª Estampa - ABNCo.
Fig. 5 – Anverso da cédula de 1.000$000 réis (1923-1955) do Banco do Brasil, da 1ª Estampa –
ABNCo.
Apesar
da opinião abalizada de Trigueiros acreditamos que estas cédulas podem ser
somadas aos 56 tipos existente, seriam, assim, 62 tipos, eis que apesar de
serem da mesma estampa das do Tesouro Nacional e apresentarem os mesmos
valores, foram emitidas por órgãos diversos e apresentam superimpressão, que as
tornam tipos diferentes. Tanto isto é verdade que apresentam numeração
diferenciada nos catálogos de cédulas, vejamos:
Caixa de
Estabilização (com superimpressão)
1.
10$000 (1926 - 1951) - 17ª estampa - ABNCo. (R178; P.109A)
2.
20$000 (1926 - 1951) - 16ª estampa - ABNCo. (R179; P.109B)
3.
50$000 (1926 - 1951) - 16ª estampa - ABNCo. (R180; P.109C)
4. 100$000 (1926 - 1951) - 16ª estampa –
ABNCo. (R181; P.109D)
5. 200$000 (1926 - 1951) - 16ª estampa
- ABNCo. (R182; P.109E)
6. 500$000 (1926 - 1951) - 14ª estampa
- ABNCo. (R183; P.109F)
Fig. 6 – Anverso da cédula de 20$000 réis (1926-1951) da 16ª Estampa –
ABNCo, com superimpressão da Caixa de Estabilização.
Assim,
com o advento do Cruzeiro em 1942, o nosso meio circulante era composto de 62
tipos de cédulas e a partir do mesmo ano foram incluídas ainda as cédulas com
superimpressão aproveitadas do Tesouro Nacional (hoje de grande interesse
numismático) e a partir de 1943 as cédulas do novo padrão, que serão objetivo
de outras anotações.
As
cédulas do padrão mil réis perderam totalmente o valor apenas em 6 de setembro
de 1955, convivendo um bom tempo com as cédulas do novo padrão e sendo com elas
compatíveis, eis que, passaram a valer na razão de 1$000 para Cr$ 1,00.
Referências Bibliográficas
- Catálogo do
papel-moeda do Brasil 1771-1986, emissões oficiais, bancárias e regionais.
Violo Idolo Lissa, Brasília, Editora Gráfica Brasiliense, 3ª edição, 1987.
- Catálogo
Vieira – Cédulas Brasileiras. Numismática Vieira, Rio de Janeiro, 1ª
edição, 1991.
- Cédulas do Brasil 1833
a 1997. Claudio Patrick Amato, Irlei Soares das
Neves, Julio Ernesto Schütz, 1ª edição, 1997.
- Cédulas do Brasil 1833
a 2011. Claudio Patrick Amato, Irlei Soares das
Neves, Julio Ernesto Schütz, 5ª edição, 2011.
- Cédulas Brasileiras da República, emissões do Tesouro Nacional.
Banco do Brasil S.A, Museu e Arquivo Histórico, Rio de Janeiro, 1965.
- Dinheiro no Brasil. F. dos Santos Trigueiros, Ed. Reper, 1966.
- Iconografia do
Meio Circulante, Banco Central do Brasil. 1972.
- Os
Bancos Centrais. Augusto F.R. Magalhães, Rio de Janeiro, A Casa do Livro,
1971.
Autor: Marcio R. Sandoval
E-mail:
sterlingnumismatic@hotmail.com
Blog: http://sterlingnumismatic.blogspot.ca
Publicado no Boletim da Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina (AFSC) n° 46, de setembro de 1999, p.17-22.
© 1999 Marcio R. Sandoval
Publicado no Boletim da Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina (AFSC) n° 46, de setembro de 1999, p.17-22.
© 1999 Marcio R. Sandoval